A cultura do algodão representa um mercado atraente para os produtores brasileiros, no entanto, possui diversos entraves, incluindo os mercadológicos, climáticos e relacionados à ocorrência de pragas e doenças.
Dado o fato de que a cultura do algodão pode ser atacada por diversos patógenos, incluindo inúmeros que causam doenças na cultura da soja, é importante que produtores e técnicos reconheçam rapidamente quais patógenos estão ocorrendo na área de cultivo.
A seguir, entenda o panorama da produção de algodão no Brasil, fatores limitantes à produção, identificação, sintomas e controle das principais doenças da cultura. Boa leitura!
Produção de algodão no Brasil
De acordo com o terceiro levantamento de safra divulgado pela Conab, haverá um aumento de 2,3% na área cultivada com algodão no Brasil, em comparação com a safra passada.
Para a produtividade, os dados são animadores, com estimativa de incremento em 13,9% da produtividade da cultura, passando a 1815 kg/ha.
Acompanhando a mesma tendência, a produção estimada da cultura é de +16,6%, sendo esperado que sejam colhidos mais de 2,97 milhões de toneladas da cultura.
Dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), indicam que os incrementos na produção e produtividade da cultura estão relacionados principalmente ao bom desempenho da cultura no país e perante ao mercado internacional.
Os preços atraentes pagos na exportação têm refletido em aumento das áreas e dos investimentos para obtenção de maiores rendimentos e qualidade do produto.
Além disso, fatores climáticos desfavoráveis na produção norte-americana (com expectativas de queda em 18,78%), refletiram em oportunidades interessantes para os produtores brasileiros.
Fatores limitantes à produção
No entanto, para obtenção do máximo potencial produtivo da cultura, é necessário:
- Condições climáticas favoráveis;
- Condução de manejo compatível: adubação equilibrada, tratos culturais, controle de pragas, plantas daninhas;
- Monitoramento e controle das doenças que ocorrem na cultura: podem limitar a produção consideravelmente reduzindo ainda a sua produtividade.
Diversas doenças podem ocorrer na cultura do algodão, em diferentes estádios de desenvolvimento da cultura e influenciadas pelas culturas anteriormente cultivadas.
Esta influência pode ser positiva, quando a rotação de culturas é realizada com espécies não hospedeiras de patógenos de ocorrência na cultura, ou negativa, quando a rotação não é realizada, aumentando o inóculo primário (população de patógenos).
Existem ainda patógenos para os quais a rotação de culturas não é efetiva, sendo necessário, portanto, que estratégias de manejo de forma conjunta sejam utilizadas na área, como o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas.
No infográfico a seguir, apontamos as doenças de ocorrência na cultura do algodão nos diferentes estádios de desenvolvimento, destacando também os órgãos da planta nos quais cada doença interfere, para que você possa saber onde deve inspecionar para o correto diagnóstico e controle direcionado. Confira:
Leia também: Melhores técnicas para aumentar a produção de algodão.
Principais doenças que ocorrem nas lavouras de algodão
As duas principais doenças de ocorrência nas regiões produtoras de algodão incluem a mancha de ramulária, causada por um fungo que sobrevive em restos culturais e a mancha angular, causada por uma bactéria.
Ambas podem ser ligeiramente confundidas em função do formato das lesões, mas distinguem-se facilmente, é o que nós veremos a seguir!
Os nematoides, embora não sejam muito lembrados, também vêm preocupando produtores de inúmeras regiões produtoras, por isto, as principais espécies e sintomas serão apresentados.
Ramulária
Causada pelo fungo Ramularia areola, a mancha de ramulária é considerada uma das principais doenças da cultura.
Como identificar no campo?
Em função dos sintomas da doença serem bastante característicos – manchas angulares branco-azuladas, o reconhecimento é relativamente simples.
Além disso, com o conhecimento das condições ambientais favoráveis e o histórico de doenças da área, o monitoramento também pode facilitar o reconhecimento precoce da doença.
Sintomas e danos
Os sintomas ocorrem em ambas as faces da folha, no entanto, o início é na face superior. Inicialmente são observadas manchas de formato angular, e coloração branco-azulada, características da doença.
