Conheça o jatobá, seus benefícios e como plantá-lo

Conheça o jatobá, seus benefícios e como plantá-lo

O jatobá é o fruto do jatobazeiro, espécie nativa da região amazônica, muito conhecida pela sua produção madeireira, já que apresenta alta qualidade e resistência, sendo bastante utilizada na construção civil. No entanto, além disso, os usos da planta são vastos, apresentando propriedades medicinais, paisagísticas e culinárias.

Trata-se de uma planta que tem suas diversas partes aproveitadas: resina, sementes, seiva, polpa e até mesmo a casca. A própria árvore também é utilizada no reflorestamento, já que consegue se desenvolver bem em áreas de erosão e em solos secos e não produtivos.

Nesse post trataremos mais sobre o jatobá, suas características, utilidades e como plantá-lo e cultivá-lo com êxito. Boa leitura!

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Aspectos gerais do jatobá

Pertencente à família Fabaceae e à subfamília Caesalpinioideae, o jatobá (Hymenaea courbaril L.) recebe dezenas de nomes, principalmente na região amazônica da qual é originário, como jataí, farinheira, quebra-facão, jataíba, entre outros. Hymenaea vem do grego e faz referência aos dois folíolos pareados da folha, já o nome jatobá tem origem tupi e significa “árvore do fruto duro”.

Frutos de jatobá com metade da casca quebrada, mostrando a polpa.
Com a sua tradicional casca dura, o jatobá possui uma polpa com sabor adocicado e muito aproveitada na culinária.

Nativo da América Tropical e originário do México e das Antilhas, o jatobá tem ocorrência confirmada no Brasil nas regiões Norte (AC, AM, AP, PA, RO, RR, TO), Nordeste (AL, BA, CE, MA, PB, PE, PI, RN, SE), Centro-Oeste (DF, Goiás, MS, MT), Sudeste (ES, MG, RJ, SP) e Sul (PR).

Das 15 espécies do gênero Hymenaea existentes, 13 delas têm ocorrência no Brasil. O jatobá (Hymenaea courbaril L.) é considerado uma espécie polimórfica, com seis variedades: courbaril, villosa, altissima, longifolia, stilbocarpa e subsessilis.

Utilização do jatobá

O jatobá é muito conhecido por sua utilização na alimentação humana, já que apresenta polpa bastante saborosa e apreciada principalmente pelas populações rurais, sendo consumida tanto in natura, quanto em forma de geleias, licores, farinhas para bolo, pães e mingaus. Porém, essa planta também apresenta outras finalidades, como:

  • Apícola: o jatobá apresenta potencial melífero;
  • Energética: produz lenha e carvão de boa qualidade;
  • Madeireira: a madeira dessa espécie é muito utilizada na construção civil e naval, serralherias e em marcenaria;
  • Medicinal: a polpa, a casca do caule e a resina da planta são utilizadas com fim medicinal, servindo como laxantes, no preparo de chás ou xaropes para tosse e em tratamentos de queimaduras (falaremos com mais detalhes em tópico próprio);
Flor de jatobá de coloração branca com a presença de abelhas jataí.
As flores do jatobá atraem as abelhas jataí que produzem um mel medicinal muito utilizado no tratamento de problemas respiratórios.
  • Paisagística: trata-se de uma árvore ornamental bastante utilizada na arborização urbana;
  • Reflorestamento: a espécie é muito indicada para a recuperação e restauração ambiental por ser muito procurada pela fauna.

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Características do jatobá

Trata-se de uma árvore semicaducifólia, com 8 a 15 metros de altura e 40 a 80 cm de diâmetro, podendo alcançar até 20 metros nas matas do Brasil Central. Possui tronco reto e cilíndrico, copa arredondada com folhagem densa e ramificação racemosa.

Sua casca apresenta espessura de até 10 mm, com coloração interna cinza-clara e casca interna rosada com exsudação de resina cor de vinho. As suas folhas têm dimensões de 6 a 14 cm de comprimento e 3 a 5 cm de largura. São alternas, compostas e coriáceas, com folíolos brilhantes de bases desiguais.

Além disso, possuem, em média, 14 flores reunidas em inflorescências racemosas, com coloração branca a bege. Seus frutos apresentam vagem lenhosa, cilíndrica, dura e de coloração marrom-brilhante. Internamente são revestidos por polpa carnosa, farinácea e com aroma adocicado característico. Medem cerca de 9 a 17 cm de comprimento e contém de 2 a 8 sementes cor de vinho e ovaladas, com 2 cm de diâmetro cada.

Fruto de jatobá ainda verde em galho com folhas parcialmente marrons.
O jatobá é polinizado principalmente por morcegos, e a sua floração e frutificação variam de acordo com o estado.

O jatobá é uma espécie monoica (planta hermafrodita), apresentando autoincompatibilidade reprodutiva. É polinizada principalmente por morcegos e tem períodos de floração e frutificação diferentes a depender do estado. As árvores chegam a produzir mais de 100 vagens, mas nem todas apresentam produção em um dado ano.

