A produção de lúpulo no Brasil, em escala comercial, pode se tornar realidade. Pelo menos esse é o esforço de pesquisas que buscam encontrar as melhores variedades para plantio em solo brasileiro.
O motivo é um só: o lúpulo é um dos principais ingredientes na fabricação da cerveja, uma das bebidas preferidas dos brasileiros. O lúpulo garante um aroma e sabor bastante característicos dessa bebida.
Todavia, as fábricas brasileiras têm que importar quase toda essa matéria-prima já que a produção no Brasil é bem rara. São poucas iniciativas que estão se mostrando eficazes, principalmente no Sul do país.
Neste artigo, vamos mostrar o motivo do cultivo do lúpulo ser tão difícil em nosso país e também quais são as perspectivas, com as pesquisas que estão sendo realizadas. Acompanhem!
Afinal, o que é o lúpulo?
O lúpulo é o nome popular da planta Humulus lupulus, considerada medicinal e também conhecida como engatadeira, pé-de-galo ou vinha-do-norte. Essa planta pode ser usada na preparação de remédios caseiros no tratamento de distúrbios do sono, por exemplo.
Mas, é conhecida mesmo como um dos ingredientes na fabricação de cerveja. Ela dá o amargor residual característico de qualquer cerveja. Hoje, garante o sucesso dessa produção.
A produção de lúpulo no Brasil
Como é uma planta que nasceu e se desenvolveu em países de clima mais frio, por muito tempo a única maneira de se obter lúpulo na produção de cerveja no Brasil foi através da importação de grande quantidade dessa planta.
Levantamento realizado pela Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo) apontou que, apenas em 2019, o Brasil importou 3.600 mil toneladas de lúpulo.
A realidade é que, embora o Brasil seja o terceiro maior produtor e consumidor mundial de cerveja, 99% do seu lúpulo é importado. Dessa forma, coloca a produção totalmente dependente de suas importações.
A primeira tentativa de plantio em solo brasileiro teria ocorrido em 1869, com mudas de lúpulo trazidas ao Paraná, por imigrantes da Polônia. Eles cultivavam esta espécie de maneira domiciliar e, assim, dar origem às suas próprias cervejas.
Apenas em 1885, houve o primeiro documento técnico que comprovou o seu plantio em nosso país. A Revista Agrícola do Rio de Janeiro publicou um artigo descrevendo como esta cultura acontecia na região.
Após mais de 60 anos, em 1953, o Rio Grande do Sul começava a dar seus primeiros passos nessa atividade agrícola, com a influência dos alemães.
Como se pode ver, a mais recente expansão do lúpulo pelo país se deu há poucas gerações e, desde então, quase nada mudou.
Incentivo à produção
Com o propósito de incentivar o cultivo, em 2018, a Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo começou a incentivar este tipo de produção em terras brasileiras. A entidade teve apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Contudo, as transformações verdadeiras em prol deste mercado começariam a surgir apenas em 2020. Isso provocou uma completa mudança na forma como esta produção vinha ocorrendo.
De olho no mercado brasileiro, uma família de agricultores brasileiros aposta na produção do lúpulo. Confira no vídeo abaixo:
Os problemas da produção lúpulo no Brasil
Por ser um projeto muito complexo, o plantio de lúpulo no país tem esbarrado em inúmeras dificuldades por parte dos agricultores e cervejeiros, especialmente pelos problemas climáticos enfrentados pelo Brasil.
Afinal, por ser um país tropical e com altas temperaturas, estas condições acabam não favorecendo o processo de produção. É que o lúpulo precisa de um clima frio, seco e de grande altitude, características difíceis de serem encontradas por aqui.
Ademais, também é importante que o ingrediente esteja sob a luz do dia por um período que varie de 13 a 15 horas visando obter uma boa produtividade.
Este fator também representaria um problema. É que o sol tende a nascer às 6h e se pôr próximo às 18h no Brasil, totalizando uma janela de apenas 12 horas, abaixo do ideal.
As expectativas para a produção do lúpulo
Atualmente, a região Sul do país tem elaborado estratégias e metodologias que podem ser revolucionárias no cultivo de lúpulo, principalmente porque este costuma ser um ambiente com um clima mais similar ao europeu, facilitando o processo e se assemelhando ao que seria esperado.
Dessa maneira, uma pesquisa inovadora surgiu no Paraná em 2014, verificando a possibilidade de implementar esta cadeira produtiva no Brasil.
Aliás, um projeto elaborado por uma empresa que atua em pesquisas científicas na área farmacêutica e agropecuária, visando a viabilidade deste cultivo no país, apontou o Paraná como um estado com grande potencial para ser um desenvolvedor.
Mas, o projeto não seguiu adiante. Somente em 2020, surgiu um novo trabalho, numa parceria entre o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Nesse sentido, ambas as instituições têm como meta realizar um processo de melhora na genética do lúpulo. O objetivo é que ele possa crescer no centro-sul do estado.
Os primeiros resultados, inclusive, já foram encontrados. Apontaram que, de fato, existe uma viabilidade. Com os acompanhamentos adequados, a produção pode deixar de ser uma utopia para se transformar em uma realidade.
Esforço nas pesquisas
Portanto, agora é necessário aumentar a escala de produção de lúpulo no Brasil visando poder atender às cervejarias durante o ano todo. As barreiras a serem vencidas são a colheita e o beneficiamento das flores de lúpulo.
A colheita precisa ser feita com o uso de máquinas específicas chamadas de peladoras. Elas transformam a flor do lúpulo em grânulos compactados. Esse processo é encarado como uma arte, onde os mínimos detalhes fazem toda diferença.
Os produtores contam com apoio das Universidades brasileiras. Essas instituições implantaram campos de pesquisa de lúpulo. Investidores começaram também a apoiar as pesquisas e na produção.
Por um motivo bem relevante: o lúpulo é uma cultura com alto valor agregado e que, como citamos anteriormente, hoje é totalmente importada de outros países.
Portanto, procuramos esclarecer os motivos da produção brasileira de lúpulo ainda estar “engatinhando”, levando-se em conta a grande demanda pelo produto por parte das fábricas de cerveja.
A torcida é para que os pesquisadores continuem nessa tarefa de identificar as melhores variedades a serem plantadas no Brasil.
Produção em expansão
A doutora, pesquisadora e agrônoma, Mariana Mendes Fagherazzi, é autora da primeira tese a abordar especificamente o cultivo da planta no Brasil. Segundo ela, a produção está em expansão, graças ao grande interesse do movimento cervejeiro.
“O setor tem sido impulsionado por empresas da iniciativa privada, entidades públicas, como por exemplo, os trabalhos que estão sendo desenvolvidos pela Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV/Udesc), que é pioneira em pesquisa sobre o cultivo do lúpulo no Brasil, sendo um centro gerador de conhecimento e propiciando a expansão do cultivo no país. Com isto, produtores estão com respaldo para produzir e a cadeia de produção está sendo estruturada“, afirmou Mariana.
Dessa maneira, se tornar em mais uma rentável atividade agrícola, como é atualmente com a soja e o milho que geram divisas ao país pelas exportações.
Você sabia que a tecnologia predomina na terceira onda de inovações para melhorar a produção agrícola? Confira nosso artigo sobre este assunto!