Cochonilha: aprenda a identificar os principais tipos, os danos causados e como fazer o controle

Cochonilha: aprenda a identificar os principais tipos, os danos causados e como fazer o controle

As cochonilhas são insetos pertencentes à ordem Hemiptera e à família Coccoidea. São conhecidas por se alimentarem da seiva das plantas, desviando nutrientes importantes para o seu metabolismo, resultando em perdas de produtividade e qualidade das culturas.

Inúmeras espécies de cochonilhas podem afetar os cultivos agrícolas. As principais são classificadas de acordo com características específicas, como coloração, composição corporal (a exemplo das cochonilhas farinhentas e cochonilhas de carapaça), hospedeiros, entre outras.

Diferentemente do que se pensa, as cochonilhas podem afetar além da parte aérea, ou folhas, ramos e caules das plantas, atingindo também suas raízes. Além disso, elas podem ter diferentes formatos, ou até mesmo serem confundidas com inimigos naturais importantes, como é o caso das cochonilhas farinhentas e larvas de joaninhas.

Por isso, entender a diversidade de espécies que podem ocorrer, como elas podem ser identificadas e para além disso, como realizar a distinção entre as espécies (quesito indispensável para aplicação de um controle adequado), é tarefa fundamental para um manejo eficiente.

Entenda a seguir o que são as cochonilhas, quais as principais espécies, culturas mais afetadas, danos e formas de controle!

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O que é cochonilha?

As cochonilhas são insetos pequenos, que podem medir entre 0,5 e 35 milímetros. Se alimentam de seiva, causando danos ao crescimento e ao desenvolvimento das plantas cultivadas.

A sua coloração varia bastante, podendo ser pretas, marrons ou verdes. Muitas vezes, sua cor dificulta a identificação da praga. Ou seja, o agricultor só se dá conta da sua presença quando boa parte das plantas já se encontram bem danificadas. 

Esses insetos se fixam nas plantas, sugando a seiva e desviando nutrientes. Além disso, assim como ocorre para a mosca-branca, pulgões e outros insetos sugadores, após a sua alimentação, as cochonilhas secretam um líquido açucarado, denominado honeydew (substância rica em carboidratos) que favorece o desenvolvimento de um fungo conhecido como fumagina (Capnodium spp.).

Detalhe do caule de uma planta com presença de duas cochonilhas de coloração branca e substância açucarada denominada honeydew excretada pelas cochonilhas
Substância açucarada liberada pelas cochonilhas após a sucção da seiva e que favorece o desenvolvimento do fungo causador da fumagina. Fonte: Da Silva et al., 2016.
Detalhe de sintomas de fumagina em folhas de sorgo
Fumagina sobre a área foliar de sorgo, demonstrando que o problema não ocorre somente em plantas de espécies frutíferas, mas também de forrageiras e até mesmo de grandes culturas como milho, soja, algodão, entre outras. Fonte: Mendes et al., 2019.
Folhas de laranja (à esquerda) e fruto de laranja (à direita) recobertos de pó preto, sintoma da doença fumagina
A fumagina pode recobrir toda a superfície foliar, caules, ramos e até mesmo frutos, conforme observado em espécies do gênero Citrus. Fonte: Ichida, 2018.

A fumagina, por si só, não causa problemas diretos aos cultivos agrícolas, no entanto, com o seu desenvolvimento, torna-se capaz de recobrir totalmente a superfície foliar, o que impede a fotossíntese e a respiração da planta, afetando portanto o seu metabolismo e consequentemente, a sua produtividade.

Com a liberação da substância açucarada, as cochonilhas atraem ainda, as formigas, que atuam como suas “protetoras” frente aos inimigos naturais.

Um detalhe muito importante é que para o controle das cochonilhas é fundamental que a espécie seja identificada, ou seja, que as cochonilhas farinhentas e sem carapaça sejam distinguidas das cochonilhas com carapaça, pois o controle para o segundo grupo difere em função das suas características, o que veremos no tópico de controle.

Quais são os tipos de cochonilhas?

Existem vários tipos ou espécies de cochonilhas, cada uma com suas próprias características, ciclo de vida, aspecto visual e hospedeiros. Algumas espécies podem afetar uma ampla gama de culturas, a exemplo das cochonilhas farinhentas, incluindo plantas daninhas. A seguir, confira as principais!

As cochonilhas podem ser divididas em três grandes grupos: cochonilhas sem carapaça, cochonilhas com carapaça e cochonilhas de raiz.

