O tomateiro é uma das culturas que mais sofrem com prejuízos causados por doenças. Algumas acometem lavouras ao ar livre, outras ocorrem em cultivos protegidos. Algumas atacam tomates rasteiros, outras os tomates estaqueados. Patógeno é que não falta!
Na agronomia, existe o conceito conhecido como “triângulo das doenças”. Ele diz que, para a doença ocorrer, precisa haver três fatores: presença do agente causador, hospedeiro suscetível e ambiente favorável.
Os agentes podem ser fungos, bactérias, nematóides ou vírus. A seguir, vamos falar um pouco sobre as principais doenças do tomateiro, os patógenos que as causam, sintomas, condições ótimas para ocorrência e medidas de controle. Boa leitura!
Requeima
A requeima (ou mela) é a doença que mais preocupa o produtor de tomate. Ela é causada pelo fungo Phytophthora infestans, que sobrevive nas plantas na forma de esporos. Eles podem ser carregados pelo vento, infestando lavouras vizinhas.
Para germinar, os esporos precisam que tenha água na superfície da planta. Em condições de umidade elevada – seja por neblina, chuva fina, orvalho ou até mesmo irrigação – e temperatura em torno de 20 ºC, pode ocorrer a destruição da lavoura em poucos dias.
Os primeiros sintomas surgem na parte superior da planta, podendo causar a morte do broto terminal. Nas folhas, aparecem manchas com aspecto úmido, que eventualmente se tornam necrosadas. Se a umidade estiver muito alta, ocorre a esporulação do fungo e as manchas da parte inferior das folhas ficam esbranquiçadas.
Os caules ficam quebradiços e com manchas escuras e os frutos apresentam lesões necrosadas, secas e firmes, além de ficarem deformados. Se o ataque for severo, ocorre grande contaminação dos frutos e desfolha significativa. Além disso, sob alta umidade a lavoura fica com cheiro característico de decomposição das ramas.
Conforme dito, a doença é favorecida em condições de clima ameno e alta umidade. Sendo assim, para tentar evitá-la, não recomenda-se o plantio em locais que apresentem essas características. Também não se deve plantar próximo à outros cultivos de tomate, ou em terrenos de baixada e sombreados.
Ademais, adote um espaçamento e um sistema de condução compatíveis com a variedade, de modo que o tomate não fique muito fechado, assegurando bom arejamento. Quanto aos fungicidas, dê preferência aos sistêmicos e cuide para fazer rotação de princípios ativos, evitando o desenvolvimento de resistência.
Galhas-das-raízes
Essa doença é causada por nematóides, e por isso, também é comumente chamada de nematóide-das-galhas. Eles sobrevivem na lavoura, e seus ovos e larvas resistem por períodos prolongados nas camadas mais úmidas e profundas do solo.
As espécies mais comuns pertencem ao gênero Meloidogyne, e são: M. incognita (raças 1, 2, 3 e 4), M. javanica, M. arenaria e M. hapla. As duas primeiras espécies ocorrem em todos os tipos de solo e condições climáticas brasileiras. Já M. arenaria é mais encontrada em solos arenosos e M. hapla em regiões de clima mais ameno.
Os nematóides causam o crescimento exagerado das células das raízes, formando as chamadas galhas. Elas atrapalham a absorção de água e de nutrientes, o que faz com que a planta não se desenvolva plenamente. Se a infestação for grande, as plantas ficam amareladas, raquíticas e morrem.
A severidade da doença depende de alguns fatores como a suscetibilidade da cultivar, tipo de solo, espécie e raça do nematóide, entre outros. Solos arenosos facilitam a movimentação dos patógenos e cultivos sucessivos de culturas hospedeiras favorecem a multiplicação dos mesmos.
Como medidas de controle, higienize sempre tudo que entra em contato com o cultivo, como maquinários, implementos, canais de irrigação, etc. Plante mudas sadias, utilize cultivares resistentes, elimine plantas daninhas e aplique nematicidas registrados no sulco de plantio.
Além disso, cobrir o solo com plástico transparente antes de cada plantio ajuda a destruir os nematóides pela alta temperatura. Também é indicado realizar adubação verde e rotação de culturas com gramíneas.
Oídio
O oídio é uma doença fúngica causada pela infestação das espécies Oidium lycopersici e Oidiopsis sicula. Tem maior ocorrência em cultivos protegidos, em estufa ou sob plástico, onde geralmente a temperatura fica mais alta, porém eventualmente pode ser detectada em plantações a céu aberto.
