Principais lagartas que ocorrem nas lavouras: como identificar e controlar?

Principais lagartas que ocorrem nas lavouras: como identificar e controlar?

Nas últimas safras as lagartas têm se tornado protagonistas quando o assunto é danos nas lavouras. Isso porque diversas espécies têm passado do status de pragas secundárias para pragas primárias – esse é o caso por exemplo das lagartas Rachiplusia nu e Chrysodeixis includens, ambas conhecidas como falsa-medideira da soja.

No entanto, não são somente elas que geram preocupações. As lagartas do complexo Spodoptera (Spodoptera eridania, S. cosmioides e S. frugiperda – essa última, a principal), além da lagarta helicoverpa (Helicoverpa armigera), lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), entre outras, reduzem significativamente a produtividade das culturas em diferentes estádios de desenvolvimento, desde a germinação até a fase final de maturação, aumentando os custos de produção.

Por isso, reconhecer os principais tipos de lagartas, saber como a identificação e o controle são realizados, além dos danos observados a campo é um dos fatores chave para o controle eficiente e sucesso do cultivo.

Quer conhecer as principais lagartas para saber como identificá-las? Então siga a leitura e não deixe mais nenhuma lagarta passar despercebida na sua lavoura! 

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Quais são os tipos de lagartas?

Como falamos anteriormente, existem inúmeras espécies de lagartas que podem causar danos às lavouras, no entanto, algumas delas são consideradas principais e isso se dá por quatro principais motivos:

  1. São capazes de sobreviver, se alimentar e se reproduzir nas principais culturas de interesse agrícola. Esse é o exemplo clássico das lagartas do complexo Spodoptera, de modo que a lagarta-do-cartucho pode se alimentar de mais de 300 espécies de plantas cultivadas e até mesmo de plantas daninhas, o que dificulta o controle e inviabiliza a sua eliminação total das lavouras;
  1. Devido às diferentes condições de clima, de Norte a Sul do país, as lagartas encontram condições ambientais favoráveis ao seu desenvolvimento em praticamente todas as estações do ano e em uma infinidade de culturas. Na disponibilidade de hospedeiros, há condições de manter o ciclo da praga;
  1. As lagartas que são pragas principais de uma cultura também são da cultura sucessora. Em um cenário de sucessão de cultivos cada vez mais expressivos, como a sucessão soja-milho, trigo-soja, algodão-soja, as lagartas encontram condições mais do que ideais para dar continuidade ao seu desenvolvimento e reprodução;
  1. Redução da eficiência dos inseticidas no controle de lagartas, fato que tem aumentado com o passar das safras.

Esse conjunto de situações leva ao aumento da incidência de lagartas, não só em população, mas como em danos, uma vez que algumas espécies que antes eram consideradas pragas secundárias, ou seja, sem muita relevância, têm assumido papel de pragas primárias, principalmente em períodos considerados críticos e chaves para a definição do potencial produtivo das culturas, como a emergência e início do período reprodutivo.

Mas como acertar no controle frente a diversidade de espécies que podem ocorrer? A resposta é uma: acertar na identificação! 

Como identificar lagartas nas plantas?

A identificação correta das lagartas presentes nas áreas de cultivo é o primeiro passo para um controle eficiente. No entanto, nem sempre é uma tarefa simples – para alguns casos ela só é possível via análises laboratoriais. 

Tendo em vista que as lagartas que só podem ser identificadas via análises laboratoriais geralmente exigem medidas semelhantes de controle e se distinguem das demais espécies em relação a cor e comportamento, saber diferenciá-las das demais já é um passo rumo a um controle assertivo.

Portanto, identificar a espécie de lagarta que está ocorrendo pode ser mais difícil do que se imagina, isso porque diferentes espécies podem apresentar grande semelhança. Um caso típico é das espécies denominadas falsas-medideiras, que só podem ser distinguidas por meio de análises morfológicas mais específicas, a nível de laboratório.