Quanto à dispersão de sementes, esta ocorre por grandes mamíferos, como a paca e a anta, e, ao passarem pelo trato digestivo desses animais, superam a fase de dormência. Em alguns lugares, a dispersão se dá apenas pela força da gravidade, como é caso de muitas ilhas no Caribe.

Condições ideais de plantio

O jatobá ocorre naturalmente em regiões com temperatura média anual de 22°C a 28°C e em altitudes de 40 a 900 metros. A precipitação média anual é de 1000 a 2000 mm, com chuvas concentradas no verão ou no inverno e estação seca de, no máximo, 5 meses, sendo uma planta bastante resistente.

Quanto aos solos, assim como a maioria das espécies de madeira dura, desenvolve-se bem em solos profundos, férteis, úmidos e bem drenados. Apesar de crescerem em quaisquer texturas de solos, apresenta melhor desenvolvimento em solos arenosos e com pH entre 5,5 e 7,5. Entretanto, nada impede que o plantio seja feito em áreas com erosão, em solos secos e de pouca fertilidade.

Como plantar jatobá

Para a produção de mudas, as sementes podem ser coletadas de frutos caídos de árvores, extraindo-as por meio da utilização de um martelo ou marreta para a quebra do fruto. Após a retirada das sementes, é preciso lavá-las em água para a remoção total da polpa e eliminação daquelas que apresentem perfurações ou estejam danificadas.

Feito esse processo, será necessário fazer um tratamento para a superação da dormência das sementes, já que a impermeabilidade do tegumento dificulta a sua germinação. Para isso, existem alguns métodos que podem ser utilizados, como:

  • Escarificação com ácido sulfúrico concentrado por 30 minutos;
  • Escarificação em ácido sulfúrico por 35 minutos, seguida de lavagem em água corrente e imersão em água a temperatura ambiente por 12 horas;
  • Lixar as sementes até que percam o brilho natural e fiquem com aspecto poroso, logo em seguida fazer a imersão em água por um período de 10 dias;
  • Escarificação mecânica na região próxima ao embrião com abrasivo;
  • Escarificação apical tratada com fungicida;
  • Imersão em água em temperatura ambiente por 7 a 10 dias.

As sementes apresentam alto potencial de armazenamento em câmaras frias (5ºC a 6ºC), podendo, inclusive, aumentar a sua porcentagem de germinação em períodos de até 260 dias.

Para a semeadura recomenda-se o uso de saco de polietileno com dimensões mínimas entre 22 cm de altura e 10 cm de diâmetro, ou um tubete de polipropileno grande ou mesmo diretamente no campo. Caso seja necessária, a repicagem deve ser feita de 1 a 2 semanas após a germinação.

Detalhes de folhas, botões
florais e frutos do jatobá.
As sementes destinadas a produção de mudas são extraídas do fruto já maduro e que caiu no solo. Porém antes precisam ser tratadas. Foto: Iracema Cordeiro.

A germinação do jatobá ocorre, geralmente, entre 12 e 60 dias após a semeadura, apresentando taxa de 98% quando superada a dormência. No entanto, sementes que não passam pelo tratamento levam até 10 meses para germinar, com taxa de 30% de germinação.

O crescimento das mudas varia de lento a moderado, sobrevivendo ao plantio cerca de 85% das plantas. Após um período de 3 ou 4 meses, as mudas estarão prontas para serem transplantadas aoo local definitivo, momento em que atingem cerca de 30 cm de altura.

Por ser uma árvore de grande porte, o espaçamento inicial entre as mudas é de 3 x 3 m, com desbaste realizado entre 12 e 14 anos, restando uma média de 77 árvores por hectare no corte final. Apesar do crescimento lento, o jatobá é uma espécie de vida longa e pode alcançar grandes diâmetros e alturas em florestas naturais, atingindo até 10 m3 por hectare/ano.

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Tratos culturais do jatobá

De acordo com estudos realizados, para a promoção do endurecimento de mudas é recomendável um déficit hídrico moderado até que haja o aparecimento de murcha foliar.

No que tange ao sombreamento, o jatobá é uma planta semi-heliófila, ou seja, tolerante à sombra quando jovem, podendo ser plantada desde a condição de bordas e clareiras até fechamento de dossel.

Tendo isso em vista, aconselha-se a utilização de sombreamento durante a fase de germinação, possibilitando um maior número de mudas em menor espaço de tempo. Quanto ao desenvolvimento de mudas, segundo pesquisas, as mudas plantadas à sombra ou sombra parcial apresentaram menor crescimento em relação àquelas plantadas a pleno sol.

Árvore de jatobá adulta no meio de uma floresta.
O jatobá é uma planta com tolerância à sombra durante a fase de germinação, mas desenvolve-se melhor em pleno sol quando muda.

Com relação ao hábito de crescimento, essa planta apresenta ramificação simpodial, com tronco curto e sem definição de dominância apical, formando ramificações pesadas e bifurcações. Por apresentar ramificação natural deficiente, a espécie necessita de podas periódicas, de condução e de galhos, para que apresente fuste definido.

