O açaí, fruto nativo da Amazônia brasileira, ganhou rapidamente o paladar dos consumidores de todas as regiões do Brasil. Essa popularização se deu especialmente por ser uma grande fonte de energia, rico em nutrientes, antioxidantes e vitaminas que trazem diversos benefícios à nossa saúde, bem como pelo seu sabor único.
De olho nesse mercado consumidor que segue crescendo progressivamente, cada vez mais produtores estão investindo no plantio e cultivo dessa cultura. Nos últimos 12 anos foi registrado um crescimento de 675% da área plantada de açaizeiro, principalmente devido à adoção de novas tecnologias na área. Atualmente, essa fruta já é cultivada em 13 estados brasileiros.
Sendo assim, neste artigo iremos destacar as principais características do açaizeiro, como plantar e cultivar, bem como os principais benefícios do açaí para a saúde. Continue lendo e confira!
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Conheça um pouco mais sobre o açaí
O açaizeiro pertence à família Arecaceae (Palmae) e destaca-se por produzir importante alimento para as populações locais, o açaí. Trata-se de uma palmeira nativa da Amazônia brasileira, encontrada espontaneamente nos estados do Amapá, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins, e em outros países, como Colômbia, Venezuela, Equador, Suriname, Guiana e Panamá.
As principais espécies de açaí cultivadas no Brasil são: Euterpe oleracea e Euterpe precatoria. A principal diferença entre elas é que a primeira apresenta abundância de perfilhos. Vejamos as suas principais características:
- Euterpe oleracea: conhecida também como açaí-de-touceira, açaí-do-pará, açaí-do-baixo Amazonas ou açaizeiro, essa espécie é uma palmeira autóctone, encontrada nas matas de várzea e de igapó do baixo Amazonas, Tocantins, Maranhão, prolongando-se até o Amapá. Seu estipe é delgado, sem espinhos e atinge em torno de 15 a 20 m de altura e 12 a 18 cm de diâmetro;
- Euterpe precatoria: conhecida por açaí-do-amazonas, açaí-de-terra firme ou açaí solitário, é uma palmeira monocaule com estipe alongado e sem espinhos. Alcança, em média, 20 metros de altura (podendo chegar a 35 m) e 10 a 15 cm de diâmetro. É encontrada no alto Amazonas, Acre e no Mato Grosso.
O açaizeiro é uma planta muito versátil, sendo possível o aproveitamento de todas as suas partes: fruto, estipe, raízes, folhas, palmito, bem como da própria planta no paisagismo, proteção do solo e reflorestamento.
O palmito do açaizeiro é um produto de alto valor econômico que é muito aproveitado nas indústrias. O caule e as folhas são utilizados na construção civil, e o estipe como base em construções rústicas, caibros para cobertura de barracas, matéria-prima na produção de papel e produtos de isolamento elétrico. Já as folhas podem ser usadas na cobertura de barracas, fechamento de paredes e até ração destinada aos animais.
Quanto ao açaí, esse fruto pode ser dividido em dois tipos: açaí roxo e açaí branco. O roxo apresenta cor púrpura quando maduro e é muito utilizado para a produção de “vinho de açaí”, bebida muito conhecida nos estados amazônicos, base da alimentação de muitas populações ribeirinhas. Já o açaí branco, possui cor verde brilhante quando maduro, fornecendo um suco de cor creme-clara.
Produção de açaí no Brasil
No que tange à produção de açaí no Brasil, tem-se observado um crescimento significativo, ganhando destaque nos últimos anos. De acordo com as estatísticas do IBGE, que vem monitorando a produção desse fruto desde 2015, a área colhida cresceu cerca de 72 mil hectares até o ano de 2021. Atualmente, são 208 mil hectares de área colhida, com rendimento médio de 7.136 kg/hectare e produção de 1 milhão e 485 mil toneladas.
Além disso, o valor movimentado pela produção ultrapassou os 5 bilhões de reais, sendo o estado do Pará o grande responsável por essa movimentação. Atualmente, a produção brasileira de açaí se concentra em 12 estados, além do Pará: Acre, Rondônia, Amazonas, Mato Grosso, Roraima, Tocantins, Maranhão, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Espírito Santo.
Diante desses números, o açaí tem atraído cada vez mais produtores de todo o Brasil para o seu cultivo.