As espécies do complexo Spodoptera também podem desafiar até mesmo os profissionais mais experientes, tendo em vista que são diversas espécies, mas pertencentes ao mesmo gênero.

Embora possa parecer confuso, a seguir, vamos conhecer as principais características de cada uma das principais lagartas que ocorrem nos cultivos agrícolas:

Falsas-medideiras (Rachiplusia nu e Chrysodeixis includens)

Falsa-medideira é o nome dado a duas espécies de lagartas que visualmente são muito semelhantes e, para além disso, apresentam o comportamento ao qual se refere ao seu nome: se locomovem como se estivessem medindo palmos.

Essas espécies possuem características distintas quanto ao comportamento: Rachiplusia nu tem como principais culturas hospedeiras o algodão, arroz, cana-de-açúcar, feijão, milho, pastagens, soja e trigo, além de culturas olerícolas. Já Chrysodeixis includens tem como hospedeira principal a cultura da soja, feijão, batata, entre outras.

Na figura abaixo é possível observar que a semelhança entre as duas espécies é grande, exceto para a fase pupa, onde R. nu (figura C), possui pupa de coloração mais escura. Como demonstrado na figura (D), as injúrias causadas por ambas as espécies são caracterizadas por folhas rendilhadas em decorrência da herbivoria.

Diferentes espécies de lagarta-falsa-medideira: (A) Chrysodeixis includens; (B) Rachiplusia nu; (C) Pupa de C. includens (parte superior) e Pupa de R. nu (parte inferior); (D) Injúrias nas folhas causadas por C. includens e R. nu.
Diferentes espécies de lagarta-falsa-medideira: (A) Chrysodeixis includens; (B) Rachiplusia nu; (C) Pupa de C. includens (parte superior) e Pupa de R. nu (parte inferior); (D) Injúrias nas folhas causadas por C. includens e R. nu. Fonte: Bueno e Sosa-Gómez, 2021.

Lagartas do complexo Spodopteras

As lagartas do complexo Spodoptera incluem S. eridania, S. cosmioides e S. frugiperda, essa última, considerada a principal.

Para diferenciação das espécies, algumas características podem ser analisadas:

Spodoptera eridania 

Possui listras de coloração creme e uma das listras interrompida por uma mancha escurecida que não alcança a sua cabeça.

Largarta da espécie Spodoptera eridania em folha de planta
S. eridania possui listras de coloração creme que não alcançam a cabeça do inseto. Fonte: Bueno, 2021.

Spodoptera cosmioides 

Possui listras amareladas no dorso, que alcançam a cabeça do inseto. Além disso, é possível observar triângulos pretos e pontuações brancas distribuídas ao longo do seu corpo.

Largarta da espécie Spodoptera cosmioides em folha de planta
Lagarta S. cosmioides vista lateralmente, onde pode ser observada presença de triângulos pretos e pontos brancos, além de listra amarela de um lado ao outro do corpo. Fonte: Bueno, 2021.

Importante destacar que S. eridania e S. cosmioides tem a cultura da soja como espécie preferencial, causando danos principalmente no período reprodutivo.

Spodoptera frugiperda 

Em contrapartida, é a que possui características mais distintas entre as espécies do complexo, incluindo quatro pontos próximos ao abdômen, pontuações pretas no dorso e um Y invertido sobre a cabeça, principal característica utilizada na identificação.

Essa espécie é favorecida por condições de temperatura e umidade relativa do ar elevadas.

Diferentes fases larvais da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). No quarto inseto, da esquerda para a direita, é possível observar o Y invertido sobre a cabeça da lagarta, principal característica do inseto
Diferentes fases larvais da lagarta-do-cartucho. No quarto inseto, da esquerda para a direita, é possível observar o Y invertido sobre a cabeça da lagarta, principal característica do inseto. Fonte: Da Rosa e Barcelos, 2012.

