A kinkan – também chamada de kumquat – é bem diferente de outras variedades de laranja que nós conhecemos. Além do seu pequeno tamanho, curiosamente a sua casca é doce e comestível e a polpa é mais ácida, com alto teor de vitamina C, nutrientes, antioxidantes e minerais.
Trata-se de uma fruta exótica que compõe o grupo dos citros, e que vem conquistando o interesse dos agricultores, especialmente pequenos e médios, já que está em constante valorização.
Neste artigo iremos tratar das principais características da laranja kinkan, espécies, benefícios à saúde e dicas de como plantá-la e cultivá-la. Continue lendo e confira!
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Aspectos gerais da laranja kinkan
A laranja kinkan (Fortunella spp.) apresenta origem asiática, especificamente na China, Sul da Ásia e na região Ásia Pacífico. Pertence à família Rutaceae, que abriga tanto o gênero Citrus como o Fortunella, ao qual o fruto em questão pertence. Por isso, apesar de pertencer a outro gênero, ela apresenta algumas características das frutas cítricas, como o aroma, o sabor, o pH e o teor de vitamina C, mas são menores, contém menor quantidade de gomos e casca mais digestiva.
Os gêneros Citrus, Poncirus, Fortunella, Microcitrus, Eremocitrus e Clymenia compõe o que se denomina citros, um complexo grupo de plantas que produzem frutos semelhantes à laranja e ao limão, com ampla variabilidade de formas, desde os muito pequenos aos muito grandes. Dentre os frutos cítricos, um dos menores são os kumquats ou laranjas kinkan que apresentam cerca de 3 cm de comprimento.
Popularmente chamada de laranja de ouro, laranjinha-ouro, laranjinha japonesa, kinkan e kumquat, a espécie chegou ao Brasil por imigrantes japoneses e espalhou-se, principalmente, no estado de São Paulo. Trata-se de uma árvore de pequeno porte que pode ser cultivada tanto para fins ornamentais, em jardins ou ambientes internos, quanto para o consumo, podendo ser saboreada in natura e em forma de geleias, mousse, compotas, licores e cachaças.
Espécies e características
Existem 2 principais espécies de laranja kinkan ou kumquat: a Fortunella margarita, com frutos ovais e a Fortunella japonica, com frutos arredondados. Vejamos algumas características de cada uma delas:
- Fortunella margarita (kumquat-nagami): Consiste em um arbusto grande ou arvoreta perenifólia, com 3 a 4 metros de altura e copa compacta, geralmente sem espinhos. Suas folhas são simples, coriáceas, glabras, verde-escuras e brilhantes na face superior e coloração mais clara na parte inferior. Apresentam de 3 a 9 cm de comprimento, com pecíolo ligeiramente alado de 6 a 16 mm. As flores são pequenas e perfumadas, solitárias ou reunidas em pequenos grupos axilares e são formadas de outubro a dezembro. Quanto aos seus frutos, são ovais ou oblongos, com pontuações glandulares conspícuas, casca doce e suave, aromática e polpa com 4 a 5 gomos, pouco suculenta e de sabor ácido. Sua maturação se dá no outono e inverno.
- Fortunella japonica (kumquat-redondo): É um arbusto grande ou arvoreta perenifólia com lento crescimento, atingindo 2,5 a 4, 4 metros e copa densa, com ou sem espinhos. As folhas são coriáceas, glabras, verde-escuras, lustrosas, mais claras na face anterior e apresentam 3 a 8 cm de comprimento. Suas flores são brancas e perfumadas, dispostas solitariamente em grupos de 2 a 4 axilares e são formadas de outubro a dezembro. Já seus frutos amadurecem no outono e são globosos ou oval-oblongos, com casca grossa amarelo-alaranjada, grandes pontuações angulares e uma semente por gomo, geralmente. Seu sabor é adocicado e a sua polpa pouco suculenta.
Produção brasileira de laranja kinkan
No que tange à produção, o cultivo da laranja kinkan, assim como os demais frutos exóticos, se dá principalmente em agricultura familiar e vem conquistando aos poucos o mercado. Está muito presente nas áreas rurais e quintais e, geralmente, é comercializado em cadeias curtas e redes agroalimentares, como é o caso das feiras livres. Esses cultivos se dão tanto para consumo próprio como para a produção de polpa, sucos e doces, contribuindo para o desenvolvimento local e regional.
Por exemplo, no ano de 2020, o Paraná comercializou o equivalente a 4 mil quilos da fruta, gerando uma receita de R$ 68 mil ao estado. Inclusive, o IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná) desenvolveu em 2010 a cultivar IPR 152, única cultivar desenvolvida no Brasil de laranja kinkan.
