Considerada uma cultura prioritária em diversos países no mundo e bastante apreciada no dia-a-dia, o arroz (Oryza sativa) é uma importante fonte de carboidratos, proteínas e fibras. Compõe a chamada “casadinha”, feijão com arroz, presente em grande parte da dieta dos brasileiros.
Nos últimos anos, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em dados da série histórica da cultura, a produção de arroz no Brasil tem se mantido relativamente estável desde a safra 2015/16 (dados disponíveis). A safra 2016/17 foi a maior das últimas seis safras para a cultura, com produção de 11.09 milhões de toneladas.
Ao longo deste artigo, queremos trazer uma visão geral acerca desta planta, sua origem, principais formas de cultivo, informações gerais de manejo e mais algumas curiosidades. Continue conosco e boa leitura!
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Produção de arroz no Brasil nas últimas safras e expectativas futuras
Para a safra 2022/23, a previsão indica que serão colhidas pouco mais de 10 milhões de toneladas, o que representa queda de 7,2% em relação à safra anterior. Os preços, segundo dados disponibilizados pela Conab, tendem a operar em patamares superiores aos praticados no ano de 2022.
Enquanto a produção e área cultivada diminuíram sutilmente (beirando o limite do consumo, o que pode exigir importação do cereal), a produtividade da cultura nas últimas seis safras aumentou em 14,88% (comparação entre as safras 15/16 e 22/23), compensando as reduções de área cultivada.
Existem razões para essa redução, especialmente relacionadas aos fatores climáticos das últimas safras para a região Sul do país, principalmente Rio Grande do Sul (RS), responsável por 2/3 da produção.
Outra razão é a expansão da fronteira agrícola da cultura da soja, que passou a ser cultivada em rotação de culturas em lavouras de arroz de terras baixas (localizadas no RS).
Uma coisa, no entanto, é certa: não falta mercado para os produtores de arroz, haja vista o alto consumo no Brasil e também a possibilidade de exportação do grão, utilizado em quase todas as cozinhas ao redor do globo como fonte básica de carboidrato.
Qual a origem da cultura do arroz?
Quando falamos sobre a origem de uma planta cultivada há milênios pela humanidade, é um pouco custoso apontar o exato ponto de onde ela se originou. Contudo, para a maioria dos cientistas, o sudeste da Ásia (espécie Oryza rufipogon), é o berço dessa planta.
Alguns pesquisadores apontam a África ocidental (espécie Oryza barthii) e a Índia como possíveis pontos de partida do arroz até ganhar o mundo, sendo que ainda podem ser encontradas algumas espécies selvagens da planta nessas regiões. A produção da cultura é datada há mais de 3.000 a.C.
É provável que o arroz tenha sido a primeira planta a ser cultivada por humanos em campos na Ásia, sendo a base alimentar das culturas da região até os dias de hoje.
Conheça mais sobre a história do arroz no vídeo a seguir:
O arroz foi levado para a Europa pelos sarracenos, durante a ocupação do sul da Espanha e Portugal. Por sua vez, o Brasil recebeu a planta com a chegada dos portugueses.
Ainda em 1587, pouco tempo depois do início da ocupação portuguesa, já haviam lavouras de arroz em terras da Bahia, tendo se espalhado para o restante do país depois disso.
Hoje, os maiores estados produtores de arroz incluem Tocantins, Maranhão, Mato Grosso, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – representando quase 90% da produção nacional, com destaque maior para a região Sul.
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Quais as principais características do arroz?
O arroz cultivado para a alimentação é uma planta herbácea, da classe Liliopsida, ordem Poales, família Poaceae e do gênero Oryza.
Hoje no mundo, praticamente metade da população humana come arroz. O seu cultivo perde em toneladas produzidas apenas para o milho e o trigo.
O arroz é classificado como uma gramínea, com adaptação a locais alagados, ambiente aquático, conhecido como arroz irrigado, requerendo temperaturas consideradas altas, entre 20 a 35 ºC e radiação solar em altos níveis para poder expressar seu melhor potencial produtivo.
Por conta da necessidade de alta umidade, devido ser uma planta originária de locais alagados, em geral, seu cultivo é realizado por inundação nas chamadas “taipas“.