Cochonilha sem carapaça

São as espécies mais comuns, podendo ser encontradas tanto em jardins quanto em frutíferas e até mesmo em grandes culturas. Entre elas, a cochonilha farinhenta é a mais frequente.

Seu ciclo de vida passa por três fases: o ovo, a larva e o adulto. A duração de cada uma das fases é variável, pois depende de condições ambientais, hospedeiro, espécie, entre outras, podendo ser de até 100 dias. Além disso, possui rápida reprodução, podendo ser encontradas até cinco gerações anuais do inseto em um único ano agrícola. 

As cochonilhas farinhentas são assim conhecidas pois acumulam um tipo de cera, de característica pulverulenta e de coloração branca, que são depositadas sobre o seu corpo. Elas podem ter entre três a cinco milímetros de comprimento e seu corpo é oval-arredondado. Ninfas se assemelham à fase adulta, no entanto, possuem tamanho reduzido. Nessa fase, iniciam a sua alimentação, e consequentemente, secretam a substância farinácea que protege seu corpo de condições ambientais desfavoráveis.

A coloração de seu corpo pode variar de rosada a acinzentada. Em comparação às demais espécies, a cochonilha farinhenta tem maior movimentação, no entanto, apresenta a característica de se manterem agrupadas, principalmente em locais protegidos da planta. 

Diferentes espécies de cochonilhas farinhentas: A) Dysmicoccus brevipes, B) Planococcus citri, C) Planococcus ficus, D) Pseudococcus spp., E) Pseudococcus viburni, F) Maconellicoccus hirsutus
Diferentes espécies de cochonilhas farinhentas: A) Dysmicoccus brevipes, B) Planococcus citri, C) Planococcus ficus, D) Pseudococcus spp., E) Pseudococcus viburni, F) Maconellicoccus hirsutus. Foto: V. C. Pacheco da Silva e E. C. Prado. In: Da Silva et al., 2016.

Diferentemente do que se pensa, os machos das cochonilhas farinhentas (e de algumas outras espécies) possuem asas, e portanto, voam. As fêmeas, por outro lado, se mantêm fixas nas plantas, em caules e partes abrigadas, como a parte inferior das folhas e até mesmo dobras mais difíceis de serem acessadas.

As principais espécies hospedeiras incluem citros, frutíferas de forma geral como videira, plantas ornamentais e grandes culturas como o algodão.

As principais espécies de cochonilhas sem carapaça incluem:

  • Cochonilha verde (Coccus viridis);
  • Cochonilha preta ou pimentinha (Saissetia oleae);
  • Cochonilha farinhenta (Planococcus citri);
  • Cochonilha de placa (Orthezia praelonga);
  • Pulgão branco, Icerya purchasi e Icerya brasiliensis, diferente do seu nome, são cochonilhas, e não uma espécie de pulgão.

Cochonilha de carapaça

Possui corpo achatado e alongado, de coloração castanho-amarelada, marrom, preta ou esbranquiçada. Esse tipo de cochonilha pode se fixar a qualquer parte da planta, desde caule, folhas e flores e, até mesmo, raízes. São caracterizadas pela presença de uma carapaça ou escudo protetor que cobre o seu corpo. 

A carapaça é formada por uma substância cerosa que é depositada camada após camada sobre o corpo, durante a mudança de um estágio para o outro. Por isso, assim como a cochonilha-de-escamas, esse tipo de cochonilha exige controle diferenciado, baseado principalmente na aplicação de produtos que contenham óleo vegetal ou mineral.

Alguns exemplos de cochonilha de carapaça incluem:

  • Pardinha (Selenaspidus articulatus);
  • Parlatoria preta (Parlatoria ziziphi);
  • Cabeça de preto (Chrysomphalus aonidum);
  • Escama farinha de folhas e frutos (Pinnaspis spp.);
  • Escama lixa (Mycetaspis personata);
  • Escamas-vírgula (Cornuaspis beckii e Insulaspis gloverii);
  • Escama farinha de tronco (Unaspis citri).

É durante o primeiro ínstar que esse tipo de cochonilha se movimenta em direção de um local adequado para se fixar sobre a planta.

