Principais doenças da soja: sintomas e principais dicas de controle

Principais doenças da soja: sintomas e principais dicas de controle

Embora exista uma infinidade de microrganismos, tanto benéficos quanto maléficos às plantas, poucos são capazes de causar problemas aos cultivos agrícolas. Para a cultura da soja, por exemplo, são descritas 42 doenças, causadas por fungos, bactérias, nematoides (pequenos vermes) e vírus, principalmente. No entanto, destas, algumas assumem papel importante na maioria das regiões produtoras.

As manchas foliares são as protagonistas quando o assunto é ocorrência de doenças, como é o caso do oídio (Microsphaera diffusa), mancha-alvo (Corynespora cassiicola), ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi), e doenças de final de ciclo, como mancha púrpura (Cercospora kikuchii) e mancha-parda (Septoria glycines), consideradas as principais doenças da cultura da soja.

Desta forma, o conhecimento não só das particularidades das regiões produtoras, mas também das previsões climáticas para a safra e das características dos materiais utilizados (cultivares, principalmente quanto à resistência ou tolerância a determinadas doenças), são indispensáveis para um bom planejamento de controle.

É importante lembrar que um controle eficiente deve iniciar antes mesmo da semeadura da cultura no campo, com a escolha da cultivar mais adequada em função da ocorrência de doenças na área de cultivo e ajustes da época de semeadura tendo em vista a menor pressão de doenças nas lavouras (como no caso da ferrugem-asiática). 

Sendo assim, conheça a seguir o panorama da produção de soja no Brasil, as principais doenças da cultura da soja e entenda também como os sintomas de cada uma delas podem ser diferenciados e as principais estratégias de controle. Confira!

Panorama da produção de soja no Brasil 

Atualmente, o Brasil é o principal produtor de soja a nível mundial. A produção estimada para a safra 2022/2023 ultrapassa as 152 milhões de toneladas, o equivalente a 38% do total produzido em todo o mundo (390 milhões de toneladas).

Deste total, conforme dados publicados no último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, outubro de 2022) a principal região produtora de soja no país é o Centro-Oeste, seguido pelo Sul, Nordeste, Sudeste e Norte. Abaixo, confira os dados de área cultivada, produção e produtividade de soja de cada região brasileira, assim como dados de produção dos maiores estados produtores.

Infográfico do panorama da produção de soja no Brasil, mostrando a área cultivada, a produtividade e a produção de acordo com cada região brasileira.
Panorama da produção de soja no Brasil – Safra 2022/23.

Desta forma, é inegável a importância da cultura, que é fonte importante de proteínas para alimentação animal principalmente em rações, fabricação de óleos de soja, na indústria alimentícia, indústria de cosméticos e produção de biocombustíveis.

Além das estimativas animadoras, as perspectivas de aumento da produção do grão no país são grandes para os próximos anos. 

Conforme dados publicados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2022), a área de cultivo da soja teve aumento de 61,77% entre a safra 2001/2002 e a estimativa 2022/2023.

Para a produção e produtividade, também houveram acréscimos consideráveis, sendo de 72,23% de incremento no total produzido (o que corresponde a 109,8 mi t), e 27,11% entre as mesmas safras.

Gráfico com dados da evolução da produção brasileira de soja em milhões de toneladas (amarelo) em relação à área cultivada (verde) entre as safras 2001/2002 e estimativa para a safra 2022/2023
Dados da evolução da produção brasileira de soja em milhões de toneladas (amarelo) em relação à área cultivada (verde) entre as safras 2001/2002 e estimativa para a safra 2022/2023. Fonte: USDA, 2022.

Acompanhando o aumento da produção da oleaginosa no país em relação à área cultivada, fica evidente que os incrementos de rendimento terão de ser obtidos muito em função das cultivares e do seu manejo, especialmente no controle de doenças.

Sabemos que bons materiais encontram-se disponíveis no mercado, e que estes possuem um potencial (teto) produtivo alto, porém, para que eles possam expressar o seu máximo potencial produtivo, a cultura deve ser manejada adequadamente e sem que ocorram interferências por pragas, doenças e estresses climáticos (como o estresse hídrico).

Principais regiões de ocorrência das doenças da soja

É importante destacar que as manchas foliares, anteriormente descritas, ocorrem basicamente em todas as regiões produtoras.