Esses fungos são amplamente encontrados no Brasil, e o O. sicula possui um grande número de espécies hospedeiras. Eles sobrevivem na lavoura na forma de esporos e são disseminados pelo vento.
Se causada pelo fungo O. lycopersici, a doença apresenta como principal sintoma a formação de colônias de coloração branca na parte superior das folhas.
Porém, se a infestação for da espécie O. sicula, esse pó branco não é tão facilmente observado, uma vez que as colônias ficam na face inferior das folhas. Na parte superior, formam-se manchas amarelas que eventualmente ficam necrosadas. Sob ataque mais severo, pode-se afetar toda a folhagem.
Para controlar essa doença, recomenda-se estabelecer as novas plantações em áreas distantes de cultivos de espécies hospedeiras, aplicar fungicida preventivamente, ou logo após o aparecimento dos primeiros sintomas, e dar preferência aos fungicidas sistêmicos à base de enxofre.
Murchas
Diversas doenças apresentam sintomas semelhantes, exemplo disso são as chamadas murchas. Existe, por exemplo, a murcha-de-fusário, causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, a murcha-de-verticílio, causada pelos fungos Verticillium dahliae e Verticillium albo-atrum e ainda, a murcha-bacteriana, causada pela bactéria Ralstonia solanacearum.
Os patógenos sobrevivem no solo por anos e causam infecção nas plantas através da movimentação do solo, mudas infestadas e sementes contaminadas.
Todas elas têm como sintomas o escurecimento dos tecidos vasculares, e o amarelecimento (exceto a murcha-bacteriana) e subsequente murcha das folhas. É comum que apenas um lado da planta apresente sintomas. Os frutos não se desenvolvem, amadurecem ainda pequenos, o que prejudica a produtividade.
A murcha-de-fusário é favorecida pela ocorrência de temperaturas altas (cerca de 28 ºC), solos arenosos com pH baixo e infestado por nematóides. Já o fungo causador da murcha-de-verticílio é bem adaptado a solos neutros ou alcalinos, com temperaturas mais amenas. A murcha-bacteriana ocorre em solos encharcados e com altas temperaturas.
As medidas de controle recomendadas incluem: não plantar em áreas infestadas (pelos fungos, pela bactéria ou por nematóides), fazer rotação de cultura com gramíneas, e, no caso das murchas causadas pelos fungos, utilizar cultivares resistentes.
Talo-oco
Essa doença, que também pode ser chamada de podridão-mole, é causada por bactérias do gênero Erwinia, principalmente E. carotovora e E. chrysanthemi. Elas estão presentes na maioria dos solos brasileiros, o que torna a doença amplamente distribuída.
A disseminação ocorre principalmente por água contaminada, mas também pode ser por meio de insetos, equipamentos, animais ou na realização de atividades como a capina, a desbrota e a amarração. Por isso, essa doença é mais comum em cultivos de tomate estaqueado do que de tomate industrial, que é menos sujeito à esses tratos.
O primeiro sintoma é o amarelecimento da planta. Por dentro, o córtex (parte interna do caule) é destruído, e consequentemente, a planta murcha, os tecidos apodrecem, escurecem, e eventualmente a planta morre.
Nos frutos, as bactérias entram através de ferimentos e causam sua decomposição interna, deixando-os moles e escuros, porém ainda pendurados na planta, com aspecto de “bolsas d’água”.
Temperatura e umidade altas são favoráveis para a propagação da doença, por isso, um dos métodos de controle é evitar o plantio em épocas muito úmidas e quentes, além de ficar bem atento à drenagem do solo e ao excesso de irrigação.
Também é muito importante tomar cuidado na realização dos tratos culturais para evitar machucar a planta, assim como tentar impedir o ataque de pragas, uma vez que os ferimentos são portas de entrada para as bactérias.
Além disso, deve-se evitar o excesso de nitrogênio, assim como áreas próximas a lavouras velhas de tomate, e sempre priorizar a rotação de culturas. Se for utilizar químicos, dê preferência aos fungicidas cúpricos e aplique na região basal da planta.
Podridões
Assim como a murcha, a podridão é um sintoma comum à várias doenças, dando nome à algumas delas. As principais são a podridão-mole (ou talo-oco, citada anteriormente), podridão-de-esclerócio, causada pelo fungo Sclerotium rolfsii, e podridão-de-esclerotínia (Sclerotinia sclerotiorum).