As lesões têm tamanho entre 1 a 3 mm, podendo tornar-se maiores com o progresso da doença.
Com o avanço da doença, e em função da esporulação do fungo, as lesões tornam-se esbranquiçadas/amareladas. Após a esporulação do patógeno, as lesões tornam-se de coloração escura (necróticas), levando a queda das folhas.
A doença se manifesta com maior intensidade especialmente na fase reprodutiva da cultura.
Os danos observados na cultura incluem desfolha precoce de folhas e capulhos.
Condições favoráveis
Temperaturas entre 25 a 30ºC associadas a alta umidade relativa do ar são favoráveis à doença, exigindo monitoramento constante.
Principais estratégias de controle
- Monitoramento constante da lavoura e identificação precoce dos primeiros sintomas;
- Uso de cultivares tolerantes ou resistentes, quando disponíveis;
- Controle com uso de fungicidas (que podem ser consultados no AGROFIT).
Mancha angular
Esta doença é causada por uma bactéria e é conhecida também como bacteriose do algodoeiro ou como crestamento bacteriano.
Diferentemente da mancha de ramulária, que também se manifesta com manchas de formato angular, a mancha angular causada pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum apresenta coloração distinta.
A mancha angular é bastante agressiva. Além disso, já foram identificadas mais de 20 raças fisiológicas distintas.
Como identificar no campo?
A identificação a campo pode ser realizada através da observação dos sintomas, observação do histórico da área e das condições ambientais favoráveis.
Sintomas
Os sintomas podem ocorrer em todas as partes da planta, e predominantemente com presença de manchas de formato angular e coloração marrom escuro (necróticas), além disso, as manchas são acompanhadas de aspecto oleoso, especialmente quando as folhas são posicionadas contra a luz (como se um pingo de óleo fosse sido depositado na superfície foliar).
Condições favoráveis
Temperaturas entre 30 a 36ºC (acima da ideal para a mancha de ramulária), e alta umidade relativa do ar, especialmente em semeaduras demasiadamente adensadas, favorecem a ocorrência da doença.
Principais estratégias de controle
- Concentram-se em evitar a entrada na doença na área de cultivo. O uso de sementes certificadas e de procedência é uma das estratégias, visto que a doença é transmitida via sementes;
- Como os insetos são vetores da doença, também devem ser controlados na área de cultivo;
- O uso de cultivares resistentes ou tolerantes também é recomendado;
- Por ser uma bacteriose, produtos à base de cobre podem ser utilizados, no entanto, estes exercem controle preventivo, não sendo capazes de curar a doença internamente aos tecidos das plantas, por isto, as estratégias anteriores devem ser adotadas em conjunto;
- A adubação equilibrada e a eliminação de restos culturais também configuram medidas complementares ao controle.
Nematoides
Diversas espécies causam perdas significativas na cultura do algodão.
Muitas vezes estes animais microscópicos, que são na realidade vermes, passam despercebidos e são negligenciados, visto que não podem ser facilmente visualizados, estando protegidos dentro do solo e dos tecidos das plantas.
A ocorrência de nematoides vem aumentando nas regiões produtoras, requerendo atenção dos produtores.
As principais espécies são:
- Nematoides das galhas: Meloidogyne incognita.
- Nematoide reniforme: Rotylenchulus reniformis.
- Nematoides das lesões radiculares: Pratylenchus brachyurus
É importante frisar que diferentemente do nematoide das galhas, o nematoide das lesões causa lesões internas à raíz, com escurecimento. Já o nematoide reniforme resulta em sintomas de “carijó” na parte aérea da planta.
Na figura abaixo é possível observar as diferenças dos sintomas entre o nematoide das galhas e o nematoide das lesões.
- Nematoide da parte aérea ou da haste verde: Aphelenchoides besseyi.
Esta espécie já causa problemas consideráveis na cultura da soja, é o causador da chamada Soja Louca, e tem como hospedeiro ainda a cultura do feijão, algodão, trapoeraba, além de diversas forrageiras, como braquiária, gênero Panicum spp., Pennisetum spp, dentre outras.
No algodão, pode causar até 100% de perdas das plumas, afetando drasticamente a produção.