Crescimento da área plantada de açaizeiros no Brasil
De acordo com estudo conduzido pela Embrapa, nos últimos 12 anos a área plantada de cultivares de açaizeiro (Euterpe oleracea) aumentou 675%. Esse crescimento se deu devido a vários fatores, como: qualidade genética superior das sementes, práticas de manejo adequadas e cultivo fora das áreas de várzea, levando para outras regiões do país.
O estudo analisou as cultivares BRS Pará (2005) e BRS Pai d’Égua (2019), as únicas variedades do mundo recomendadas para terra firme, tendo em vista que a palmeira é natural de áreas de várzea. O aumento da área plantada no Pará foi de 6.886 hectares plantados com a cultivar BRS Pará em 2010, para 53.374 hectares com as duas cultivares estudadas, em 2022.
Os estados do Pará, Amazonas, Maranhão, Rondônia, Bahia, Amapá e Roraima são os que mais se destacaram na adoção de tecnologias, segundo o monitoramento, sendo esses cálculos feitos a partir da comercialização de sementes e mudas por empresas licenciadas pela Embrapa.
Os efeitos desse crescimento são os mais positivos possíveis, gerando renda nas propriedades agrícolas, além de aumentar a qualidade do solo e a conservação da biodiversidade. De acordo com a avaliação, o benefício econômico gerado pela pesquisa nas regiões analisadas foi de cerca de 201 milhões de reais. Esse resultado se deve, principalmente, à estabilidade do preço do produto e ao crescimento da área em que foi utilizada a solução tecnológica.
Confira mais detalhes de como é feito o cultivo do açaí no Pará, o maior produtor e exportador do país:
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Condições ideais para o cultivo de açaí
É uma espécie de clima tropical quente e úmido, que se adapta muito bem em temperatura média anual acima de 26°C, umidade relativa do ar entre 71% e 91% e precipitação acima de 1.600 mm ao ano.
A planta não é exigente quanto aos solos, desenvolvendo-se mesmo em solos pobres e ácidos, mas apresentando bom crescimento naqueles com maior fertilidade.
Como plantar e cultivar o açaí
No plantio de açaí, a prática mais utilizada é a propagação por sementes, sendo também mais rápida e eficiente. Para a obtenção de sementes é preciso selecionar plantas sadias, precoces e produtivas, observando também outras características importantes, como número de folhas e diâmetro. Após a seleção da planta, devem ser escolhidos frutos pretos e opacos, de preferência na estação de seca da região de origem.
Selecionados os frutos, haverá o seu despolpamento, colocando as sementes em água corrente para retirar o resto da polpa, eliminando-se as imaturas, chochas e atacadas por pragas. Em seguida, as sementes devem ser espalhadas em local coberto e seco, reservando-as por 1 dia.
Após esse processo, a semeadura deve ocorrer o mais rápido possível, tendo em vista que as sementes do açaizeiro perdem o poder germinativo rapidamente, geralmente, depois de 15 dias do seu beneficiamento. Assim, deve-se colocá-las para a germinação imediatamente em solo, em sementeira ou em sacos polietileno. O tempo normal para que as sementes germinem é de 30 dias a 60 dias.
Plantio
Para o plantio em sementeira, utiliza-se substrato formado de areia e pó de serragem. As sementes recém-despolpadas devem ser posicionadas em linhas com espaçamento de até 5 cm umas das outras e profundidade de 2 cm. Caso opte por plantar em sacos de polietileno, colocar 2 a 3 sementes em cada saco com dimensões de 20 cm x 20 cm x 8 cm, cobrindo com substrato de boa qualidade.
Em plantios realizados em sacos, pode-se utilizar a terra retirada da superfície da própria mata ou uma mistura de 3 partes de solo, 1 de esterco curtido e 1 de pó de serragem curtido. Em ambos os casos (sementeira ou saco de polietileno) é preciso irrigar diariamente.
O momento adequado para realizar o transplantio é antes ou durante a abertura do primeiro par de folhas da muda. É nesse momento que serão selecionadas as mais vigorosas, as quais serão mantidas em sombreamento inicial de 50%, aumentando-se a taxa de exposição em até 80% por, no mínimo, 2 meses antes de transportá-las ao local definitivo. Dentro de 3 a 11 meses, a muda apresentará formação completa e estará pronta para o transplante, atingido cerca de 10 a 50 cm de altura.