Aspecto visual da cochonilha Mycetaspis personata em folhas de diferentes espécies de plantas, demonstrando as diferenças de coloração a depender do hospedeiro
Aspecto visual da cochonilha Mycetaspis personata em folhas de diferentes espécies de plantas, demonstrando as diferenças de coloração a depender do hospedeiro. Fonte: Porceli; Pellizzari, 2019.
Aspecto visual da cochonilha preta (P. zizphi) em plantas do gênero Citrus, demonstrando diferentes estágios de vida
Aspecto visual da cochonilha preta (P. zizphi) em plantas do gênero Citrus, demonstrando diferentes estágios de vida. Fonte: Stocks, 2016.

Cochonilha-de-escama, praga chave da palma-forrageira

É uma das espécies de cochonilhas considerada chave na produção da palma-forrageira. São pequenas e possuem formatos distintos, a depender da espécie. Uma característica que as distingue das demais é o fato de apresentarem corpo recoberto por uma substância farinácea branca.

A cochonilha-de-escama fixa-se nos galhos, folhas e frutos, sugando a seiva e desviando nutrientes importantes. A alimentação dessa cochonilha leva ao amarelecimento das folhas, podendo haver queda de folhas e consequentemente da redução da produtividade dos cultivos.

As principais plantas hospedeiras dessa espécie incluem espécies frutíferas como maçã, pêssego, videira, mas outros cultivos são afetados, como oliveiras e plantas ornamentais.

Exemplares de cochonilha-de-escama agrupados
A cochonilha-de-escama (Diaspis echinocacti) é uma das principais pragas da palma forrageira, planta amplamente utilizada na alimentação animal nas Regiões Norte e Nordeste do país. Elas são importantes sobretudo pelo grande acúmulo de água em seus tecidos, fornecendo esse recurso importante para os animais em épocas de estresse hídrico. Na imagem (A) é possível observar as cochonilhas agrupadas. Na imagem (B), o detalhe da parte superior, e (C) inferior do corpo do inseto. Fonte: Beltrame et al., 2022.

Cochonilha-da-raiz

Assim como seu nome remete, essa espécie de cochonilha costuma atacar as raízes das plantas cultivadas.

Pseudococcus cryptus é uma importante praga do cafeeiro e de espécies de citros. Possui corpo bege e recoberto por uma substância secretada, de coloração esbranquiçada e com filamentos cerosos nas laterais do corpo.

Espécie de cochonilha-da-raiz denominada Pseudococcus cryptus
Característica visual da cochonilha-da-raiz, que pode ser confundida ainda com a larva da joaninha predadora.

As cochonilhas podem ser mais do que pragas: o caso do corante vermelho carmim

Ao contrário do que muitos imaginam, a cochonilha não traz apenas malefícios. Afinal, há uma espécie que produz uma substância que é muito utilizada como corante na indústria alimentícia. 

Uma das principais espécies é a Dactylopius coccus, que produz ácido carmínico, utilizado como forma de defesa. Dada a sua capacidade de oviposição, para a agricultura, pode se tornar uma praga nociva. 

Aspecto visual da cochonilha que produz o corante vermelho carmim, denominada Dactylopius coccus
Aspecto visual da cochonilha que produz o corante vermelho carmim.

Veja também: Lepidópteros: como fazer o controle nas lavouras

Que danos as cochonilhas causam nas lavouras?

Por serem insetos sugadores, as cochonilhas causam diversos danos, podendo inclusive atuar como vetoras de viroses. Além disso, podem causar:

  • má-formação de folhas e frutos;
  • amarelecimento de plantas e mudas que, em seguida, pode levar ao ressecamento dos seus tecidos e queda;
  • redução fotossintética das plantas;
  • danos indiretos por favorecer a fumagina;
  • enfraquecimento e subdesenvolvimento das plantas;
  • queda prematura de folhas e frutos;
  • diminuição na produção da cultura;
  • retardo do início da produção;
  • morte de plantas e mudas;
  • disseminação de vírus e fungos;
  • queda da qualidade dos produtos da agricultura.

Quais culturas as cochonilhas mais atacam?

Como há vários tipos de cochonilhas, e cada uma tem preferências específicas, diversas plantas podem ser atacadas por esse inseto. 

Podem ser encontradas em plantas de jardins, mas, sem dúvidas, seu principal prejuízo ocorre ao atacar culturas de interesse agrícola, principalmente frutíferas e hortícolas, no entanto, as grandes culturas também são alvos importantes.

