O cajá é um fruto de sabor característico encontrado tradicionalmente nas regiões Norte e Nordeste, podendo ser consumido tanto in natura como em forma de doces, sucos, sorvetes e geleias de excelente sabor e qualidade nutritiva. Além disso, a fruta é fonte das vitaminas A, B e C, fibras, taninos, flavonoides e carotenoides, que proporcionam diversos benefícios ao organismo.
Ficou interessado em conhecer mais sobre essa fruta? Confira no post um pouco sobre a história do cajá, como plantá-lo e cultivá-lo, bem como seus benefícios à saúde. Boa leitura!
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Origem e taxonomia do cajá
Com uma casca lisa e fina, de cor alaranjada ou vermelha, muito aromático e de polpa suculenta, o cajá (Spondias mombin L.) é um fruto extraído da cajazeira, uma árvore frutífera tropical que recebe diferentes nomes de acordo com a região do Brasil, como taperebá e cajá-mirim.
A planta pertence à família das Anacardiáceas, da qual também fazem parte a manga e o caju, por exemplo. Ela é nativa da América Tropical, isto é, desde as terras baixas do México, da América Central e do Sul, muito comum em florestas úmidas, do Sul do México até o Peru, passando também pelo Brasil.
Os primeiros relatos dos historiadores são de que o cajá é cultivado desde o século XVI. Quando os primeiros europeus chegaram às terras da Amazônia, a cajazeira já era cultivada pelos indígenas e se encontrava em estado semidomesticado.
Conforme citamos no início do texto, o cajá é uma fruta tradicionalmente encontrada Norte e Nordeste, com destaque para a Bahia, que também utiliza a cajazeira para o sombreamento das plantações de cacau. Já nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul também encontra-se produção de cajá, porém em pequena escala.
O destaque da utilização do fruto se dá na indústria de processamento de polpas, embora seja bastante comercializada também em feiras livres.
Características da cajazeira
Agora que você já sabe a origem desse fruto, vamos falar um pouco sobre as características da cajazeira.
Trata-se de uma planta perene de tronco ereto, com até 2 metros de circunferência, casca acinzentada, rugosa e grossa, que apresenta folhas caducas e copa ramificada na parte terminal. É a árvore mais alta do gênero Spondias, chegando a alcançar 30 metros de altura, e 8 a 24 metros de diâmetro de copa.
Suas folhas são compostas, de ápice agudo e base arredondada, com 5 a 11 pares de folíolos opostos ou alternos, e apresentam 5 a 11 cm de largura e 2 a 5 cm de comprimento. O pecíolo é curto (5 cm) e suas flores, dispostas em inflorescências do tipo panículas terminais piramidais, têm 20 a 60 cm de comprimento.
Quanto às inflorescências, apresentam flores unissexuais e hermafroditas na mesma planta, receptáculo arredondado, cinco sépalas e cinco pétalas. O número de flores por panícula é variável, podendo atingir mais de 2 mil, mas apenas dez destas, aproximadamente, alcançam a maturação.
Já o fruto, classificado como drupa e como nuculânio, apresenta mesocarpo carnoso, amarelo e sabor agridoce. O seu formato é ovoide, achatado na base, com coloração amarela a alaranjada, casca dura e lisa e polpa espessa.
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Condições ideais para o cultivo da cajazeira
Antes de abordarmos o plantio e cultivo da cajazeira propriamente ditos, vamos tratar sobre as condições ideais para o bom desenvolvimento e crescimento da espécie.
A planta se adapta muito bem ao clima quente, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, apresentando resistência a longos períodos de seca, apesar de não ser xerófila. Essa resistência ocorre principalmente pelo fato de a cajazeira acumular fotoassimilados e reservas nutritivas no seu caule e raízes.
Nas regiões em que a planta apresenta bom desenvolvimento, como é o caso do Brejo Paraibano, a altitude oscila entre 10 a 618 metros e a temperatura de 23 e 24,5°C. Quanto à precipitação, a média é de 1400 mm ao ano, com concentração no intervalo de março a agosto e escassez em 5 meses por ano.
No Ceará, outo estado com grande concentração de cajazeiras, a sua ocorrência se dá principalmente em regiões com precipitação média anual superior a 1100 mm, ou seja, em zonas litorâneas. Já na região Sul da Bahia, a maior presença da planta se dá em solos férteis, profundos e ricos em matéria orgânica, principalmente em consórcio com cacaueiros, ou até mesmo em solos de baixa fertilidade.
Quanto à temperatura média na região baiana, esta fica em torno 24ºC, com umidade relativa acima de 80% e precipitação de 1500 a 1800 mm, bem distribuídos durante ano.
Como plantar cajá
A propagação da cajazeira pode ocorrer tanto pelo método sexual (por sementes), quanto pelo método assexual ou vegetativo, por meio da estaquia do caule ou raiz e por enxertia.
Na propagação sexual, utiliza-se o endocarpo para a formação da muda, propiciando a variabilidade genética e fase juvenil longa nas progênies resultantes. Esse método é utilizado para melhoramento genético, mas não é aconselhado para a implantação de pomares comerciais.