De modo geral, as lagartas do complexo Spodoptera possuem comportamento noturno, perfurando folhas, cartuchos do milho, maçãs do algodoeiro e vagens de soja, além de provocar intensa desfolha sobre essas e inúmeras outras culturas.

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Lagarta Helicoverpa

Essa espécie de lagarta também é considerada uma praga polífaga. Tem como principais plantas hospedeiras o algodão, arroz, canola, feijão, girassol, milho, milheto, soja, sorgo, trigo, além de culturas olerícolas como batata, alface, rúcula, morango, pimentão, melão, melancia, maçã, uva, entre inúmeras outras.

A coloração da Helicoverpa armigera pode ser desde verde, marrom, amarelo, até tons mais escurecidos. É considerada uma das principais espécies de lagartas dos cultivos agrícolas no mundo todo. 

Essa espécie de lagarta possui o comportamento de penetrar no solo a uma profundidade de até 10 centímetros, o que dificulta o seu controle.

Vista lateral da lagarta Helicoverpa armigera em haste de soja
Vista lateral da lagarta Helicoverpa em haste de soja. Fonte: Araújo, 2014.

Lagarta da soja

A lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis) possui um corpo de coloração variável, de verde claro a pardo-amarela, com presença de pontuações escuras sobre todo corpo.

Essa lagarta tem comportamento noturno, além de ser possível, em altas infestações, observar pequenos grânulos escurecidos, que são as fezes do inseto, sobre a superfície do solo. São favorecidas por clima quente e úmido.

Tem como principais plantas hospedeiras o algodão, arroz, cana-de-açúcar, feijão, milho, pastagens, soja, trigo, entre outras.

Vista lateral da lagarta da soja, com presença de cinco listras brancas longitudinais e pontuações escuras distribuídas por todo o corpo
Vista lateral da lagarta da soja, com presença de cinco listras brancas longitudinais e pontuações escuras distribuídas por todo o corpo. Uma característica marcante da praga é o fato que em em altas populações do inseto, as lagartas tornam-se escuras, mantendo apenas as listras brancas. Fonte: Ávila, 2017.

Como controlar as lagartas?

Mais importante do que saber como, é saber quando controlar as lagartas. Na tabela elaborada pela CropLife em conjunto com o Comitê de Ação à Resistência aos Inseticidas (IRAC Brasil), os principais períodos de aplicação de inseticidas são apresentados. 

Cabe lembrar que a aplicação deve levar em consideração:

  • o nível de dano econômico (NDE) para cada espécie individualmente, 
  • deve ser pautado na rotação de ingredientes ativos (e não apenas de inseticidas, é preciso rotacionar o mecanismo de ação dos mesmos);
  • na adoção de estratégias complementares de controle para evitar a redução da eficiência dos defensivos, bem como seleção de populações resistentes da praga.
Recomendações de manejo com uso de fungicidas na cultura da soja, nas diferentes fases de desenvolvimento da cultura e em diferentes tecnologias (convencional, soja bt, e soja bt refúgio)
Recomendações de manejo com uso de inseticidas na cultura da soja, nas diferentes fases de desenvolvimento da cultura, bem como diferentes tecnologias (convencional, soja Bt, e soja Bt refúgio). Fonte: IRAC, 2023.

O documento disponibilizado conta ainda com as recomendações de manejo antirresistência, que podem ser visualizadas na figura a seguir.

Cabe lembrar que a soja convencional, soja Bt e soja Bt refúgio exigem estratégias diferenciadas de controle, portanto, é necessário que a abordagem para cada situação seja devidamente levada em consideração. 

Lembre-se que a vida útil dos inseticidas também depende do manejo assertivo e sustentável por parte dos produtores e técnicos.

Recomendações de manejo antirresistência de soja Bt, no controle de lagartas da soja
Recomendações de manejo antirresistência de soja Bt no controle de lagartas da soja. Fonte: IRAC, 2023.