No entanto, pontualmente ou em alta severidade, a depender do ano agrícola, ainda podem ocorrer outras doenças, como:

  • Antracnose (Colletotrichum truncatum): 
  • Míldio (Peronospora manshurica): 
  • Podridões radiculares: tombamento (Rhizoctonia solani) e podridão-radicular-de-Phytophthora (Phytophthora infestans). 

Estas últimas impactam no primeiro componente de produtividade da cultura, isto porque reduzem o estande inicial ou número de plantas por área, e ocorrem principalmente em anos com grande ocorrência de chuvas e altas temperaturas no período de semeadura e emergência da cultura.

Algumas regiões, como o Centro-Oeste, possuem ainda vastas áreas com presença do nematoides dos cistos (Heterodera glycines), e a região Sul, predominância de espécies do gênero Meloidogyne, principalmente Meloidogyne javanica.

Como vimos, além do fator região de produção, ainda temos os fatores climáticos e também o fator cultivar (material genético) escolhido para cultivo na região produtora, que deve ser de acordo com o histórico de ocorrência de doenças na área.

Para que possamos prontamente identificar se as áreas de produção possuem histórico de doenças, e para que saibamos qual manejo deve ser adotado, é indispensável que os sintomas das principais doenças sejam conhecidos. 

Sintomas das principais doenças da soja e principais dicas de controle

Entenda a seguir, como cada uma das principais doenças da cultura se comporta e as principais dicas de controle.

Ferrugem-asiática

A Ferrugem-asiática é a principal doença de ocorrência em todas as regiões produtoras de soja do Brasil e do mundo, foi introduzida no país a partir da safra 2001/2002, causando grandes reduções de produtividade.

Os sintomas da ferrugem-asiática são bastante característicos e distinguem-se de todas as demais doenças. Inicialmente, os sintomas são pequenas alterações da coloração em pontos específicos da folha, os sintomas iniciais não são facilmente visualizados. 

Para conseguir identificar o início da doença é necessário que a folha seja colocada contra uma fonte de luz, sendo assim, possível visualizar pequenas pontuações de coloração cinza-esverdeada.

Com o progresso da doença, na face inferior da folha, será possível visualizar pontuações salientes que mais tarde serão acompanhadas de uma camada laranja (a qual é composta pelas estruturas do fungo).

Diferentes intensidades de sintomas da ferrugem-asiática da soja na fase superior da folha (figuras (a) até (d)) e inferior da folha (figuras (e) até (h)). Nas figuras (d) e (h), é possível observar o início dos sintomas.
Diferentes intensidades de sintomas da ferrugem-asiática da soja na fase superior da folha (figuras (a) até (d)) e inferior da folha (figuras (e) até (h)). Nas figuras (d) e (h), é possível observar o início dos sintomas. Fonte: Milech et al., 2022.

A doença tem início na parte inferior da cultura, pois é neste local que as condições climáticas iniciais são mais favoráveis (temperaturas acima de 15 ºC e abaixo de 30 ºC, acompanhadas de 12 horas de molhamento foliar, que pode ser inclusive provocado pelo orvalho).

Para o controle da ferrugem-asiática diversas estratégias podem ser utilizadas, no entanto, devido aos relatos de resistência aos fungicidas do grupo dos triazóis, estrobilurinas e carboxamidas, é indispensável que fungicidas multissítios (como mancozebe) sejam associados em todas as aplicações.

Além disso, o controle preventivo é o ponto chave e deve ser realizado baseado nas condições climáticas (quando estas forem favoráveis), além do acompanhamento da ocorrência da doença no país, que pode ser realizado via Consórcio Antiferrugem.

  • Conforme dados do consórcio Antiferrugem, no estado do Rio Grande do Sul focos da doença já foram encontrados em soja voluntária na cidade de Pantano Grande (em 12/10/2022) e em Passo Fundo (em 04/11/2022), além da presença de esporos em cidades do oeste e norte do estado do Paraná. Desta forma, produtores dessas regiões devem permanecer alertas na implantação da cultura.