Já a propagação via vegetativa é a mais utilizada nas frutíferas perenes, principalmente nas de polinização cruzada. As vantagens desse método são: transmissão do patrimônio genético da planta, redução da juvenilidade e do porte das plantas.
Para o plantio de mudas clonadas, recomenda-se que sejam vigorosas e apresentem de 6 a 8 folhas desenvolvidas. As covas devem ter dimensões de 40 cm x 40 cm x 40 cm e serem previamente adubadas com esterco curtido ou composto orgânico e 200 g de superfosfato triplo.
Já o espaçamento entre plantas, recomenda-se que sejam de 10 m x 10 m ou 9 m x 9 m, em sistema quadrangular, devido ao alto porte da planta. Esses espaçamentos podem ser modificados caso o plantio se dê em consórcio com outras plantas, como são os casos do cacaueiro e do cupuaçuzeiro, que suportam sombreamento.
Quanto aos tratos culturais da planta, não há informações muito aprofundadas na literatura. Por isso, recomenda-se que sejam adaptadas as tecnologias utilizadas em outros cultivos perenes, como da mangueira e do cajueiro.
Início da produção e colheita
Na cajazeira, o período entre a fecundação e o amadurecimento do fruto é de cerca de 4 a 5 meses. Já a época de colheita varia de acordo com o estado em que é cultivada. Na Paraíba, ocorre entre os meses de maio a julho; no Sul da Bahia, de março a maio; e no Ceará, de janeiro a maio. No entanto, a época de produção nesses locais pode mudar de acordo com as alterações pluviométricas.
A colheita dos frutos da cajazeira é difícil de ser realizada, pois tratam-se de árvores muito altas que apresentam desuniformidade de maturação. Dessa forma, os frutos maduros tendem a ser colhidos no chão, pelo menos duas vezes ao dia, visando reduzir a perda de frutos que desprendem da planta e chocam-se com galhos e com o solo, sendo danificados.
Em razão disso e das condições de transporte dos frutos, estima-se que apenas 30% da produção seja aproveitada para o consumo humano. No entanto, de acordo com recente matéria publicada pela Embrapa, o uso de tecnologias proporcionadas pela empresa possibilitou que produtores nordestinos conseguissem otimizar a produção de cajá em até 5 vezes.
Dentre essas tecnologias estão as técnicas de adubação e irrigação adequadas e o uso de telados.
Em um dos experimentos, apoiado por um produtor e engenheiro agrônomo do Piauí, foram utilizados telados que possibilitaram a colheita de 100% da produção, evitando perdas que chegavam a representar cerca de 40%. O telado utilizado tinha 4,5 metros de largura por 100 metros de comprimento e foi posicionado entre as fileiras de plantas, suspenso e amarrado aos troncos das árvores.
Atualmente, não há registros oficiais de produção de cajá, bem como de sua exportação in natura e subprodutos.
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Pragas e doenças da cajazeira
As principais espécies componentes do gênero Spondias – cajá, cajararana, seriguela, umbu, umbuguela e umbu-cajá – são atingidas por pragas e doenças comuns.
Pragas
A mosca-das-frutas é a principal praga que provoca danos às frutíferas no Brasil e demais países da América do Sul (Argentina, Paraguai e Uruguai). Trata-se de um inseto que gera prejuízos econômicos mesmo em densidades populacionais baixas, especialmente durante a frutificação.
Um estudo realizado pela Embrapa Agroindústria Tropical durante o ensaio de avaliação de clones de Spondia constatou o ataque de saúvas no gênero Atta, mané-magro, bicho-pau e pulgão, todas pragas que causam danos econômicos, com necessidade de uso de controle químico.
Além disso, no Sul da Bahia e no Ceará observaram-se larvas que afetaram ramos de plantas jovens e ramos terminais de plantas adultas.
Doenças
Quanto às doenças, as principais enfermidades que atingem o gênero Spondias são:
- Resinose: caracteriza-se pelo aparecimento de cancros escuros e salientes na planta, podendo exibir rachaduras com abundante liberação de goma. A lesão pode chegar a circundar todo o diâmetro do caule/ramo, bloqueando os seus tecidos condutores e causando amarelecimento, murcha e seca de toda a planta (ou de ramos).Trata-se de uma doença de progressão lenta que pode levar a planta à morte caso não tratada. A sua detecção nos primeiros estádios de desenvolvimento facilita o controle da doença, que é feito por meio da eliminação dos tecidos necrosados com posterior aplicação de pasta fungicida nas lesões.
- Antracnose: trata-se de uma doença disseminada pelo Nordeste que causa lesões em folhas, inflorescências e frutos. O controle pode ser feito por meio de pulverizações semanais, com um dos seguintes fungicidas: chlrotalonil, oxicloreto de cobre e mancozeb.
