Não é novidade que o Brasil é um grande produtor de gado, ocupando o 2° lugar no ranking mundial de produtores de carne bovina, atrás apenas dos Estados Unidos. Segundo o IBGE, o nosso país conta com um rebanho de aproximadamente 218,2 milhões de cabeças, sendo o maior exportador do mundo, de acordo com dados da Embrapa.
Diante dessa realidade produtiva tão consistente, os riscos e desafios que os pecuaristas enfrentam tomam maiores proporções. No que diz respeito às mortes súbitas no rebanho, surge a necessidade de realizar ajustes no manejo adotado, a fim de se evitar grandes prejuízos na cadeia produtiva. Desse modo, o conhecimento sobre o assunto é essencial para entender quais medidas podem ser adotadas diante desses acontecimentos.
Sendo assim, neste artigo serão abordadas as principais características da morte súbita em gado, bem como as suas causas mais comuns. Confira!
Principais características da morte súbita
A morte súbita, evidentemente, é algo inesperado que pega os pecuaristas de surpresa e envolve, na maioria das vezes, a ausência de tempo hábil para a observação de sinais clínicos. Esse fenômeno consiste na morte clinicamente inexplicável que ocorre durante uma atividade relativamente normal.
Sendo assim, a prevenção nesses casos é complexa e inevitável. O pecuarista que possui conhecimento sobre as principais causas de morte súbita no gado estará melhor preparado quando se deparar com esse tipo de acontecimento. Dessa forma, será possível impedir que a causa persista e gere maiores prejuízos e/ou danos à saúde do rebanho bovino.
Abaixo, veja alguns sinais que caracterizam quadros repentinos:
- Rebanho dizimado rapidamente, sem histórico clínico;
- Sinais inaparentes como febre alta, apatia, dor aguda;
- Sutileza na evolução dos sinais, sendo imperceptíveis;
- Sinais clínicos rápidos, dando a falsa impressão de ausência total.
Para melhor ilustrar o assunto e facilitar o entendimento, assista ao vídeo abaixo e conheça algumas das causas mais importantes de morte súbita:
As causas mais comuns de morte súbita têm a ver com imprevistos e agentes externos. No entanto, alguns quadros são passíveis de intervenção quando se tem um manejo com atenção à profilaxia. São eles:
- Intoxicação por consumo de plantas de elevado teor tóxico;
- Intoxicação por organofosforado, princípio ativo muito utilizado no controle de parasitas, tanto na agricultura como na pecuária;
- Atenção especial à nutrição dos animais, tanto às deficiências como aos excessos que podem desencadear quadros de intoxicação e morte;
- Toxinas liberadas pelas principais clostridioses;
- Casos de doenças muito severas como o antraz, por exemplo.
Baseado nesta sequência, acompanhe um breve resumo de prováveis causas de morte súbita, partindo do nosso olhar técnico.
O que é o botulismo no gado?
Conhecida como uma das principais clostridioses, o botulismo é uma doença não contagiosa causada pela ação de uma potente neurotoxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum.
Bastante comum em diversas regiões do Brasil, o botulismo bovino impressiona pelas cenas de surtos recorrentes, causando inúmeros prejuízos ao criador. Trata-se de uma toxinfecção alimentar em que o animal é contaminado pelo contato com fontes de água e alimento infectados com as toxinas liberadas pela bactéria do gênero Clostridium.
Em geral, a bactéria está presente em ambientes mal oxigenados, putrefativos, na água suja e parada, em carcaças expostas e, ainda, em alimentos fermentativos, como é o caso da silagem úmida.
Como evitar o botulismo?
A melhor forma de prevenção do botulismo é por meio da vacina e de cuidados com o manejo, especialmente dos locais com alto risco de contaminação pela doença. Por isso, ofereça ao seu animal apenas água limpa e conserve adequadamente o alimento, principalmente a silagem.
Leia também: Boas práticas na sanidade do gado.