Os principais cultivos que podem ser afetados por essa praga incluem:

  • plantas frutíferas: maçã, pêssego, citros, videira, entre inúmeras outras;
  • plantas de hortaliças: como tomate, pepino, abóbora, couve e brócolis;
  • plantas ornamentais: roseiras, crisântemos, gerânios, margaridas, entre inúmeras outras;
  • grandes culturas: algodão, soja, café, entre outras.

Como combater a cochonilha?

Existem inúmeras formas de controlar as cochonilhas, no entanto, as estratégias de controle devem ser baseadas no manejo integrado de pragas (MIP), aliando diferentes métodos para alcançar um controle eficiente e duradouro.  

O monitoramento das áreas de produção é o primeiro passo em um controle eficiente de pragas. A segunda, é a identificação correta da espécie que está ocorrendo. 

A identificação é fundamental, pois as cochonilhas de carapaça, por exemplo, exigem controle diferenciado. Isso se dá devido ao fato do seu corpo ser recoberto por camadas sobrepostas de ceras, sendo assim, o controle com uso de inseticidas convencionais pode não ser eficiente. 

Os inseticidas sem a presença de óleo não são capazes de penetrar a camada cerosa e alcançar o corpo da cochonilha. Por isso, inseticidas que contenham óleo são recomendados. Isso porque o óleo impede a respiração da cochonilha, causando a sua morte.

Por isso, a identificação torna-se essencial. Algumas cochonilhas podem ainda ser semelhantes às cochonilhas de carapaça, no entanto, de corpo mole. Na dúvida, é importante saber que o controle pode ser diferenciado a depender da espécie e tipo de cochonilha.

No MIP, o controle biológico, mecânico, cultural, genético e químico pode ser utilizado. 

Controle biológico  

Utilizar inimigos naturais das cochonilhas, como lacraias, percevejos predadores e parasitoides é uma maneira eficaz de combater esse inseto sem o uso de defensivos químicos.

Controle químico 

Nesse tipo de controle, recomenda-se que inseticidas seletivos aos inimigos naturais sejam utilizados sempre que possível, seguindo sempre as instruções de uso e respeitando os períodos e intervalo de segurança, para evitar danos à saúde humana, outros insetos, animais e, até mesmo a outras plantas da lavoura.

Controle mecânico

Em pequenas áreas, é uma das formas de controle mais utilizadas. Consiste em retirar manualmente as cochonilhas, geralmente, utilizando um algodão com uma solução alternativa.

Controle cultural

É realizado a partir do manejo adequado dos cultivos, mantendo as plantas saudáveis, com fertilização adequada, rega e poda corretas.

O método cultural inclui ainda a rotação de culturas, que consiste em rotacionar os cultivos, quando possível, para quebrar o ciclo das pragas. Empregado em cultivos de hortaliças por exemplo. Mas cabe ressaltar que nesse controle é preciso conhecer a espécie de cochonilha, bem como suas plantas hospedeiras. 

Além disso, é importante saber que em muitos casos a rotação de culturas não será eficiente devido ao comportamento polífago das espécies mais frequentes.

Controle alternativo

Consiste na aplicação de produtos alternativos para o controle, como a calda sulfocálcica, calda de fumo, óleo de neem e o próprio óleo vegetal ou mineral. Caldas baseadas em misturas de detergente neutro e vinagre também são utilizadas, principalmente na jardinagem amadora, na proporção de uma colher de sopa de detergente neutro e uma colher de chá de vinagre, para 500 ml de água.

Cabe lembrar que o uso de produtos alternativos também demanda cuidados, isso porque, por exemplo, para a calda de fumo, a solução pode causar intoxicação e deve ser manejada com cuidado, assim como na utilização de qualquer produto para controle de pragas.

Use sempre inseticidas recomendados para a cultura e para a espécie de cochonilha

Os inseticidas devem sempre ser recomendados para a cultura hospedeira em específico e para a espécie que está ocorrendo. Por isso, a identificação e distinção faz-se ainda mais importante.

Inseticidas químicos para controle em lavouras devem ser recomendados por um agrônomo, e os produtos registrados podem ser consultados diretamente no AGROFIT.

Já para controle em jardins e hortas, os produtos recomendados incluem aqueles destinados à jardinagem amadora, que podem ser encontrados em floriculturas e lojas agropecuárias.

As cochonilhas podem causar grandes prejuízos a lavouras inteiras. Por esse motivo, é fundamental fazer o monitoramento, a fim de identificar sua presença ainda em estágio inicial. Desse modo, o controle de pragas será mais eficiente e demandará menos esforço e menor investimento.

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