A leptospirose é uma patologia extremamente comum e preocupa muito os pecuaristas em geral, já que afeta desde os bezerros até as vacas adultas, gerando graves consequências, especialmente na vida reprodutiva do rebanho.
Trata-se de uma doença infecciosa provocada pelas bactérias do gênero Leptospira, de espectro mundial, que oferece risco também aos humanos. Em nosso país, a leptospirose está distribuída em todo o território e é frequente em diversos animais de produção, desde os bovinos, equinos, suínos e muares.
O quadro é tão preocupante que gera consideráveis perdas econômicas, já que influencia na queda de produtividade dos animais, além de causar infertilidade, abortos, mortalidade de bezerros, entre outros problemas.
Considerando que 30% das vacas em rebanhos brasileiros apresentam falhas reprodutivas e que o controle sanitário está muitas vezes relacionado com a terapêutica e prevenção da leptospirose, é fundamental que você, produtor, conheça todos os detalhes que envolvem essa doença. Continue lendo e confira!
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Entendendo melhor o que é a leptospirose
Por tratar-se de uma infecção sistêmica causada por um gênero de bactérias, a leptospirose pode ter seu curso subclínico, clínico sintomático ou até mesmo crônico. O gênero Leptospira, em sua composição antigênica, conta com 23 sorogrupos e mais de 200 sorovariantes espalhados no mundo todo.
Os mais comuns encontrados em terras brasileiras afetam tanto os animais de produção e domésticos quanto o homem, com transmissão direta.
Segundo a Embrapa, no Brasil a prevalência de animais infectados varia de 40 a 97% dos rebanhos estudados. Por isso, é vital o conhecimento acerca da doença, uma vez que o animal clinicamente recuperado pode continuar eliminando a leptospira no ambiente por cerca de 1 ano.
Quais os sintomas de leptospirose em bovinos?
Dentre as manifestações da leptospirose em bovinos, temos três formas principais:
- Forma aguda: geralmente ocorre em animais mais jovens, apresentando sintomas como febre, anorexia e hemoglobinúria (presença da hemoglobina em excesso na urina). Raramente são observados abortos.
- Forma subclínica: ocorre principalmente em vacas que não estão gestantes e que aparentam completa sanidade. Apesar de não provocar alterações nos animais, estes seguem eliminando a bactéria no ambiente;
- Forma crônica da doença: trata-se do quadro em que a leptospirose já é claramente observada com reflexos reprodutivos importantes. Nessa fase são comuns abortos, geralmente durante o terço final da gestação, além de distúrbios como a natimortalidade, a retenção da placenta ou o nascimento de bezerros fracos.
A forma mais grave da doença atinge principalmente os terneiros, que ficam mais frágeis e apresentam sinais como febre, icterícia, ou seja, aparência amarelada das mucosas, hemoglubinúria, com urina escura, inclusive com presença de sangue.
Outros sinais associados à leptospirose são: a redução na produtividade leiteira, o aumento do intervalo entre partos e a subfertilidade. Além disso, a leptospira também pode afetar as glândulas mamárias, tanto na fase aguda como na crônica, o que pode vir a causar mastite atípica e provocar a diminuição da produção e fortes incômodos nas matrizes.
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Como ocorre a transmissão da leptospirose?
Para entender como ocorre a transmissão, é importante conhecer a cadeia epidemiológica que tem início com as fontes de infecção, ou seja:
- Portadores em incubação: entre 2 e 19 dias de contato com o agente. Ainda não estão eliminando a bactéria no ambiente;
- Portadores convalescentes: manifestam os sintomas clínicos de forma aguda, especialmente, e continuam eliminando o agente pela urina durante semanas ou até mesmo meses após o tratamento ser estabelecido;
- Portadores sadios: já não apresentam sintomas nem quadro clínico, mas eliminam a bactéria pela urina, comprometendo a sanidade do rebanho. São identificados apenas por meio de exames sorológicos e bacteriológicos.
Além dos indivíduos que compõem o rebanho, existem também os “reservatórios de leptospiras“. Estes são considerados fontes de infecção sem sinais clínicos característicos que, apesar de estarem fora do rebanho bovino, continuam a propagar as leptospiras no ambiente.
Dentre os principais exemplos de reservatórios de leptospiras, bem como os mais preocupantes em relação ao controle sanitário, estão os roedores, tanto por sua proximidade como pela sua difícil erradicação. Além disso, os suínos representam também importantes focos da doença, já que não apresentam sinais clínicos e eliminam as leptospiras por longos períodos através da urina mais alcalina.
