Desafios da logística no agronegócio são analisados constantemente por toda a cadeia produtiva. Considerando a importância do setor agropecuário para o Brasil, que representa 21,6% do PIB, os desafios logísticos são problemas de primeira ordem para o país.
De um lado, temos a eficiência produtiva, que demanda sempre por maior estrutura. De outro, temos ineficiência estrutural que não consegue acompanhar o ritmo das demandas.
Para superar esses desafios e crescer de maneira sustentável, é preciso encará-los de forma coletiva. Todos que têm participação, seja o produtor ou o Estado, precisam estar juntos para poder desenvolver caminhos saudáveis e lucrativos para o país.
Então, vamos conferir 5 dos principais desafios logísticos que o setor agrícola precisa enfrentar:
1- Dependência excessiva das rodovias
Segundo o mais recente levantamento da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), 65% do transporte de carga do Brasil, principalmente o escoamento da safra agrícolas, é feito por rodovias e apenas 15% por ferrovias. O restante, cerca de 20%, é feito por por embarcações aquáticas e aviões.
Não é nada desejável, uma vez que a dependência extrema compromete a eficiência e a agilidade que os transportes necessitam. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos 43% do transporte de cargas é feito por ferrovias e 32% por rodovias.
Quer mais um exemplo dessa discrepância no agronegócio? Enquanto no Brasil 74% da produção de soja é escoada por transporte rodoviário, nos Estados Unidos o percentual é de apenas 1%, graças aos investimentos em hidrovias e ferrovias desde o século XIX.
Além disso, os diversos problemas estruturais acabam comprometendo o processo de entrega. Segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte, 57% dos trechos de rodovias federais e estaduais apresentam problemas que comprometem a logística no transporte, como buracos, sinalização inadequada e geometria das vias.
Os desafios não estão restritos ao setor agrícola. Afinal, grande parte da logística brasileira é extremamente dependente deste modal. Entre todos os transportes logísticos, 75% acontecem nas rodovias. Mesmo outros meios, como o ferroviário e aéreo, dependem das rodovias para que a carga chegue até os pontos de embarque.
O resultado é um setor muito dependente dos caminhões. E, além da manutenção convencional, os veículos necessitam de reparos imprevistos com certa frequência por causa de problemas estruturais das rodovias, principalmente buracos, comprometendo a vida-útil dos caminhões. Por fim, o produtor agrícola vê um aumento excessivo nos custos de toda a cadeia produtiva.
2- Infraestrutura deficiente
Infraestrutura tem sido um grande desafio para o agronegócio. O sistema rodoviário apresenta problemas na sua estrutura logística.
Quando a produção é destinada à exportação, como é o caso da soja e do milho, os portos costumam ficar muito longe das fazendas.
Dessa forma, após percorrer até milhares de quilômetros por rodovias, os caminhoneiros enfrentam longos congestionamentos nos portos uma vez que, por serem poucos no país, atendem a um grande número de produtores do país. O movimento é ainda maior nos períodos de colheitas.
Falta armazenamento
Além disso, os agricultores não contam com depósitos para armazenar toda a demanda que possuem. Atualmente, a safra agrícola só aumenta, mas o sistema rodoviário e os portos não conseguem acompanhar o ritmo de crescimento. E esses problemas também acabam encarecendo todo o processo do agronegócio brasileiro.
A capacidade de armazenagem do País é de 169 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isso é capaz de atender apenas 66% da produção, estimada em
253,7 milhões de toneladas de grãos na safra 2018/2019.
Portanto, se não há como armazenar tudo o que está sendo colhido, aí entra a questão da logística no agronegócio. O produtor muitas vezes está tirando da terra e já colocando nos caminhões para, literalmente, se ver livre de um problema (falta de armazenagem), só que vai se esbarrar em um outro bem pior: os problema de infraestrutura.
Portanto, parte safra fica “armazenada” nos caminhões, tanto durante transporte como também na fila nos portos.
3- Processos precários e antiquados
O setor agrícola é um dos primeiros a adotar novas tecnologias, mas nem sempre isso acontece de maneira estruturada. Muitos produtores ainda carecem de inovações e, por consequência, seu serviço acaba sofrendo ainda mais com a atual logística. Os processos continuam sendo realizados como são feitos há décadas, e não há nenhuma perspectiva de mudança.
O papel do produtor não pode estar restrito apenas em cobrar uma legislação mais rígida e um processo legal menos burocrático na logística no transporte de sua safra. Hoje, é possível investir em softwares que ajudam no planejamento das rotas, por exemplo, ou drones para auxiliarem na logística. São desafios que precisam ser superados.
4- Distância entre rotas
O Brasil possui um tamanho continental e, devido à grande distância, parte das safras acaba perdida no transporte. Pontos de escoamento costumam ficar longe dos produtores, causando mais custos. E a dependência rodoviária impossibilita que o produtor tenha alternativas mais rápidas de transporte.
Quando existe um problema na programação logística, o resultado pode ser desastroso. O produto pode ficar muito tempo exposto à condições de temperatura não adequadas e passar do prazo de validade. Em situações como essa, o agricultor se vê obrigado a se desfazer de parte da produção que se estragou justamente por culpa de problemas que ocorreram já fora de sua propriedade, ou seja, durante o processo de escoamento da safra.
As cargas vivas acabam sendo outro desafio dentro desse cenário. Elas estão mais propensas a ficar estressadas, o que resultaria em problemas de saúde. Gado sob condições estressantes pode perder o peso, o que compromete o lucro final dos produtores. Além disso, há o risco de os envolvidos serem multados por órgãos de vigilância.
Nos problemas apresentados acima, todos perdem: o produtor, por ter que se livrar de parte da produção; o consumidor, que enfrenta a escassez e a inflação; e o Estado, que não arrecada com a produção.
5- Altos custos
A maior dificuldade se concentra na manutenção da estrutura de uma forma geral. Em outras palavras, o custo é alto em todo o processo de trabalho. Dos fertilizantes importados aos valores gastos com manutenção de veículos, o produtor enfrenta desafios e dificuldades para redução de custos.
Além disso, como a venda dos produtos é feita por temporadas, o agricultor encontra muitos competidores. Quando há mais ofertas disponíveis no mercado, ocorre queda no preço de venda. Se isso beneficia o consumidor, para quem produz fica a sensação de que todo o trabalho pouco valeu a pena.
O resultado é um agronegócio que produz muito, mas tem pouco lucro. Com o retorno abaixo do esperado, os produtores não têm condições financeiras para investir em infraestrutura de depósitos, como por exemplo silos, o que facilitaria a estocagem até o melhor momento da venda. Isso só é implementado aos poucos. E mesmo o Estado acaba perdendo, pois a arrecadação cai e as exportações ficam comprometidas.
Desafios e soluções
Esses 5 problemas apontados acima continuarão a ser desafios para os próximos anos, mas todos eles são contornáveis. A finalização de obras ferroviárias e um planejamento adequado para transporte de cargas, por exemplo, diminuiriam a dependência do modal rodoviário. Assim, o problema da distância entre pontos também estaria resolvida.
Além disso, um investimento em infraestrutura para armazenamento tiraria a dependência dos caminhões que enfrentam congestionamento da estrada ao porto.
O produtor e as empresas logísticas, por outro lado, precisam ter uma gestão eficiente do caixa para realizar investimentos estratégicos. O uso da tecnologia deve ser prioridade para termos a redução de custos e eficiência no transporte.
A melhora desses fatores irá reduzir drasticamente o alto custo da produção agrícola no Brasil, o nosso problema mais significativo.
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