A podridão-de-esclerócio apresenta como sintomas a destruição do tecido da base do caule, que segue para a raiz, folhas e frutos. Em plantas jovens, o ataque do fungo pode causar tombamento. Sob condições de alta umidade, há o aparecimento de micélio branco, principalmente em frutos rasteiros.
Na podridão-de-esclerotínia, os sintomas aparecem na fase reprodutiva. O fungo causa “mela” das folhas e hastes, pode haver formação de micélio branco na base da planta, e com o tempo, o caule fica com aspecto seco. Os frutos dificilmente apresentam sintomas, e quando apresentam são semelhantes aos da podridão-de-esclerócio.
A principal diferença entre essas doenças é que a podridão-de-esclerócio tem maior incidência em períodos quentes enquanto a podridão-de-esclerotínia apresenta um ataque mais severo em cultivos sob clima ameno. Porém, ambas são favorecidas por alta umidade, solos muito argilosos, compactados e encharcados.
Como forma de controle, é indicado plantar cultivares mais eretas, que proporcionem um microambiente mais arejado, além de usar sementes tratadas e de boa qualidade. Também deve-se evitar áreas infestadas, atentar-se para a drenagem do solo, manejar a irrigação para evitar excessos e realizar rotação de cultura.
Manchas foliares
As manchas foliares também são sintomas de uma diversidade de doenças. Algumas mais comuns são: pinta-preta (Alternaria solani), mancha-de-estenfílio (Stenphyllium lycopersici), pinta-bacteriana (Pseudomonas syringae), mancha-bacteriana (Xanthomonas campestris), e septoriose (Septoria lycopersici).
De maneira geral, os sintomas são caracterizados por manchas necróticas bem delimitadas, que variam em tamanho, formato e cor de acordo com o patógeno. São transmitidas via sementes e por esporos presentes no solo, em restos culturais e espalhados pelo vento e água. Além disso, são favorecidas por temperatura e umidade altas.
As manchas da pinta-preta são grandes, escuras, circulares, e podem ou não apresentar halos amarelados. A infestação se inicia pelas folhas mais velhas, e pode atingir também as hastes e os frutos. Já os sintomas da mancha-de-estenfílio são lesões pequenas, escuras e angulares, podendo ou não apresentar rachaduras, e começam a surgir nas folhas mais novas.
Lesões pequenas, circulares, com bordas escurecidas são sinais de septoriose, que assim como a pinta-preta, concentram-se nas folhas inferiores da planta.
Ao contrário das demais, a pinta-bacteriana é mais frequente em condições de temperaturas amenas. Seus sintomas são pequenas manchas necróticas na cor marrom, circundadas por halo amarelo, que aparecem primeiro nas folhas mais baixas. A mancha-bacteriana apresenta sintomas parecidos, porém, nos frutos as lesões são mais claras, maiores e mais profundas.
As medidas de controle indicadas para essas doenças envolvem utilização de variedades resistentes, de sementes e mudas sadias, eliminação de restos de culturas infestados, plantio em espaçamentos maiores, rotação de cultura, cuidados com umidade excessiva e utilização de fungicidas (cúpricos no caso de manchas causadas por bactérias).
Viroses
Os vírus que mais prejudicam plantações de tomate são o geminivírus, o tospovírus e o tobamovírus.
No Brasil, o geminivírus é o que mais acarreta em prejuízos. Ele causa a doença chamada de mosaico-dourado-do-tomateiro, e é transmitido pela mosca-branca.
O tospovírus, por sua vez, causa a doença chamada vira-cabeça-do-tomateiro. Ela tem ocorrência generalizada e é transmitida por várias espécies de tripes.
O tobamovírus é o responsável pelo mosaico-do-fumo e pelo mosaico-do-tomateiro. A transmissão se dá por sementes contaminadas e contato entre plantas.
Os sintomas mais característicos das viroses são a paralisação do crescimento da planta, o amarelecimento e clorose das nervuras, ocorrência de mosaico verde claro ou amarelo/dourado, rugosidade e deformação foliar. Além disso, pode ocorrer bronzeamento, manchas necróticas e amadurecimento irregular de frutos.
As medidas mais eficientes para evitar essas doenças são o uso de variedades resistentes, sementes sadias, erradicação de plantas hospedeiras e claro, o controle dos vetores.
Gostou de conhecer mais sobre as principais doenças do tomateiro? Quer saber ainda mais sobre essa hortaliça? Acesse também nosso post sobre as principais pragas do tomateiro.