- Verrugose: é, provavelmente, a doença mais importante e conhecida entre as Spondias, devido aos sintomas característicos que causa nos frutos. Quando a doença atinge os folíolos, mais frequentemente a sua parte superior, forma pontuações salientes, arredondadas, com coloração creme no centro e marrom nas margens, chegando a atingir até 10 mm de diâmetro. Nos frutos, apresentam as mesmas características, causando a deterioração daqueles mais jovens e depreciando o consumo dos maduros. Sugere-se pulverizações em intervalos de 15 a 21 dias, com oxicloreto de cobre a 0,25%.
- Cercosporiose: é a doença foliar mais comum das Spondias e causa severa queda de folíolos. No início, formam-se manchas arredondadas, pequenas e deprimidas de coloração marrom-clara, chegando a medir até 5 mm de diâmetro. Quando coalescem, cobrem grande área do limbo, causando amarelecimento e queda dos folíolos, surgindo sobre a superfície das lesões, frutificações do fungo em forma de pequenos pontos negros. Ainda não há métodos eficazes para o controle dessa enfermidade, mas pulverizações à base de cobre podem reduzir a sua incidência.
- Fitonematoides: as Spondias são muito suscetíveis aos nematoides-das-galhas. Esses parasitas atacam tanto as mudas quanto as plantas adultas, com diferentes graus de infestação. As plantas adultas não apresentam sintomas aéreos, sendo necessário o exame da rizosfera e das galhas para a comprovação da presença desse parasita. Já nas mudas, os sinais são visíveis, apresentando crescimento retardado e folíolos amarelados que caem, deixando a planta, muitas vezes, desnuda. Além disso, as galhas que se distribuem ao longo das raízes apodrecem em razão da invasão de fungos. A eliminação desses nematoides após detectada a contaminação em certa área do plantio torna-se muito difícil, sendo o controle preventivo a melhor solução.
Benefícios do cajá ao organismo
Conforme citamos no começo do post, essa exótica frutinha amarelada, típica das regiões mais quentes do país, possui um gosto peculiar, doce e levemente ácido. O cajá apresenta diversas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, já que é rica em fibras, vitamina C, taninos, flavonoides e carotenoides.
Confira mais alguns benefícios do cajá:
- Protege contra as doenças cardiovasculares: devido às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, protege o organismo dos radicais livres, prevenindo as doenças cardiovasculares;
- Combate a anemia: o cajá é rico em vitamina C, nutriente que auxilia na absorção de ferro dos alimentos, ajudando a prevenir problemas de anemia;
- Ajuda no emagrecimento: por possuir alto teor de fibras, prolonga a saciedade e diminui a vontade de comer;
- Melhora o funcionamento do intestino: por possuir boas quantidades de água, fibras e magnésio, nutriente que ajuda no funcionamento do intestino, previne prisões de ventre e ajuda na eliminação das fezes;
- Ajuda a conservar a saúde da pele: o cajá é uma fruta que combate a ação dos radicais livres na pele devido à presença de antioxidantes na sua composição;
- Previne o diabetes: a presença de fibras na sua composição diminui a velocidade de absorção do açúcar, ajudando a promover o equilíbrio dos níveis de insulina e glicose no sangue.
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Cerveja de cajá com potencial probiótico
Recentemente, pesquisadores do Centro de Pesquisa em Alimentos (Forc) da USP desenvolveram uma cerveja artesanal a base de cajá, visando o aumento de microrganismos benéficos na microbiota intestinal. Os probióticos são microrganismos vivos que se alojam no intestino e produzem efeitos positivos ao organismo. Nesse caso, a bactéria utilizada foi a Lacticaseibacillus paracasei F19.
Durante a pesquisa, foram realizadas quatro formulações da cerveja, todas utilizando os ingredientes básicos da bebida (água, malte, lúpulo e levedura). A primeira adicionou o probiótico e o suco de cajá; a segunda, o probiótico e o bagaço da fruta; a terceira, o probiótico, o suco e o bagaço combinados; e, por fim, somente o probiótico, funcionando como o grupo controle.
Essas formulações passaram pela análise de 117 voluntários que avaliaram o gosto da bebida (em uma escala de 1 a 9), a probabilidade de comprá-la (em uma escala de 1 a 5), bem como a sensação que o sabor do produto causava no paladar. A formulação feita a partir do suco de cajá foi a que se destacou, obtendo notas 7 e 4 nas avaliações supracitadas. Quanto ao sabor, os participantes aprovaram a acidez da cerveja, um diferencial potencializado pelo probiótico.
Tanto a fruta como o seu suco foram utilizados exclusivamente com o objetivo de conferir sabor à cerveja, resultando em uma bebida leve, refrescante e ácida, classificando-a na categoria Sour. Além do efeito probiótico, a bebida também apresenta menor teor alcoólico e valor energético em comparação às demais.
Esse estudo foi uma forma de incentivar o aproveitamento do cajá, já que geralmente extrai-se o seu suco e descarta-se o bagaço. Com a maior utilização dos seus subprodutos, a tendência é agregar valor ao fruto e fortalecer a sua cadeia de produção.
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