O perigo de outras clostridioses
As enterotoxemias são infecções intestinais causadas pela bactéria Clostridium perfrigens.
Trata-se de outra espécie do gênero Clostridium, que geralmente é encontrada em ambientes de baixa oxigenação, como aqueles que compõem a alimentação animal, especialmente quando esta é rica em grãos.
A rápida evolução da doença, com o aparecimento de sintomas graves, e sua alta taxa de mortalidade repentina fazem com que as enterotoxemias se tornem uma grande preocupação entre os pecuaristas.
Nesses casos, a melhor maneira de se prevenir é por meio da vacinação, especialmente a que antecede o início do confinamento. Aliado a isso, é importante também oferecer uma dieta equilibrada, com grãos e fibras de qualidade, para auxiliar na prevenção.
Risco de morte súbita por consumo de plantas tóxicas
Estima-se que a ingestão de plantas tóxicas seja a principal causa de morte súbita no gado e em outros ruminantes criados em sistema de pastejo. Isso se deve aos princípios tóxicos presentes nessas plantas, que agem rapidamente no sistema nervoso, prejudicando o funcionamento do coração e demais órgãos vitais.
Citamos abaixo algumas das principais espécies de plantas que podem levar à morte súbita de indivíduos do rebanho:
- Palicourea marcgravil: também conhecida como cafezinho, roxa ou roxinha, erva-de-rato, café-bravo, erva-café ou vick;
- Mascania rígida: referem-se a ela também como timbó, quebra-bucho, tingui, rama-amarela, salsa-rosa, suma-branca ou suma-roxa;
- Amorimia pubiflora: popularmente chamada de corona e cipó prata;
- Arrabidae japurensis: pode ser conhecida como gibata ou chibata, comum na região Norte do país;
- Pseudocaymma elegans: trata-se de um cipó da família Bignoniaceae, com nomes mais populares pouco conhecidos.
Dessa forma, o ideal é que se conheça ao máximo a área de pastejo dos seus animais e, caso haja perdas por morte súbita, é importante que se percorra a campo os locais de convívio do rebanho.
Manter-se atualizado e buscar informações a fim de reconhecer as plantas tóxicas citadas e as demais existentes na sua propriedade também são formas de prevenir a ocorrência de mortes súbitas por elas. A partir disso, é possível fazer um controle rígido pela fazenda.
Uso indiscriminado de organofosforados
A falta de cuidados preventivos e de controle pode gerar sérios comprometimentos ao rebanho. É o caso dos organofosforados, que são usados tanto para o controle de parasitas em animais, como pesticida nas culturas.
De potencial tóxico considerável à saúde humana, inclusive, o uso desses princípios deve ser realizado de forma assistida, respeitando as dosagens recomendadas. Segundo estudo publicado na revista científica Archives of Veterinary Science, em análise da Organização Mundial da Saúde verificou-se que as consequências do uso indiscriminado desse grupo de agrotóxicos e inseticidas são tão severas que são responsáveis pela maior parte das intoxicações e mortes de pessoas no Brasil.
O uso tópico de organofosforados para pulverização dos bovinos é uma estratégia que visa eliminar – ou ao menos controlar – a presença de parasitas que causam importantes doenças. Relatos de doses “cavalares” são frequentes, uma vez que o criador, com o objetivo de eliminar rapidamente os parasitas, excede a quantidade prescrita. O resultado é a morte súbita de indivíduos por intoxicação.
Por isso, é fundamental que a equipe esteja preparada antes de realizar a pulverização dos animais, que, inclusive, deve ser recomendada por médico veterinário. Tanto o princípio ativo, quanto a dosagem e a conduta de aplicação devem ser receitados por profissional, com posterior acompanhamento pós-aplicação.
Qual a relação da nutrição animal com a morte súbita?
A alimentação do gado é fator primordial em seu desenvolvimento, bem como na promoção e na manutenção da saúde. Veja abaixo quais erros na alimentação podem ocasionar mortes súbitas.