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Potencial de danos das lagartas 

O potencial de danos das lagartas é variável, depende da região de cultivo, da cultura hospedeira e do manejo empregado:

  • para a lagarta-do-cartucho, estudos verificaram que uma única lagarta é capaz de consumir em média 73,96 cm³ de área foliar durante o seu ciclo de vida, na cultura da soja. No entanto, à medida que os instares larvais avançam, o consumo é aumentado;
  • lagartas do complexo Spodoptera podem reduzir significativamente a emergência das culturas, se alimentando de plântulas recém emergidas, o que reduz de imediato o potencial produtivo das culturas, uma vez que afeta o primeiro componente de rendimento;
  • lagartas podem reduzir a qualidade das fibras de algodão produzidas, bem como dos grãos de milho;
  • podem favorecer a entrada de microrganismos causadores de doenças no interior dos tecidos vegetais;
  • interferem no potencial de armazenamento das culturas, tendo em vista a redução da qualidade dos grãos colhidos.

Principais medidas de manejo antirresistência de lagartas nas culturas agrícolas, segundo o IRAC

Os inseticidas recomendados e registrados para o controle de lagartas podem ser consultados diretamente no Sistema de Agrotóxicos fitossanitários (AGROFIT).

A recomendação dos inseticidas deve ser realizada após a avaliação do histórico da área, lembrando sempre de utilizar medidas de manejo integrado, como a rotação de culturas, eliminação de plantas daninhas hospedeiras de pragas e realizar o controle de plantas tiguera, que possam ser abrigo das pragas na entressafra ou durante a rotação de culturas. Outras medidas recomendadas incluem:

  • aplicar inseticidas observando o NDE;
  • utilizar sempre produtos registrados e recomendados para a cultura de interesse, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA);
  • utilizar janelas de aplicação de inseticidas para reduzir a exposição das gerações seguintes à molécula inseticida. As janelas de aplicação consistem no tempo em que uma geração da praga passará por todos os estádios de desenvolvimento, ou até a duração em dias do efeito residual de uma única aplicação do inseticida. Essas janelas devem ser de aproximadamente 30 dias, e devem ser utilizadas sempre que possível;
  • alternar aplicações com diferentes modos de ação quando mais de uma aplicação é necessária;
  • sempre que possível, realizar o tratamento de sementes com inseticidas, pois essa medida pode conferir proteção durante o tempo de uma janela (30 dias);
  • quando possível, realizar misturas de inseticidas de diferentes mecanismos de ação, respeitando sempre a compatibilidade entre as moléculas (é importante lembrar que a incompatibilidade química de inseticidas não pode ser visualizada a olho nu, por isso, o conhecimento de misturas é primordial para o sucesso do controle);
  • sempre que possível, priorizar a aplicação com inseticidas seletivos aos inimigos-naturais, não-alvos e benéficos a cultura e ao sistema produtivo;
  • evitar o uso de inseticidas que já apresentam falhas de controle e até mesmo resistência;

Conclusões

Como vimos, as lagartas compõem um dos principais grupos de pragas agrícolas das principais culturas de interesse agrícola. Embora a identificação possa parecer difícil e ser para algumas espécies, ela é o primeiro passo para um controle efetivo, por isso, não deve ser negligenciada.

O manejo antirresistência é fundamental para prolongar a vida útil dos inseticidas e esses devem ser aplicados levando em consideração o limiar de dano econômico, para evitar o uso indiscriminado e sem real necessidade, o que eleva os custos de produção e pode contribuir ainda com a resistência.

O controle de pragas deve ser pensado sempre levando em consideração o manejo integrado de pragas, tendo em vista que as lagartas não são as únicas ameaças das principais culturas. Por isso, identificar as pragas que ocorrem, e quais inseticidas e demais estratégias de manejo reduzem a população das pragas de forma geral, torna-se fundamental para o sucesso do controle.

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