No entanto, também existe o arroz de sequeiro, um modelo de cultivo onde não se utiliza de áreas alagadas, mas demanda solos altamente úmidos, para permitir que haja disponibilidade de água ideal.
A produtividade do arroz inundado é maior que a do arroz de sequeiro, porém, os custos de manutenção e o consumo de água é maior.
Como é o ciclo do arroz?
Podemos dividir o ciclo produtivo do arroz em três fases distintas: plântula, fase vegetativa e reprodutiva. A duração de cada uma dessas fases pode variar de acordo com a região e o clima, o solo, o modelo de cultivo e também a época em que foi realizada a semeadura.
Em geral, o ciclo produtivo completo, do plantio até a colheita, pode variar entre 100 e 140 dias para a maioria das cultivares em sistema irrigado (em que as plantas são mantidas inundadas com uma lâmina de água). Já para as utilizadas em sistema de sequeiro, o ciclo pode variar entre 110 e 155 dias.
Para o arroz cultivado no estado do Rio Grande do Sul, as cultivares sob sistema de cultivo irrigado pode ser divididas em superprecoces (quando o ciclo tem duração inferior a 100 dias), precoces (com ciclo entre 110 e 120 dias) e semitardio (quando a duração é superior a 130 dias).
Plântula
Para germinar, a semente do arroz precisa absorver água em abundância (mais de 50% do seu peso seco). Quando em germinação, tanto a radícula quanto o coleóptilo podem emergir primeiro, de acordo com a quantidade de umidade no ambiente.
Vegetativo
Após a fase inicial, a planta busca desenvolver a sua estrutura foliar. Leva cerca de quatro a cinco semanas para que a formação de todas as folhas esteja completa. Aqui é importante observar que a quantidade de folhas depende da cultivar escolhida e da época da semeadura.
Reprodutivo
Ao final da fase vegetativa, temos o período reprodutivo, momento crítico para a planta e para a produtividade da lavoura, uma vez que estresses hídricos ou temperaturas mais baixas, inferiores a 17ºC, podem impactar de maneira negativa o enchimento dos grãos.
Em cerca de 30 a 40 dias, temos o enchimento dos grãos, que começa com aspecto leitoso, passando a pastoso, e por fim finalizam como grãos em massa, ao atingirem a maturidade. A colheita pode ser realizada de maneira mecanizada, assim que os grãos apresentarem umidade inferior a 22%.
Como é o cultivo?
Atualmente, no Brasil, temos dois modelos simples de cultivo de arroz: o irrigado (ou inundação) e o sequeiro.
O mais utilizado e que garante maior produtividade das plantas é o arroz irrigado, uma vez que as plantas são originárias de locais alagados e se adaptam melhor a esse sistema. Hoje, quase 80% das lavouras brasileiras utilizam esse sistema.
O solo é trabalhado para se manter plano para a construção das taipas, bombeando água para dentro desse sistema, mantendo o arroz inundado durante todo o ciclo, drenando essa água apenas para a colheita dos grãos ao final. Para isso, é preciso investir na terraplanagem do solo, construção das taipas, bombas de água e maquinário específico.
Na imagem a seguir, é possível visualizar como o manejo da água pode ser realizado em sistema de cultivo irrigado. É importante observar que o controle de daninhas, por exemplo, pode ser realizado com o auxílio da lâmina de água. Além disso, a drenagem da área é realizada para a colheita ao final do período de maturação da cultura.
Já para o arroz de sequeiro, é necessário apenas que o local seja bem irrigado, ou que haja bastante umidade no solo, sendo cultivado geralmente em rotação de culturas.
Como acertar no cultivo de arroz?
São vários os aspectos que devem ser considerados para acertar na plantação de arroz.
Entre os pontos a serem analisados temos a localização geográfica, tendo como preferência locais planos, para evitar altos custos de terraplanagem, e próximo de rios ou lagos, já que a cultura tem um alto consumo de água. É importante lembrar ainda, que a captação de água desses locais necessita de licenciamento ambiental, e que a captação ilegal é proibida, podendo gerar penalização.
O solo também é um ponto fundamental, sendo necessário buscar uma área com boa fertilidade e matéria orgânica. Em alguns casos, é necessário realizar a correção de pH do solo, além de realizar um controle de ervas daninhas, algo comum na cultura.
