A cultura da maçã é destaque na fruticultura brasileira: o país passou a integrar o ranking dos 10 maiores produtores de maçã do mundo. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), a produção do Brasil cresceu mais de 6.000% em três décadas e movimenta em torno de R$ 7 bilhões.
A produção está concentrada principalmente em Santa Catarina, seguido pelo Rio Grande do Sul e Paraná. Na safra 2020/2021, esses estados produziram um total de 1,276 milhão de toneladas. Nos outros estados, estima-se a presença de 310 hectares cultivados com a fruta.
Dada à crescente importância econômica dessa cultura, neste artigo vamos aprofundar alguns tópicos sobre a maçã: exigência climática, dormência, indicação de cultivares para as diferentes regiões, propagação, estabelecimento e condução do pomar, além das principais pragas e doenças. Boa leitura!
Exigências climáticas da macieira
A maçã pertence à família Rosaceae, tendo preferência por regiões de clima temperado, com temperatura ideal entre 15 e 23ºC no período vegetativo. A macieira alterna um período de crescimento vegetativo com um de repouso, que ocorre durante o inverno.
Esse repouso é proporcionado pela endodormência, isto é, quando a planta cessa o crescimento e perde as folhas, pela ação da temperatura e fotoperíodo decrescentes que antecedem o inverno. Essa combinação estimula a produção de inibidores de crescimento.
Para sair do estado de dormência, a planta precisa acumular uma certa quantidade de horas de frio (tecnicamente, temperaturas abaixo de 7,2 ºC) para ocorrer a degradação dos inibidores de crescimento acumulados.
Essa quantidade de frio varia com o genótipo, com o tipo de gema (gemas apicais têm menor necessidade de frio do que as laterais, e as gemas floríferas menor necessidade que as vegetativas) e com o vigor da planta (a necessidade de frio é maior em ramos ou plantas mais vigorosas).
Em regiões de clima tropical e subtropical, nem sempre essa necessidade de frio é satisfeita, o que resulta em atraso, desuniformidade e enfraquecimento das brotações, atraso e prolongamento do período de floração e desuniformidade da maturação e dos formatos dos frutos.
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Quebra artificial de dormência
Como dissemos, em um país tropical como o Brasil, nem sempre a necessidade de frio da macieira é atendida, por isso, pode ser necessária a quebra artificial da dormência.
Ela é realizada mediante a pulverização de cianamida hidrogenada e óleo mineral. Esses produtos causam um certo nível de fitotoxidez à planta, que devido ao estresse aumenta a taxa de respiração e estimula a brotação.
Cultivares de maçã
Para a região Sul existem várias opções de cultivares, principalmente pertencentes aos grupos “Gala” (Galaxy, Maxy-Gala, Brookfield, Royal gala, Imperial Gala) e “Fuji” (Fuji Suprema, Fuji Mishima, Fuji Brak, Fuji Standard).
Em outras regiões mais quentes do Brasil, devido à dormência da macieira, recomenda-se cultivares com baixa necessidade de frio, como a Eva, desenvolvida pelo IAPAR e que produz frutas de boa qualidade. Ademais, a macieira necessita de interplantio com cultivares polinizadoras, como a Condessa, a Princesa ou a IPR Julieta, para que ocorra uma boa frutificação.
Propagação
A mergulhia, a estaquia e a enxertia são os principais métodos de propagação da macieira. Comercialmente, é realizada a propagação de porta-enxertos clonais por mergulhia, quando os mesmos possuem dificuldade de enraizamento. Quando apresentam facilidade de enraizamento, pode ser usada a estaquia.
Já a enxertia é utilizada para propagação da cultivar-copa, através das técnicas de borbulhia ou garfagem. Para cultivo caseiro, recomenda-se a propagação por enxertia, selecionando uma estaca de 10 a 15 centímetros de comprimento.
Estabelecimento do pomar de maçã
A época mais indicada para iniciar o cultivo de maçã é entre os meses de julho a setembro, e a macieira se desenvolve bem em solos profundos, permeáveis e bem drenados, pois as raízes precisam de boa aeração para realizarem suas atividades metabólicas. Além disso, priorize locais com pouca declividade e bem expostos ao sol.
O preparo do solo deve ter início pelo menos 3 meses antes do plantio, com limpeza do terreno, realização de análise de solo, subsolagem a 60 centímetros de profundidade e incorporação de 50% do calcário recomendado. O pH do solo deve ficar entre 5,5 e 6,0.