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Composição e benefícios da laranja kinkan
A laranja kinkan pode ser consumida crua e inteira, com a exceção de suas sementes. A sua casca é macia, doce e possui um aroma típico, enquanto a sua polpa é ácida e bastante utilizada em preparos culinários, conforme citamos anteriormente.
De acordo com estudos feitos com a polpa da kinkan, foi detectada a presença de:
- Fenólicos e flavonoides: essas substâncias conferem ao fruto atividade antimicrobiana, favorecem a diminuição da pressão arterial e combatem doenças relacionadas à obesidade;
- Ácido linoleico, linalol e micreno: atribuem capacidade antioxidante e atividade frente à inibição de células de câncer de próstata à laranja kinkan;
- Ácido ascórbico, carotenoides, óleos essenciais e polifenol;
- Vitaminas C, A e do complexo B;
- Minerais (cálcio, sódio, potássio, fósforo e ferro).
Os estudos confirmaram que as propriedades do kinkan se assemelham às propriedades de frutas cítricas, possuindo ainda propriedades desejáveis ao paladar, como elevados teores de sólidos solúveis e baixa acidez.
Como plantar e cultivar laranja kinkan
Conforme citamos acima, a laranja kinkan pertence à família Rutaceae, a mesma do gênero Citrus, conferindo algumas similaridades entre elas. O plantio e o cultivo são duas dessas similaridades e é sobre isso que trataremos agora.
Condições ideais de plantio e cultivo
O crescimento, a adaptação, a taxa de crescimento e o potencial de produção são influenciados por alguns fatores climáticos e pelas condições de solo. Vejamos com mais detalhes cada uma delas.
As árvores de laranja kinkan ou kumquats são plantas que precisam de exposição ao sol, com temperaturas ideais entre 26 e 37ºC. No entanto, são bastante tolerantes a clima frio, suportando temperaturas de 10 a 15ºC sem qualquer prejuízo à planta. Isso a diferencia das frutíferas do gênero Citrus, já que se desenvolve bem em climas que geralmente seriam muito frios para os citros.
Outra diferença entre as plantas Fortunella sp. e Citrus é que as primeiras entram em um período de repouso vegetativo tão intenso durante o inverno que, mesmo nas semanas subsequentes de clima já quente, ainda permanecem sem emitir quaisquer brotos ou flores. Apesar do seu nível de tolerância ao frio, as árvores se desenvolvem melhor e seus frutos são maiores e mais doces em regiões de climas quentes.
Para os citros em geral, a exigência quanto à precipitação pluviométrica é de 900 mm a 1.500 mm anuais. Para obter colheitas economicamente rentáveis faz-se necessária uma precipitação média de 120 mm a 150 mm mensais durante o verão, e 60 mm a 90 mm/mês no inverno.
No que tange aos ventos, geralmente estes influenciam dois aspectos importantes nos citros, como: aumento da demanda hídrica e ocorrência de danos, dependendo da velocidade do vento e do período fenológico da planta. Por isso, é importante utilizar quebra-ventos para evitar que esses efeitos ocorram.
Quanto aos solos, são bastante tolerantes a qualquer pH e à maioria dos tipos solos, exigindo apenas que sejam bem drenados.
Plantio
A laranja kinkan raramente é propagada por sementes, já que não se desenvolvem bem sozinhas. Por isso, geralmente, multiplicam-se por enxertia sobre Poncirus trifoliata ou limoeiro cravo (também conhecido como limão rosa), o porta-enxerto mais utilizado no Brasil.
O limoeiro cravo possui inúmeras características desejáveis, como: precocidade, rusticidade, vigor e tolerância à seca. No entanto, não é recomendável o seu plantio em alguns municípios do triângulo mineiro devido à sua suscetibilidade à morte-súbita-dos-citros.
A escolha do porta-enxerto é muito importante para o sucesso do pomar, já que a sua combinação com a copa irá determinar grande parte das características da planta, como a resistência à pragas, doenças, seca, adaptação a diferentes características físico-químicas, porte da planta, qualidade dos frutos, produtividade, entre outras.
Antes de realizar o plantio das mudas, é preciso adequar o solo por meio da análise dos seus atributos físicos e químicos, verificando as necessidades para o bom desenvolvimento da cultura. A correção e a fertilização química repõe macro e micronutrientes, bem como calcário e/ou gesso, garantindo um ambiente equilibrado para o crescimento das plantas.