Outras estratégias de controle:

  • Ajuste da época de semeadura;
  • Eliminação de plantas voluntárias de soja, pois o fungo só é capaz de sobreviver em hospedeiros vivos;
  • Cumprimento do vazio sanitário, conforme legislação vigente para os estados produtores, incluindo recentemente o estado do Rio Grande do Sul;
  • Uso adequado de fungicidas, evitando que a população do fungo e a doença alcancem grandes proporções (pois neste caso, há maior probabilidade de seleção de indivíduos resistentes, e com o passar das aplicações, os fungicidas podem deixar de fazer efeito na sua lavoura);
  • É importante lembrar que técnicos e produtores são responsáveis diretamente pelo desempenho dos fungicidas, pois devem tomar a decisão da aplicação da melhor opção disponível para a realidade da área de cultivo, observando o desempenho de safras passadas, bem como tomar a decisão da aplicação no momento correto, realizando o manejo antirresistência.

Oídio

Já para o oídio, embora ocorra em condições ambientais específicas, estas tem se repetido ao longo das últimas safras em diversas regiões produtoras, por isso, é importante entendermos como a doença ocorre.

Os sintomas do oídio são bastante característicos e incluem a formação de uma camada esbranquiçada sobre a superfície foliar. 

Esta camada é formada pelas estruturas do fungo. Embora a doença possa ocorrer em qualquer fase de desenvolvimento da cultura e em todos os tecidos, é no início da floração que os sintomas são mais visíveis.

A identificação da doença pode ser realizada através da observação dos sintomas e das estruturas fúngicas esbranquiçadas sobre as folhas.

Sintomas de oídio em folhas de soja em diferentes estádios vegetativos e cultivares
Sintomas de oídio em folhas de soja em diferentes estádios vegetativos e cultivares. Fonte: Zhou et al., 2022.

Os danos causados pelas doenças são variáveis em função da cultivar, do ano agrícola (devido a grande influência das condições ambientais) e da região de cultivo (histórico da área), mas podem alcançar 50% de redução de produtividade da cultura.

Com a evolução da doença, as folhas podem secar e cair, levando a desfolha precoce da cultura.

A ocorrência da doença requer condições de temperaturas entre 18 ºC e 30 ºC, no entanto, a doença se desenvolve de forma mais rápida em temperaturas próximas e superiores a 18 ºC.  Baixa umidade relativa do ar também pode auxiliar no desenvolvimento da doença.

Para o controle do oídio é indicado utilizar um conjunto de medidas (manejo integrado de doenças), que incluem:

  • Uso de cultivares resistentes em áreas com histórico da doença ou anos agrícolas de previsão de condições favoráveis de temperatura e ausência de chuvas;
  • Rotação de culturas com culturas não hospedeiras, em vista que o fungo é um patógeno biotrófico (sobrevive em plantas hospedeiras);
  • Para o controle químico, resultados de pesquisa indicam 98% de controle com uso de combinações de bixafen+protioconazol+trifloxistrobina e de misturas de fluxapiroxade+protioconazol;
  • Vale lembrar que a associação de fungicidas de sítio-específico (um único sítio de ação, como os triazóis, carboxamidas, estrobilurinas) como os mencionados acima deve sempre ser realizada com grupos químicos diferentes e com fungicidas protetores multissítios (como mancozebe), como estratégia de manejo antirresistência;
  • A estratégia de manejo antirresistência é fundamental para que o fungicida de sítio-específico não perca sua eficiência e o fungo adquira resistência a ele.

Mancha-alvo

A mancha-alvo é importante, principalmente na Região Centro-Oeste do país, e pode causar perdas significativas da produtividade da cultura.

Essa doença provoca sintomas em formatos arredondados, semelhantes a um alvo, assim como o seu nome sugere. As manchas são formadas por diversos anéis concêntricos (círculos arredondados), de diferentes tonalidades. 

Além disso, quando a mancha é observada com atenção, no seu centro é possível visualizar um ponto escurecido, o qual também está relacionado ao seu nome.

Sintomas de mancha-alvo, doença causada pelo fungo Corynespora cassiicola, em folhas de algodão (figura A) e soja (figura B).
Sintomas de Corynespora cassiicola em algodão (figura A) e soja (figura B). A infecção na cultura do algodão é um dos responsáveis pela preocupação da doença na Região Centro-Oeste do país. Fonte: Rondone; Lawrence, 2019.

A temperatura mínima para que ocorra a doença é de 18 ºC, ótima de 27 ºC e máxima de 30 ºC, acompanhada de alta umidade relativa do ar.