Com 30 dias de antecedência do plantio, as covas devem ser abertas, recomendando-se as dimensões de 40 cm x 40 cm x 40 cm e adubação prévia com matéria orgânica (esterco de curral – 15l ou de galinha – 3l) e superfostato triplo (200 g). O espaçamento utilizado é de 5 m x 5m entre plantas.
No momento do plantio, deve-se realizar nova adubação com esterco bovino ou esterco de galinha, 150 g de
calcário, 130 g de P2O5 e 70 g de KCl. Recomenda-se que o plantio seja realizado em épocas chuvosas, utilizando-se cobertura morta em volta da muda caso seja feito em época mais seca.
Quando o plantio ocorrer em consórcios como, por exemplo, com cupuaçu ou seringueira, é preciso adequar o solo de acordo com essas culturas. Já em áreas muito degradadas, é importante fazer a calagem e adubação para a recuperação de suas propriedades químicas de acordo com análise química previamente realizada.
Tratos culturais do açaizeiro
Após o plantio do açaizeiro, é importante que algumas práticas sejam estabelecidas para proporcionar melhores condições para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Vamos elencar algumas delas:
- Eliminar toda a vegetação que surgir dentro da área de plantio, visando evitar a competição por nutriente e luz durante o período de estabelecimento das plantas;
- Evitar o uso de enxadas e facões devido ao sistema radicular superficial do açaizeiro;
- Substituir as plantas raquíticas e deformadas, garantindo um desenvolvimento uniforme;
- Proteger o solo com cobertura morta para manter a sua umidade.
Pragas e doença do açaizeiro
Com a expansão do cultivo comercial de açaí, os problemas causados por pragas e doença na cultura têm ficado cada vez mais evidentes. No entanto, ainda não há conhecimento aprofundado sobre elas, fato que torna ainda mais importante o conhecimento sobre o tema.
Pragas
As principais pragas que atacam os açaizeiros são:
- Pulgão-preto-do-coqueiro (Cerataphis lataniae B.): trata-se de um pulgão circular que mede 2 mm de diâmetro, com coloração quase preta, que ataca a planta principalmente quando se encontra no viveiro e nos seus 3 primeiros anos de vida no campo. A praga ataca principalmente a flecha da palmeira e a inserção de folhas jovens ao estipe, atrasando o desenvolvimento da muda, tornando-as raquíticas e com folhas amareladas. Nos viveiros, o controle é feito separando as mudas atacadas, isolando-as por aproximadamente 10 dias, e retirando os insetos manualmente. Após o período de isolamento, deve-se verificar se a praga foi de fato eliminada;
- Broca-do-olho-do-coqueiro, bicudo ou broca-do-coqueiro (Rhynchophorus palmarum L.): essa praga apresenta hábitos diurnos e ataca principalmente os açaizeiros a partir dos 3 anos de idade, quando estão com o estipe suficientemente desenvolvido. O seu ataque ao açaizeiro provoca o aparecimento de enormes galerias no estipe e na coroa foliar, bloqueando a passagem de nutrientes e enfraquecendo a planta, podendo levá-la à morte. Além disso, a praga propicia a entrada de outros microrganismos (fungos, bactérias e vírus) ou insetos secundários que causam outros danos à planta. O controle é feito por meio da eliminação das plantas decadentes ou mortas, bem como evitando-se ferimentos acentuados causados durante a colheita dos cachos. Os estipes eliminados devem ser queimados fora da plantação. O uso de armadilhas é o método mais eficaz contra essa praga.
- Mosca-branca (Alleurodicus cocois C.): a mosca apresenta 2 mm de comprimento, possui 4 asas membranosas e cobertas por secreção purulenta. A praga ataca as mudas no viveiro e, com menos frequência, plantas nos primeiros anos de vida no campo, causando a sua debilitação, atraso no desenvolvimento e produção e, em casos mais severos, pode levá-la à morte. O controle se dá da mesma forma que o apresentado para o pulgão-preto-do-coqueiro;
- Saúvas, tanajuras e formigas-saúvas (Atta spp.): atacam o açaizeiro na sementeira, as mudas no viveiro e as plantas durante seus primeiros anos de vida. As saúvas provocam o desfolhamento das mudas ao alimentarem-se dos folíolos, causando o atraso no seu desenvolvimento e até mesmo a morte. O controle da praga pode ser feito preventivamente, evitando a instalação de viveiros próximos às áreas de matas ou então queimando os sauveiros, aplicando-se inseticidas no solo quando as áreas estiverem infestadas. Já o controle químico é feito por meio de gases liquefeitos (metil bromide), produtos líquidos (termonebulizáveis – fenitrothion e eltametrin) e iscas granuladas (diflubenzuron). Também pode ser feita a gradagem do solo para destruir os ninhos existentes.