Tanto a correção do pH, como da fertilidade do solo, devem ser realizadas baseadas em uma análise de solo do local de cultivo, bem como com frequência recomendada de acordo com as necessidades do local. Para isso, é indispensável consultar um profissional.
É importante lembrar que para uma boa produtividade, é necessário que o solo possua uma boa fertilidade, e que as plantas retiram por meio da sua produção esses nutrientes durante as safras, sendo necessário a sua reposição.
Como já foi dito, a temperatura também é um ponto crítico. O arroz é uma planta que não suporta bem temperaturas baixas, deixando de produzir. Em alguns casos, em situações extremas, o frio pode até mesmo levar à morte da cultura.
A faixa de temperatura favorável ao cultivo gira em torno de 20ºC e 35ºC. Para uma boa germinação e consequentemente emergência das plantas, a cultura exige temperaturas crescentes, até a fase de floração. Após, temperaturas mais amenas são favoráveis (desde que não sejam baixas).
Como deve ser feita a colheita?
A colheita deve ser realizada quando os grãos atingem o grau de umidade ou teor de água ideal, ou seja, quando cerca de dois terços do arroz nas espigas estão maduros. Isso pode ser visualizado facilmente por conta da coloração amarelada do campo.
A maturidade também pode ser analisada com base na umidade dos grãos, que deve estar, idealmente, entre 18% e 22%, para evitar a colheita de grãos muito úmidos, já que podem apodrecer ou sofrer a incidência de pragas.
Além disso, a colheita com alto teor de água nos grãos exige que o produto colhido seja submetido imediatamente a secagem em secador, para evitar que os grãos amareleçam.
Quando se trata de arroz irrigado, todo o manejo da planta é feito com maquinário especial, para adentrar a área inundada sem prejudicar as plantas. Conheça mais detalhes na nossa matéria: Maquinários utilizados na produção mecanizada de arroz. Já para o arroz de sequeiro, as máquinas agrícolas não exigem adaptação.
Quais as condições ideais de clima?
O arroz é uma planta que exige calor e umidade, contudo, quando falamos em clima, a planta tem uma grande amplitude de cultivo, podendo ser cultivada desde regiões temperadas e tropicais. Já uma temperatura ideal seria cerca de 30ºC, como falamos anteriormente.
Esse clima pode ser alcançado em praticamente toda a extensão territorial do Brasil, desde que o plantio do arroz seja realizado em meses quentes, onde essa temperatura é facilmente alcançada e não há a incidência de dias frios.
Quando se trata de arroz irrigado, não existe uma demanda por chuvas, já que se utiliza de irrigação e bombas de água para manter as plantas inundadas durante todo o ciclo produtivo. Contudo, o arroz de sequeiro precisa de um clima chuvoso, buscando suprir a demanda de água da planta. Ou seja, para o cultivo no sistema de sequeiro, é necessário contar com um clima quente e chuvoso, visando oferecer o melhor cenário para o desenvolvimento completo da planta.
Para a germinação, as temperaturas consideradas ótimas variam entre 30ºC e 33ºC. Para a floração e maturação final, no entanto, as temperaturas devem ser mais amenas, entre 20ºC a 25ºC .
Lembrando que, dias frios, com temperaturas abaixo dos 20º C, são altamente prejudiciais para o cultivo do arroz, principalmente na fase de enchimento dos grãos, tendo um impacto negativo na produtividade da planta.
Se você cultivar arroz, é preciso ficar atento às melhores épocas de semeadura, uma vez que do início de outubro até o final de novembro são consideradas épocas favoráveis ao cultivo, e onde os melhores resultados produtivos são obtidos (quando as condições durante todo o ciclo da cultura são favoráveis).
Dessa maneira, é perceptível o porquê a cultura tem perdido suas áreas de cultivo, tendo em vista que a melhor época coincide com o mesmo período em que a soja é cultivada.
No entanto, o futuro do cultivo do arroz parece promissor, uma vez que espera-se que em 10 anos, o Brasil seja um dos principais produtores do grão.
Esperamos que as informações disponibilizadas possam auxiliar você não só a compreender melhor essa cultura tão presente no nosso dia-a-dia, como também a realizar o seu manejo.
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Para complementar a leitura, confira também: Principais doenças do arroz: identificação, sintomas e controle