Os drones têm ganhado destaque na realização de serviços de pulverização de defensivos agrícolas no Brasil. Na década de 80 e 90, por exemplo, a ferramenta já era usada na Ásia.
Porém, só após a redução dos custos e avanços das tecnologias embarcadas, bem como da agricultura de precisão, a ideia de utilizar esse equipamento ganhou força em outras regiões do mundo.
No Brasil essa ferramenta tem sido usada principalmente em propriedades menores, ou áreas de difícil acesso, onde haveria dificuldades para a utilização de pulverizadores terrestres ou aviões agrícolas.
E em aplicações localizadas, como na cultura da cana-de-açúcar, para o controle de plantas daninhas em reboleiras, em uma operação conhecida como “catação”.
No entanto, os drones de pulverização também têm sido usados em aplicações em áreas totais para culturas perenes, como café, ou anuais, como soja, milho e arroz, similar ao que é feito por pulverizadores terrestres ou aviões agrícolas.
Na safra 2020/2021 isso ocorreu em algumas propriedades menores, e principalmente em períodos chuvosos, quando os pulverizadores terrestres não poderiam operar devido às condições de umidade do solo.
A pulverização com drones
Tem sido observado que o mercado de drones está tomando um caminho semelhante ao que é praticado no mercado de pulverização na Argentina e nos Estados Unidos, ou mesmo em parte do setor da aviação agrícola no Brasil.
As empresas prestadoras de serviço tendem a ser os principais elos desse mercado, prestando o serviço de pulverização aos agricultores.
Dentre os fatores para que isso ocorra estão os custos para aquisição do drone e das baterias, bem como veículo de transporte, preparo de calda, qualificação de equipes, dentre outros.
Atualmente, os custos para aquisição de um drone de pulverização variam de R$ 70.000,00 até R$ 200.000,00, de acordo com informações obtidas com fabricantes.
Cada bateria pode custar cerca de R$12.000,00, sendo necessário investir em várias unidades, podendo superar o valor do próprio drone.
Segundo informações coletadas junto a prestadores de serviço, o valor cobrado pela pulverização na safra 2020/2021 variou de R$ 100,00 a R$ 300,00 por hectare.
O relevo, a taxa de aplicação, a modalidade de aplicação (área total ou aplicações localizadas), distância da propriedade, entre outros, interferem na composição dos custos.
Ou seja, tudo indica que para a maioria dos agricultores, contratar o serviço de pulverização será mais viável que adquirir um equipamento.
Os cuidados para uma aplicação com qualidade e segurança
O primeiro passo para a obtenção de uma aplicação de qualidade é entender que o drone é uma plataforma de aplicação aérea. Portanto, as características das aplicações, os ajustes e regulagens serão diferentes daquilo que é praticado em aplicações terrestres.
Apesar de ser uma plataforma de aplicação aérea (pulverizador aéreo) a velocidade de deslocamento é bem menor que a de um helicóptero ou avião agrícola, sendo de até 25 km h-1.
A altura da aplicação é de no mínimo 2,5 m acima do alvo, enquanto em aplicações terrestres o recomendado é que a pulverização seja feita entre 0,5 e 0,75 m do alvo.
Da mesma maneira que ocorre para a aviação agrícola (aviões e helicópteros), os drones podem ser classificados como de asa fixa ou asa rotativa.
Porém, em pulverização por drones são usados apenas os de asa rotativa, enquanto na aviação agrícola no Brasil é mais comum o uso de aeronaves de asa fixa.
Entretanto, os drones possuem uma característica única, que é o efeito dos vórtices gerados pelos rotores na pulverização (Figura 1).
Diferente das aplicações aéreas com aeronaves agrícolas e de pulverizações terrestres convencionais.
Vantagens dos drones na pulverização
Esse efeito na pulverização é muito mais pronunciado para os drones e tem grande impacto na pulverização, interferindo em aspectos como uniformidade e largura da faixa de deposição, penetração das gotas no dossel das plantas, potencial de deriva, entre outros.
Assim, dentre os fatores para a obtenção de uma aplicação com qualidade e segurança, deve haver um estudo prévio da faixa de deposição para determinar a uniformidade e largura ideais em função de características como espectro de gotas e altura de voo.
Além disso, é importante avaliar outros parâmetros que serão discutidos a seguir, como o risco de deriva e condições meteorológicas, incluindo a direção do vento.
O sistema de pulverização dos drones
O sistema de pulverização usado nos drones é relativamente simples, tendo similaridades com o de uma aeronave agrícola.
Após avaliar as características do alvo, as condições meteorológicas e as características dos produtos aplicados, deve-se fazer a escolha do espectro de gotas que será usado na pulverização, bem como da taxa de aplicação e largura de faixa.
É sempre importante observar a direção do vento, e usar todas as técnicas possíveis para evitar problemas de deriva, que é a perda do produto aplicado.
Pesquisas realizadas pela AgroEfetiva nos anos de 2020 e 2021 mostraram que a necessidade de treinamento ou aprofundamento em tecnologia de aplicação por parte de alguns operadores e fabricantes de drones tem causado erros sistemáticos nas aplicações, principalmente nos quesitos taxa de aplicação e uniformidade de deposição.
Muitas vezes a taxa de aplicação programada por área apresenta variações superiores ao que se considera aceitável (até 5%), podendo ser superior à 20% em alguns casos.
Além disso, as pesquisas mostraram que deve haver bom entendimento da técnica para que haja uniformidade na aplicação e mitigação do risco de deriva.
Considerações finais
Por fim, os drones se mostram como uma ferramenta promissora para tarefas de pulverização em lavouras do Brasil.
A princípio, a tendência é que os agricultores contratem o serviço de pulverização e que isso ocorra com mais frequência em propriedades menores, áreas de difícil acesso ou para aplicações localizadas.
Ainda assim, existem desafios para que haja qualidade nas aplicações, principalmente em relação à uniformidade das aplicações e mitigação do risco de deriva.
- Fernando K. Carvalho e Rodolfo G. Chechetto – Engenheiros Agrônomos, Pesquisadores na AgroEfetiva, Botucatu;SP;
- Michael Althman e Vicente Cornago – Doutorandos. Dep.de Engenharia Rural, FCA/UNESP, Campus de Botucatu;
- Ulisses R. Antuniassi – Professor Titular, Dep.de Engenharia Rural, FCA/UNESP, Campus de Botucatu.
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