Assim como para a ferrugem-asiática, a mancha-alvo deve ser controlada com cautela:

  • Especialmente em regiões produtoras de algodão, visto que ela apresenta alto risco de resistência aos fungicidas e alguns relatos de redução da eficiência das moléculas aplicadas a campo;
  • No controle, além da rotação de ingredientes ativos entre as aplicações, fungicidas mutissítio devem ser utilizados sempre que possível;
  • A rotação de culturas não hospedeiras e escolha de cultivares também são aliadas na redução do potencial de dano do fungo.

Crestamento foliar ou mancha púrpura

Essa doença tem destaque em basicamente todas as regiões produtoras, e causa os maiores problemas no período reprodutivo, especialmente nos grãos.

É caracterizada pela presença de manchas arroxeadas nos grãos e sementes, de coloração púrpura, por isso, o nome mancha púrpura. Nas folhas, há a presença de manchas castanho-avermelhadas, principalmente nas bordas.

Grãos de soja com sintomas de mancha púrpura.
Sintomas de mancha púrpura em grãos de soja após a colheita. Fonte: Acervo da autora, 2022.

Para a ocorrência da doença, além da alta umidade, temperaturas entre 23 e 27 ºC são favoráveis.

Para o controle desse fungo, o uso de sementes certificadas é fundamental, pois ele pode ser disseminado para áreas onde a doença é ausente ou em baixo inóculo inicial. Além disso:

  • O tratamento de sementes com fungicidas também é um aliado e deve ser sempre priorizado;
  • É importante lembrar que a doença tem início na fase vegetativa da cultura, embora os maiores danos ocorram na fase reprodutiva, principalmente enchimento de grãos. Por isso, o controle com fungicidas deve iniciar antes do fechamento das entrelinhas.

Mancha-parda

A mancha-parda é uma doença que ocorre também ao final do ciclo da cultura da soja. No entanto, diferentemente da mancha púrpura, os sintomas da mancha-parda incluem manchas de coloração escura (parda), de tamanho até 4 mm de diâmetro e formato angular. 

Embora a doença seja mais danosa à cultura no final do ciclo, os sintomas já surgem logo após a emergência. Ao final do ciclo, o principal problema é a interferência no enchimento de grãos, pois a doença causa a desfolha precoce da cultura.

Sintomas da mancha-parda em folíolos de soja em diferentes intensidades. Imagens (A) e (B) início dos sintomas. Imagem (D), sintomas intermediários e imagens (C), (E) e (F), estágio avançado da doença.
Sintomas da mancha-parda em folíolos de soja em diferentes intensidades. Imagens (A) e (B) início dos sintomas. Imagem (D), sintomas intermediários e imagens (C), (E) e (F), estágio avançado da doença. Em função do ataque do fungo, a cultura pode sofrer desfolha precoce, prejudicando o período do enchimento de grãos. Fonte: Cruz et al., 2010.

Para a ocorrência da mancha-parda, condições de temperatura entre 15 e 30 ºC, acompanhadas de molhamento foliar de no mínimo seis horas são favoráveis à ocorrência da doença.

Para o controle, recomenda-se:

  • Além de um manejo visando a melhoria dos atributos do solo, a rotação de culturas;
  • O tratamento com fungicidas pode ser realizado, mas vale lembrar que da mesma forma que a mancha púrpura, esse fungo infecta a cultura ainda nas fases iniciais, por tanto, seu controle deve iniciar ainda no período vegetativo, especialmente em anos de condições favoráveis.

Conclusão

Como vimos, diversas doenças ocorrem na cultura da soja, no entanto, para que elas não reduzam significativamente a produtividade da cultura é fundamental que o controle destas seja realizado no momento correto, e com o uso dos produtos corretos.

Os fungicidas estão disponíveis no mercado a aproximadamente 100 anos, e atualmente já existem diversas doenças da cultura com relatos de resistência, por isso, o uso dos fungicidas deve ser criterioso.

É fundamental que as aplicações de fungicidas sejam sempre rotacionadas de ingrediente ativo e não somente de nome de produtos. Além disso, o uso de produtos protetores (multissítio) é altamente recomendado em todas as aplicações de controle na cultura da soja, isto porque diminuem as chances dos fungos adquirirem resistência. 

A vida útil das moléculas existentes no mercado depende também do uso correto, lembre-se disso.

Para as recomendações de controle visando as condições da sua área, consulte sempre um Engenheiro(a) agrônomo(a).

E então, esse artigo foi útil para você? Aproveite e acesse também o nosso post sobre os cuidados no armazenamento da soja. Boa leitura!

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