Milheto, sorgo e milho não são boas hospedeiras, mas podem facilitar a sobrevivência do nematoide na palhada.
Dentre estas espécies, o nematoide das galhas é o que pode ser visualizado com maior facilidade, visto que as fêmeas tornam-se imóveis e permanecem aderidas às raízes resultando em formação de galhas.
As demais espécies possuem hábito migrador, sendo seus sintomas muitas vezes confundidos com outras doenças, especialmente causadas por fungos.
Como identificar no campo?
Os nematoides se manifestam formando reboleiras, pequenos círculos ao longo da lavoura onde as plantas apresentam crescimento reduzido.
Para o diagnóstico assertivo, amostras de solo devem ser coletadas em diferentes pontos da lavoura e levadas a um laboratório imediatamente.
Desta maneira, será possível identificar a espécie de ocorrência, bem como a população existente na área, e assim, definir as melhores estratégias de manejo.
Vale lembrar que a progressão dos nematoides ao longo da área ocorre ao passar dos anos, e que a identificação rápida pode evitar que outras áreas sejam contaminadas, uma vez que o manejo de solo e os tratos culturais, com uso de máquinas, pode disseminar esses patógenos em áreas onde antes eles estavam ausentes, causando prejuízos significativos a longo prazo para os produtores.
Sintomas
As plantas apresentam crescimento desuniforme, reduzido e podem ainda murchar, adquirir coloração clorótica/amarelada das folhas, resultando em redução da produtividade.
Algumas espécies, como os nematoides das galhas, desencadeiam ainda reações por parte da planta que resultam em crescimento hipertrofiado das raízes, com formação de galhas (semelhantes à tumores).
Condições favoráveis
São beneficiados por solos úmidos, mas não encharcados. Em solos secos, ou sob déficit hídrico, sua movimentação fica limitada e eles podem ainda permanecer inativos, voltando à atividade quando as condições ambientais tornam-se favoráveis.
Sob condição de estresse hídrico é comum visualizar locais da lavoura com plantas em reboleiras apresentando murcha, isto porque, em função do desvio de nutrientes e água, as plantas tendem a tolerar menos períodos com ausência de chuvas.
Principais estratégias de controle
- Rotação de culturas, com espécies não hospedeiras, a depender da espécie do nematoide que está ocorrendo;
- Uso de cultivares resistentes, no entanto, para isto é imprescindível o diagnóstico correto e inclusive da raça que está ocorrendo. O nematoide das galhas, por exemplo, possui mais de 10 raças relatadas, causando problemas principalmente na cultura da soja;
- Mapear as áreas afetadas para realização dos tratos culturais em ordem de áreas não afetadas, para em último, áreas afetadas. Além disso, a limpeza de máquinas e equipamentos é fundamental. É necessário lembrar que a principal via de disseminação, em grandes áreas, é através de máquinas;
- Uso de controle químico e/ou biológico. Ambas as opções estão disponíveis, devendo ser adequadas e podendo inclusive, serem utilizadas em programas de manejo integrado, observando a compatibilidade entre ambos;
- Tratamento de sementes quando disponível.
Veja também: Armazenamento do algodão: confira os cuidados.
Conclusão
A cultura do algodão pode ser acometida simultaneamente por inúmeras doenças, causadas por fungos, bactérias, vírus e nematoides. Desta maneira, o conhecimento sobre o histórico de ocorrências na área de cultivo é indispensável.
Isto porque os fungos necrotróficos, bactérias, e os próprios nematoides podem, em sua maioria, sobreviver nos restos culturais no solo. Como os restos culturais podem demorar mais do que o intervalo de cultivo entre uma safra e outra da mesma cultura, medidas complementares devem ser adotadas.
O manejo integrado de doenças (MID) com uso de cultivares resistentes/tolerantes, sementes certificadas, controle cultural e controle químico auxiliam na obtenção de um controle mais efetivo e na redução de perdas causadas por doenças.
Lembre-se sempre de consultar um engenheiro agrônomo para recomendações de controle.
E então, este artigo foi útil para você? Aproveite e acesse também nosso post sobre as doenças da cana-de-açúcar. Boa leitura!