No que tange à transmissão, a água é o maior risco. Locais como açudes e lagoas permanecem infectados por longos períodos, sendo importante ressaltar que águas poluídas, salgadas ou congeladas não mantêm a bactéria viva.
Alimentos contaminados, pastagens e solos úmidos também são locais de risco, mas a penetração do agente só ocorre por meio do contato com a pele do ser suscetível ou diretamente nas mucosas. Além disso, o sêmen de touros infectados também pode transmitir o agente, tanto por monta natural como por inseminação artificial.
Portanto, a doença é transmitida de forma direta por meio do contato com urina, sangue, sêmen, secreções vaginais, mordeduras, ingestão de tecidos que estejam infectados ou ainda pela exposição à água, solo ou alimentos contaminados pela bactéria.
No entanto, o principal meio de transmissão da leptospirose é a urina, pois o animal, quando contaminado, pode eliminar leptospiras pela urina, mesmo com o tratamento clínico sendo realizado.
Como diagnosticar leptospirose em bovinos?
O diagnóstico é feito especialmente por meio de informações epidemiológicas, ou seja, características ligadas aos sinais clínicos recentes, manejo adotado e presença de possíveis locais de contaminação na propriedade.
É importante considerar também a queda reprodutiva dos animais do plantel, o alto índice de infestações de roedores e até mesmo criações de suínos próximas ao rebanho, durante os períodos mais chuvosos do ano em conjunto com picos de manifestações clínicas.
Devido à similaridade da leptospirose com outros quadros sistêmicos e infecciosos, é importante associar a clínica, o histórico e os exames complementares com o apoio do médico veterinário de confiança para fechar um diagnóstico.
O teste padrão utilizado é a soroaglutinação microscópica (SAM) com uso de sorovares predominantes no local de criação do rebanho, teste de Elisa e visualização das leptospiras em microscópio de campo escuro.
Afinal, qual é o tratamento da leptospirose?
Se você identificou os sinais da leptospirose em seus animais, procure imediatamente um médico veterinário para fazer os exames e o diagnóstico do problema.
Nos animais infectados pela doença o tratamento é feito com o uso de antibióticos para controle e eliminação de leptospiras, sendo que os princípios ativos mais utilizados são a estreptomicina e a penicilina, pois conseguem atingir bons resultados. No entanto, esses resultados estão ligados principalmente às variantes sorológicas identificadas no rebanho.
A dosagem do antibiótico deve ser indicada pelo médico veterinário, sendo calculada geralmente de acordo com a categoria e o peso do animal a ser tratado, sendo a sua administração feita via intramuscular. Quanto ao tempo de tratamento e aos cuidados necessários, estes dependerão das peculiaridades de cada caso.
Quadros agudos da doença podem exigir a realização de cuidados mais intensivos e fluidoterapia para manter o funcionamento e o equilíbrio saudável dos órgãos internos.
Por fim, é importante lembrar de manter os animais doentes e em tratamento em locais diferentes e, de preferência, distantes do restante do rebanho.
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Medidas para controle e prevenção da leptospirose
Os melhores métodos para prevenir o quadro da leptospirose bovina são:
- Controle sanitário frequente e cauteloso;
- Calendário de vacinação em dia;
- Adoção de medidas de higiene.
A vacinação deve ser feita em bezerros entre 4 e 6 meses de vida, com aplicação de doses de reforço a cada semestre.
Além de manter o controle sanitário em sua propriedade, com atenção à aplicação correta de vacinas de boa qualidade, é importante observar o rebanho de forma constante e realizar testes fisiológicos regulares para manter o histórico produtivo, atentando-se a qualquer tipo de manifestação clínica associada à doença.
Além disso, outro ponto de grande relevância é a higiene. É fundamental identificar possíveis fontes de infecção, como pequenas represas e áreas úmidas em geral, inclusive áreas irrigadas. Aliado à isso, é importante manter bem higienizados os bretes, cochos, troncos, seringas, alojamentos de empregados, galpões de armazenamento de alimento, sal, maquinários e ferramentas.
A partir de cuidados básicos e constantes você é capaz prevenir maiores complicações, além de perdas econômicas em seu rebanho. Por isso, não deixe de cuidar dos detalhes e observar sempre o desempenho do seu rebanho e, ao menor sinal de risco ou mínima suspeita, dê início ao acompanhamento com o médico veterinário para investigar e zelar pelos seus animais. Lembre-se que a leptospirose pode acometer você também!
Por fim, para arrematar o conteúdo deste artigo, elaboramos o infográfico abaixo contendo as principais dicas para evitar a leptospirose no seu rebanho. Confira:
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