Indica-se realizar a marcação da área em fileiras no sentido norte-sul em terrenos planos, ou em curva de nível, no caso de áreas em declive. As covas de plantio podem ser preparadas com dimensões de 60 x 60 x 60 centímetros. O espaçamento recomendado é de quatro metros entre filas e 0,8 metro a 1,2 metro entre plantas. Ademais, é necessária uma estrutura para tutoramento das mudas.
Além disso, a maçã é uma espécie autoincompatível, por isso, é necessário o interplantio de cultivares polinizadoras compatíveis e que floresçam na mesma época da cultivar principal. Essas cultivares polinizadoras devem representar no mínimo 10% das plantas e estarem bem distribuídas por todo o pomar.
A polinização é feita principalmente por abelhas, por isso, colocar colmeias ao redor do pomar pode ajudar a ter uma boa frutificação.
Condução do pomar
A condução da copa da macieira visa o direcionamento adequado dos ramos para proporcionar um crescimento que comporte uma alta produtividade e qualidade dos frutos, e o sistema de condução vai variar de acordo com o espaçamento e porta-enxerto utilizados, com a fertilidade do solo e com o hábito de crescimento da cultivar.
Espaçamentos maiores requerem plantas com copas grandes. Entretanto, a produtividade é maximizada com maior adensamento de plantas. Nesse caso, a copa deve ser pequena. Em condução livre, emprega-se a forma de “líder central” para espaçamento reduzido.
Ademais, o cultivo da macieira requere uma boa distribuição de água durante todo o ciclo, principalmente em locais onde ocorrem períodos de estiagem e também na fase de crescimento das frutas.
Podas e raleio
A poda é necessária para permitir a penetração de ar e luz no interior da copa, pois, sem intervenção, a macieira cresce com ramificações e folhagem densas, o que resulta na produção de frutas pequenas e de baixa qualidade. Nesse sentido, a poda é feita com o objetivo de proporcionar equilíbrio entre a atividade vegetativa e produtiva, favorecendo a obtenção de frutos de qualidade com produtividade alta e constante.
Nos primeiros anos é realizada a poda de formação, com a finalidade de adequar a distribuição dos ramos, otimizar o manejo e reparar danos e deformações. Essa poda tem início na primavera, depois do plantio, com o desponte do ramo principal, para estimular brotações laterais.
Uma vez formada a planta, é realizada anualmente a poda de inverno visando manter o equilíbrio entre a produção dos ramos frutíferos e a renovação vegetativa. A intensidade dessa poda varia com o vigor da planta e são eliminados os “ramos ladrões”, mal posicionados, doentes e secos.
Por sua vez, o raleio visa melhorar a qualidade das frutas reduzindo a alternância de produção. Até 30 dias após a plena floração é necessário para evitar que o excesso de maçãs possa comprometer a estrutura e o vigor inicial. Nos primeiros dois anos, retire todos os frutos que se formarem para permitir o crescimento adequado das plantas.
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Pragas e doenças
Durante o cultivo podem aparecer pragas que ameaçam o bom desenvolvimento das plantas. A mosca-das-frutas sul-americana é uma das principais dessas ameaças e que se desenvolve no interior dos frutos formando galerias e deixando o fruto impróprio para consumo.
O combate à essa praga é feito principalmente com armadilhas contendo soluções que atraem os insetos adultos que ficam presos e morrem por afogamento, ou iscas tóxicas, compostas por um atrativo alimentar e um inseticida. O pomar também deve estar livre de ervas daninhas que prejudicam o crescimento das plantas.
Além dessas, a lagarta-enroladeira-das-folhas, a mariposa-oriental, o ácaro-vermelho, ácaro-rajado, pulgão-lanígero, pulgão-verde e cochonilha Piolho-de-São-José são as principais pragas que atacam a macieira no Brasil.
Quanto às doenças, o produtor deve ficar atento com a ocorrência de sarna, mancha-necrótica-foliar de Glomerella, oídio, sujeira-de-mosca, fuligem, podridão-branca e podridão-amarga.
Colheita da maçã
Atualmente, a partir do terceiro ano após o plantio já é possível fazer a colheita da maçã. Nas regiões mais quentes, a safra ocorre de dezembro a fevereiro, e no Sul do Brasil costuma estender-se até o início de maio.
O ponto ideal de colheita pode ser estabelecido de acordo com alguns parâmetros, como teor de sólidos solúveis, desenvolvimento da região pistilar, firmeza da polpa ou até mesmo dias após plena floração.
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