Além das pragas citadas, também atacam a cultura: a cochonilha escama vírgula (Mytilococcus (Lepidosaphis) bechii N.), o gafanhoto do coqueiro (Eutropidacris cristata L.), a lagarta-verde-do-coqueiro (Synale hylaspes C.), o inseto-rodilha (Hemisphaerota tristis B.), a lagarta-das-folhas (Brassolis sophorae L.), lagarta-desfolhadora (Opsiphanes invirae H.), broca-do-estipe (Eupalamides dedalus C.), bem como caracóis e lesmas.
Doença
A principal doença do açaizeiro é a antracnose (Colletotrichum sp.), que acomete as mudas em viveiro, ocorrendo apenas em regiões frias e úmidas. Já em condições de campo, não há doença que mereça controle, embora já tenha havido registros de podridão do esclerotium (Sclerotium rolfsii), fusariose (Fusarium sp.) e helmintosporiose (Helminthosporium sp.) em Rondônia.
Veja também: Pragas das palmeiras: conheça as principais e como fazer o controle
Colheita dos cachos de açaí
A primeira colheita do açaizeiro ocorre entre o terceiro e quarto ano do plantio, dependendo das condições edafoclimáticas de cada região, bem como da espécie utilizada. Os frutos são colhidos quando estiverem com uma coloração preta e cerosa, meio opaca. No Pará, por exemplo, a safra do fruto do açaizeiro vai de agosto a novembro, enquanto no estuário amazônico ocorre de julho a agosto.
Os cachos são retirados no alto da árvore, com ajuda de um cinturão, ou outro instrumento que facilite a chegada até eles. Outro método bastante utilizado é o “método garra” que utiliza duas garras de ferro, cinto de segurança, corda e descensor e deve ser praticado por duas pessoas.
Deve-se colocar um plástico ou encerado embaixo da palmeira (coletor), com objetivo de evitar contato direto dos cachos de açaí com o solo. Em seguida, são retirados os frutos, colocando-os em um recipiente arejado, durante um período máximo de 24 horas entre colheita e beneficiamento na agroindústria, reduzindo riscos de contaminação, fermentação e perda de qualidade.
Quais os benefícios do açaí para a saúde?
De acordo com o Ministério da Saúde, o açaí é considerado um alimento de grande valor nutricional, sendo chamado de superalimento, já que constitui uma excelente fonte calórica, com alto teor de nutrientes e antioxidantes, além de poder anti-inflamatório. Vejamos os seus principais benefícios:
- Controla o colesterol: devido ao seu efeito anti-inflamatório e antioxidante, sendo rico em ômega-9, o açaí ajuda a controlar os níveis de colesterol no organismo;
- Aumenta a imunidade: por ser rico em vitamina C, vitamina E, ômega-9 e anticitocinas, estimula as células de defesa do corpo contra infecções e melhora o processo de cicatrização;
- Previne doenças neurodegenerativas: o consumo do açaí auxilia na prevenção de processos inflamatórios no cérebro, já que possui boa quantidade de antioxidantes;
- Fonte de energia: o açaí é um alimento energético e muito nutritivo. Rico em carboidrato, gorduras e proteínas, ele ajuda a combater a fadiga e a exaustão muscular;
- Auxilia no funcionamento do intestino: por ser rico em fibras, promove o aumento do volume fecal e estimula o intestino, sendo um alimento excelente para quem sofre de prisão de ventre;
- Traz benefícios à pele: possui propriedades antioxidantes e é rico em vitamina E, protegendo as células dos radicais livres e prevenindo a formação de rugas.
No entanto, deve-se tomar cuidado com o consumo de açaí em excesso, especialmente por pessoas com sobrepeso ou obesidade, já que se trata de uma fruta com teor calórico alto.
E então, gostou desse artigo? Que tal conhecer mais sobre a cultura do cajá e seus benefícios? Boa leitura!