Deficiência de cobre
A hipocuprose se dá quando há deficiência de cobre na nutrição do animal, estando diretamente ligada a algumas condições específicas do solo. Temos como exemplo o caso de solos arenosos e ácidos que, em situações de cheias das águas ou de alta irrigação, disponibilizam altos teores de ferro às forragens, reduzindo proporcionalmente a concentração de cobre.
Em situações em que as taxas de cobre se encontram muito abaixo da recomendada, seja nas pastagens ou na oferta de alimentação em chocho, tem-se complicações severas no gado, resultando, muitas vezes, em morte súbita.
Para evitar que isso aconteça, fique atento aos suplementos servidos no cocho.
Excessos de ureia e nitrato
Não é apenas a falta de nutrientes que pode causar a morte súbita nos bovinos. O excesso também pode ser fatal, principalmente nos casos da ureia e do nitrato.
Esses nutrientes são utilizados como estratégias viáveis para a substituição de compostos proteicos na dieta do gado e são considerados ótimas fontes de NNP (Nitrogênios Não Proteicos). Para se ter um bom custo-benefício, ofereça a dosagem adequada de ureia e nitrato ao animal, respeitando a sua idade e o período adaptativo da dieta, sendo este sempre gradativo.
Quando há intoxicação por ureia, os animais ficam agitados e desidratados, apresentando salivação excessiva e respiração ofegante. Os sintomas são tão severos que podem levar a óbito em um período de 20 a 60 minutos após a sua ingestão. Por isso, recomenda-se a utilização da ureia em porcentagens inferiores a 2% da quantidade concentrada, limitando-se a apenas 1% da dieta total.
A indústria já produz versões prontas contendo a porcentagem recomendada de ureia, oferecendo, assim, um composto seguro para a ingestão do rebanho.
O nitrato, por sua vez, está presente nas pastagens e é a partir do seu uso excessivo na adubação que se dá a intoxicação do animal. Os sintomas são os mesmos da ingestão em excesso de ureia, ocasionando sérios riscos à saúde do rebanho.
Doenças graves e de alto poder letal
O antraz é um exemplo importante de doença em bovinos, sendo o seu curso rápido e letal. Ele é causado pelo Bacillus anthracis e constitui uma zoonose que infecta diferentes espécies de animais, contaminando também os seus produtos.
O seu poder de contaminação é extremamente alto, apresentando sinais que podem passar despercebidos aos olhos do criador. Em aproximadamente 6 dias a doença evolui, resultando em morte que aparenta ser súbita. Em casos mais severos, o antraz leva à morte repentina, sem que haja tempo para a evolução do quadro sintomático.
A melhor forma de se prevenir é por meio da vacinação. Porém, é importante manter estéreis os objetos contaminados e garantir a higiene ambiental, já que a bactéria está presente no solo e na vegetação.
Enfatizamos aqui a importância de seguir um programa completo de vacinação, não se restringindo apenas às vacinas consideradas obrigatórias.
Como evitar maiores prejuízos
Agora que você já conhece as principais causas de morte súbita no gado, vamos listá-las abaixo:
- Botulismo;
- Enterotoxemias;
- Plantas tóxicas;
- Organofosforados;
- Hipocuprose;
- Excessos de ureia e nitrato;
- Antraz.
Diante dessas informações, é possível traçar melhores estratégias preventivas para o seu rebanho, contribuindo com a manutenção da saúde dos seus animais, bem como com o seu bom desenvolvimento. Como consequência desse planejamento, os resultados financeiros da sua criação serão significativamente impulsionados.
Para facilitar ainda mais a compreensão, acompanhe o vídeo abaixo e entenda quais as medidas a serem tomadas para evitar a ocorrência de mortalidades na sua propriedade:
E então, este artigo foi útil para você? Aproveite e acesse também o nosso post sobre creep feeding. Boa leitura!