Detalhe importante é que as plantas jovens que crescem em ambientes de sombra leve apresentam fustes maiores e retos, enquanto aquelas que crescem a campo aberto têm fustes curtos e copas amplas.

Pragas e doenças do jatobá

O jatobá é uma espécie que não apresenta problemas graves no que tange a pragas. Foram observados ataques de coleópteros aos frutos e sementes do jatobá-do-cerrado durante o período de amadurecimento, dificultando a sua disseminação. Além disso, as sementes que não sofrem o ataque da praga e escapam são destruídas por cupins no início do processo de germinação.

Na Costa Rica e em Trinidad e Tobago, foi observado o ataque de um gorgulho denominado Rhinochenus sp. que penetra nos frutos e ataca as sementes. Já em Porto Rico, encontraram-se três insetos que também atacam as sementes nos frutos, sendo eles: Acanthoscelides sp., Hypothenenus buscki e Myelois decolor. Foram identificadas também formigas cortadeiras (Atta sp.) que cortam as folhas recém-formadas.

Quanto às doenças, as mais comuns são causadas por fungos, como: Handersonia hymenaea, Camosporium
handersonoides
, Aphanopeltis bauhinae, Asteromella ovata, Dictyosporium hymenearum, Johansonia anadelpha e Plenotrichella penseae. Comparando-se com 39 espécies tropicais da Venezuela, o jatobá está entre as mais duráveis, sendo resistente ao ataque de quatro espécies de fungos que causam a decomposição da madeira.

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Propriedades do jatobá

A exemplo de outras frutas que já apresentamos no MF Magazine, o jatobá também traz benefícios ao nosso organismo. É considerado de grande valor nutritivo tanto para a fauna quanto para o consumo humano, sendo rico em ferro, magnésio, potássio, cálcio, fósforo e vitamina C.

Confira um resumo de alguns dos benefícios do jatobá de acordo com a parte da planta que é utilizada:

  • Casca: o chá da casca do caule do jatobá é utilizado para lavar ferimentos e para males de próstata. Quando cozidas, são usadas para o combate de hemoptises, hematúrias (urina com sangue), diarreia, disenterias e cólicas;
  • Seiva: a seiva do jatobá é empregada em pequenas doses para o tratamento de infecções pulmonares. Já em forma de emplastro, pode ser aplicada sobre partes doloridas do corpo e para tosse, bronquite, catarro, asma e fraqueza pulmonar, diarreia, disenteria, cólica intestinal. O vinho de jatobá, também produzido a partir da seiva, é utilizado como fortificante;
  • Resina: dela é extraído um óleo essencial que contém ácidos brasilocopálico, brasilocopalínico e brasilocopaloresceno. Além disso, nela são encontrados terpenos que apresentam várias atividades biológicas, a exemplo da proteção contra infecções e ataques de insetos;
  • Polpa: rica em cálcio, magnésio e vitamina C5 e apresenta alto valor nutritivo.

Além dessas propriedades, de acordo com estudos científicos, o jatobá também apresenta atividade antimicrobiana contra bactérias gram-positivas e vírus da dengue tipo 2, além de propriedades tônicas, fortificantes, expectorantes, adstringentes, laxativas, vermífugas, hemostáticas, estimulantes da digestão e do apetite, e também empregadas no tratamento dos sintomas de coqueluche.

Importante ressaltar que o emprego em excesso dessa espécie como expectorante e fortificante pode desencadear reações alérgicas.

Ramificações de jatobá com flores brancas e folhas verdes abundantes.
Da casca, seiva, resina e polpa do jatobá são extraídas substâncias ativas com propriedades medicinais usadas em forma de chás e pastas.

Como consumir esta fruta?

Com uma textura farinácea e sabor adocicado, a polpa do jatobá apresenta diferentes destinações. Conforme já mencionamos, a fruta pode ser consumida tanto in natura como cozida ou na forma de licores, geleias, chás e até mesmo como vinho. A farinha que envolve as sementes também é utilizada na fabricação de biscoitos, pães e bolos, além de bolinhos fritos e até mingaus.

Como tem uma casca dura, tome cuidado ao abrir o jatobá, principalmente se utilizar uma faca ou outro objeto cortante. Um martelo ajuda muito nessa tarefa, mas tome cuidado para não estragar a polpa.

Para arrematar o conteúdo, separamos o vídeo abaixo que trata um pouco sobre a escarificação das sementes do fruto e ensina como preparar um delicioso cuscuz feito a partir da farinha do jatobá. Confira:

Fonte: Minhas Plantas.

Portanto, o jatobá pode ser utilizado de diferentes formas na culinária, além de ser aproveitado em suas diversas partes, ou seja, desde o fruto, casca, seiva, resina até a própria madeira.

E por falar em fruto de origem Amazônia, sugerimos a leitura do nosso artigo sobre o tão apreciado açaí. Confira como plantá-lo, cultivá-lo e seus benefícios à nossa saúde. Boa leitura!

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