O milagre da calagem

O milagre da calagem

Fala meu povo! Tudo na paz?! Dando sequência na nossa série de texto de como construir a fertilidade do seu solo e claro, mantê-la, neste vamos abordar o tema que pra mim é o mais importante de todos: a calagem.

A construção da fertilidade do solo passa, invariavelmente, pela correção do solo. Ainda mais os nossos, intemperizados, de baixa fertilidade natural e consideravelmente ácidos!

Bom, mas falar da calagem, sem mencionar alguns fatos históricos, tira um pouco da grandeza dessa operação que, sem a menor sombra de dúvidas, foi o que tornou a região do cerrado produtiva e mudou a história do Brasil de país importador de alimento para maior produtor de alimento do mundo.

Histórico da calagem no Brasil

A história da calagem em solos brasileiros começa ali no final da década de 60, quando um certo pó branco começou a ser aplicado nos solos de cerrados, para elevar o pH e aumentar a capacidade de troca de cátions.

Esse, meus amigos, nada mais era do que o carbonato de cálcio responsável por neutralizar o alumínio tóxico, retirar os hidrogênios da solução e devolvê-los na forma de hidrófilas, liberando gás carbônico e água.

Muito quimiquês eu sei mas é basicamente isso que a calagem faz. Vamos voltar mais um pouco no tempo.

No final da década de 40, pós segunda guerra, agricultores americanos começaram a aplicar “lime” nos seus solos, com a finalidade de corrigir o pH dos mesmos e esse “lime” vinha de uma rocha, “limestone”, que inclusive é nome de algumas cidades nos EUA. Essas duas, respectivamente, são o calcário e a rocha calcária.

Jazida de calcário como matéria-prima
O calcário é extraído dessas rochas e, graças as suas características, trouxe muitos benefícios ao solo brasileiro.

Aqui temos um fato curioso na história, o USDA que é o departamento de agricultura dos EUA, sabendo do potencial que o calcário tinha e sabendo que o principal problema da agricultura brasileira, na época, era a acidez dos solos e que o Brasil possui jazidas com essa rocha, soltou um relatório prevendo que entre os ano de 2010 e 2020 o Brasil seria então o maior produtor de soja do planeta.

Os americanos estavam certos!

Adivinhem o que aconteceu entre os anos de 2010 e 2020? Exatamente, o Brasil se tornou o maior produtor de soja do mundo. Devemos isso não só a calagem, é claro, mas podemos dizer que se não fosse por ela nenhuma outra tecnologia faria sentido. Certo, mas e daí?!

Aplicação de calagem para corrigir os solos
A aplicação de calcário, para corrigir o solo, se tornou uma rotina entre os agricultores brasileiros.

E daí que a gente não constrói uma casa do telhado, ou constrói né, já vi cada uma… Mas, via de regra, começamos pela fundação e a fundação da agricultura brasileira é a correção do solo.

Calagem é uma coisa tão mágica que é uma das poucas horas, se não a única, em que com UMA operação temos DOIS benefícios: corrigimos e adubamos o solo. Elevamos o pH, neutralizamos alumínio tóxico e fornecemos cálcio e magnésio à lavoura.

E tem gente que fala que é caro fazer calagem, acredita? A relação ideal para a nossa realidade seria algo próximo de 3:1 (calcário: fertilizante). Mas, hoje em dia trabalhamos, em média Brasil, com algo próximo de 1:1. Muito ainda tem que ser feito.

A construção da fertilidade iniciada pela correção do solo melhora o solo como um todo e, por isso, devemos ter um carinho especial quanto a essa tomada de decisão.

Área de plantio com aplicação de calcário
Com a correção do solo, o calcário proporciona mais nutrientes às plantas e contribui para o sucesso da safra.

Devemos consultar os boletins de recomendação e entender, dentro de cada ambiente, o que é melhor para cada caso. Fazendo o certo as melhorias são notadas no primeiro cultivo.

Tempo ao tempo!

Podemos observar uma melhoria na estrutura do solo, na capacidade de retenção de água, no desenvolvimento das raízes e maior exploração do volume do solo, aumento na eficiência de uso de fontes de nutrientes e, consequentemente, diminuição nas perdas de, por exemplo, imobilização de fósforo ou lixiviação de nitrogênio.

Como tudo que vale a pena, isso leva tempo. Tempo, outro importante fator na correção do solo e muitas vezes negligenciado.

Tem-se visto com certa frequência produtores reclamando que a primeira safra não é tão boa e, quando analisamos o que poderia ter acontecido, quase todos tem um ponto em comum: não deram o tempo para o calcário reagir e corrigir.

Trator realiza calagem em área preparada para plantio
Muitos produtores acabam não dando o tempo necessário para o calcário corrigir o solo e acabam tempo problemas com a safra agrícola.

Dois pontos, o calcário tem baixa solubilidade e sua reação completa varia de 60-90 dias, isso claro quando temos umidade. Então quando aplicamos o calcário em julho ele de fato começará a reagir em outubro nas primeiras chuvas do ano.

Entendo que as vezes o operacional não nos permite fazer esse tipo de operação antes mas não podemos culpar o calcário, não é verdade?!

Meus amigos findamos aqui mais um passo do nosso manual de boas práticas Talvez o mais importante de todos.

Seguimos no próximo falando de sulfato de cálcio di-hidratado também conhecido como gesso agrícola e já adianto, gesso não corrige pH.

Forte abraço e até a próxima.

Confira também: uso do pó de rocha na agricultura.

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