O período de inverno chegou ao Brasil, e com ele a preocupação para a piscicultura. As baixas temperaturas do ar, e consequentemente, da água, causam extremo impacto nas atividades aquícolas.
Sabe-se que os peixes são animais ectotérmicos (ou exotérmicos), ou seja, não apresentam a capacidade de regular a sua temperatura corporal.
Sendo assim, em condições de baixas temperaturas da água, os peixes diminuem o seu metabolismo, e consequentemente, tendem a consumir uma quantidade menor de ração, e apresentam redução das taxas de reprodução e crescimento.
Neste sentido, é essencial que o piscicultor adote medidas preventivas a fim de minimizar os efeitos da baixa temperatura, adequando o manejo com o objetivo de promover uma melhor condição de saúde e bem-estar aos peixes.
Tendo em vista que o controle de temperatura da água de tanques e viveiros de cultivo é um processo complexo e inviável economicamente, o produtor deve concentrar seus esforços em ações mais simples, como o controle da alimentação, densidade de animais e monitoramento dos parâmetros de qualidade de água.
No caso de viveiros escavados, a atual redução da oferta de água proveniente das chuvas também é um agravador da saúde dos peixes no período de inverno, uma vez que a menor renovação de água compromete sua qualidade.
Cuidados devem começar antes do inverno
Importante salientar que os cuidados devem começar antes mesmo da chegada do inverno, ainda no verão, com o fornecimento de uma dieta adequada e de qualidade. Peixes bem nutridos apresentam um sistema imune mais preparado para enfrentar o desafio do estresse causado pelas baixas temperaturas.
A suplementação das rações com aditivos, como os imunoestimulantes, aminoácidos, fitogênicos, probióticos e prebióticos, é uma boa alternativa para contornar este problema.
Estas substâncias promovem aumento da imunidade dos animais, antes que eles passem pelo período de estresse. Porém o seu uso deve ser criterioso e com acompanhamento técnico especializado, para que se consiga atingir os resultados desejados.
Um correto manejo alimentar durante o inverno é fundamental. A observação do consumo e sobras de ração nos tanques é essencial ao longo de todo o período de produção, inclusive no inverno.
O excesso de matéria orgânica na água deteriora a qualidade de água, além de favorecer o aparecimento de doenças. Em situações de inverno rigoroso, é recomendável até mesmo a suspensão do fornecimento de ração.
É altamente recomendável que práticas de manejo que envolvam o manuseio dos peixes, como a despesca, biometrias e transporte sejam evitadas no inverno. Assim, impede-se que os peixes sejam expostos a outros estressores, que não os naturais já característicos deste período.
Uso estratégico do sal
Outra ação preventiva que pode ser realizada para controlar a mortalidade e o surgimento de doenças, como bacterioses e fungos, é a utilização de sal comum.
O sal estimula a produção de muco pelos peixes, que constitui um mecanismo de defesa contra microrganismos invasores, além de reduzir a agitação, e consequentemente, o estresse destes animais.
Entretanto, a eficácia do uso de sal está diretamente relacionada ao seu uso de maneira adequada, considerando uma dosagem que seja compatível com a tolerância da espécie produzida e da fase de desenvolvimento dos peixes.
A utilização de quantidades inadequadas de sal na água podem ocasionar um efeito contrário, com o aumento do estresse, redução das taxas de crescimento, reprodução e sobrevivência dos animais.
Portanto, o produtor deve buscar a orientação de um profissional da área para ter o conhecimento da quantidade correta a ser aplicada.
Tolerância à temperatura depende da espécie de peixe
Um grande número de espécies de peixes é produzida no Brasil e cada uma apresenta uma faixa ótima de temperatura de água para um crescimento e desenvolvimento adequado.
De maneira geral, espécies como salmão e truta, vivem naturalmente em águas com temperatura em torno de 10ºC. Já as tilápias apresentam um melhor desempenho em temperaturas da água variando de 26º a 30ºC.
As espécies nativas da Bacia Amazônica apresentam zona de conforto na faixa de temperatura entre 25 C a 32 °C. Sabe-se que nestas regiões os peixes não enfrentam grandes variações de temperatura da água, como é frequentemente observado nos peixes criados nas regiões sul e sudeste, por exemplo.
Assim, além da temperatura adequada para cada espécie de peixe, deve ser considerada a adaptação e tolerância às variações de temperatura de cada espécie de peixe produzida.
Prevenir continua sendo o melhor remédio
Em uma atividade aquícola, a prevenção ainda é a forma mais efetiva para se evitar os prejuízos econômicos relativos às baixas temperaturas. O clima da região e a previsão do tempo devem ser consideradas durante o planejamento e práticas de manejo dos peixes.
O planejamento deve ser realizado antes mesmo da implantação da atividade, com a correta estruturação da propriedade, já prevendo situações extremas como escassez hídrica, inundações e variações de temperatura de cada região.
Para isso, é fundamental a realização de estudos de caracterização e o monitoramento dos recursos hídricos.
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