Segundo a Embrapa, os macronutrientes mais absorvidos pelos citros são cálcio, nitrogênio e potássio, enquanto os micronutrientes são zinco, manganês e boro. A adição de matéria orgânica também é recomendada para melhorar os atributos físicos, químicos e microbiológicos do solo, fornecendo cálcio e magnésio que ajudam a reter a água e a disponibilização de nutrientes de forma gradual.
O plantio pode ser realizado tanto em pomares como em vasos. O plantio em pomares, quando utilizado porta-enxerto, pode ser espaçado a 2,4 a 3,5 metros de distância ou a 1,5 metros em fileiras separadas e cercadas de 3,5 metros. São também ideais para o plantio em vasos e, nesse caso, as plantas devem ser anãs, sendo utilizadas até mesmo em bonsai. Precisam de regas regulares para impedir que a árvore fique desidratada e constante adubação.
Para o plantio dos citros em geral, a época ideal é no início da estação chuvosa, dando preferência aos dias nublados. No entanto, é possível realizar o plantio o ano todo, dependendo de fatores como o tamanho do pomar e possibilidade de fazer regas das mudas.
Tratos culturais
Efetuado o plantio, é importante manter a área limpa, realizando o controle do mato, principalmente em períodos de estiagem, pois os citros apresentam sistema radicular superficial e sujeito à concorrência. No entanto, não é recomendável uma limpeza exagerada, pois a manutenção de outras plantas abaixo do nível de dano favorece a conservação de características do solo.
Além disso, é importante fazer uma avaliação regular da fertilidade do solo, por meio de análises periódicas de amostras. Por meio do conhecimento dessas informações, será estabelecido o manejo de calagem e adubação. Recomenda-se também que, anualmente, sejam realizadas aplicações foliares com boro, manganês e zinco para manter os fluxos do crescimento vegetativo.
Quanto à necessidade de irrigação para citros, esta dependerá do balanço hídrico da região ou dos períodos de déficit hídrico que apresenta. Por exemplo, regiões com precipitações próximas ou superiores a 1.200 mm anuais que apresentem períodos de estiagem superiores a dois meses devem adotar um sistema de irrigação para a manutenção da produtividade da cultura.
Desse modo, a irrigação permitirá que sejam evitadas as incertezas climáticas, especialmente durante os períodos de brotação, emissão de botões florais, frutificação e início do desenvolvimento do fruto, momentos em que a demanda por água é maior. Recomenda-se a adoção dos sistemas de irrigação por microaspersão e por gotejamento.
Por fim, os citros geralmente começam a produzir no terceiro ano, desde que reunidas as condições ideais de clima, solo e manejo. A maturação da laranja kinkan ocorre principalmente entre o meio e fim do inverno, momento em que tendem a ser mais doces. É recomendado que as frutas sejam colhidas individualmente com 2 a 3 folhas presas ao seu caule.
A laranja kinkan é uma boa opção para quem possui pouco espaço disponível em casa, uma vez que pode ser plantada em vasos. Confira o passo a passo do plantio no vídeo a seguir:
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Doenças e pragas que atingem a laranja kinkan
A laranja kinkan é uma das poucas frutas cítricas que apresenta alta resistência ao cancro cítrico, doença causada pela bactéria Xhantomonas axonopodis pv. citri, que provoca a diminuição da produção com lesões nas folhas, frutos e ramos, causando a sua queda. Os traumas causados nos frutos provocam o rompimento da casca e a entrada de outros microrganismos que aceleram a sua podridão.
Essa resistência pode ser explicada pela presença de compostos antimicrobianos ou então pela morte celular induzida pela hipersensibilidade ao patógeno na Fortunella spp. Quando atacadas pela bactéria X. citri, desenvolvem rapidamente a necrose, reação semelhante à hipersensibilidade, exibindo menor atividade antioxidante enzimática e acumulando menos peróxido de hidrogênio (H2O2). Possivelmente são essas modificações que servem de barreira física ao desenvolvimento do patógeno e suprimem a sua lesão.
Vale destacar também que as kinkans são suscetíveis às bactérias Candidatus liberibacter asiaticus e Candidatus liberibacter americanus, causadoras do greening ou huanglongbing (HLB), umas das mais importantes doenças dos ctiros. Essas bactérias são transmitidas pelo psilídeo (família Psyllidae), inseto saltador que mede de 2 a 3 mm de comprimento, de coloração castanho-amarelada e pernas castanho-esverdeadas. A doença causa redução do tamanho e qualidade dos frutos e da produtividade da cultura, pois causa desvio na seiva da planta.
Além disso, podem ser atacadas por cochonilhas, pulgões e doenças de podridão radicular, devendo evitar excesso de água e prezar por solos bem drenados.
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