O feijão guandu, também conhecido como andu, além ser um alimento bastante consumido pela população de muitas regiões brasileiras, tornou-se também um grande aliado da agricultura e da pecuária.
Trata-se de uma leguminosa forrageira que apresenta um alto teor de proteína, por isso, é uma alternativa interessante na alimentação animal nas formas de banco de proteínas, feno, silagem, pastejo direto e grãos. Além disso, também é útil em rotação de culturas, como adubo verde e contribui também na recuperação de pastagens.
Dada sua importância, neste artigo vamos apresentar as características e origem do feijão guandu, seus usos agropecuários, bem como dicas de como cultivá-lo. Vamos lá?
Origem e principais características do feijão guandu
O guandu (Cajanus cajan) é uma planta pertencente à família Fabaceae e bastante disseminada em todas as regiões tropicais do mundo. Sua origem é controversa, sendo que alguns afirmam que se deu na África, outros na Ásia, ou ainda nas ilhas do Mar do Sul.
No Brasil, o feijão guandu foi introduzido pela rota de escravos que vinham da África, sendo distribuído e semi-naturalizado na região tropical. Atualmente essa leguminosa é plantada com frequência em toda a Região Central brasileira, podendo ser encontrada facilmente sobretudo nos quintais domésticos da maioria das cidades da região.
Trata-se de uma leguminosa arbustiva, anual ou semi-perene, de crescimento ereto que pode atingir até 3 metros de altura. Suas folhas são trifoliadas com folíolos lanceolados ou elípticos, de 4 a 10 cm de comprimento e 3 cm de largura, enquanto as vagens apresentam cor verde-marrom ou púrpuras e também verde salpicadas de marrom, de forma inflada, com cerca de 8 cm de comprimento e 1,4 cm de largura.
Já as suas sementes apresentam formato quase redondo, com 4 a 8 mm de diâmetro, cor esverdeada ou púrpura quando imaturas e, quando maduras, vão de branco, amarelo, castanho a preto. As vagens contém de 2 a 9 sementes, sendo bastante duras quando secas.
Existem duas divisões principais em que o guandu pode ser agrupado:
- Cajanus cajan var. bicolor DC: apresentam características como: porte alto, plantas perenes e tardias na produção de sementes, flores vermelhas ou com estrias púrpuras e vagens com quatro a cinco sementes;
- Cajanus cajan var. flavus DC: são plantas de porte baixo, produção precoce de sementes, flores de cor amarela, vagens de cor verde com duas a três sementes.
Por ser muito produtivo e bastante tolerante à estiagens, devido ao seu sistema radicular profundo, é uma excelente alternativa para a alimentação animal no Nordeste. Atualmente, essa planta é utilizada tanto para adubação verde, como consumo humano e forragem, sendo esse último o seu uso principal.
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Uso do feijão guandu na agricultura e pecuária
Essa espécie de feijão é muito popular porque, mesmo quando os grãos ainda estão verdes, já são muito consumidos, possuindo valor nutritivo superior ao da ervilha, por exemplo, com 21% de proteína. Já os grãos secos são preparados da mesma forma que o feijão ao consumo humano, além de apreciados por aves domésticas.
Além do consumo humano, o feijão guandu se tornou um importante aliado aos agricultores e pecuaristas brasileiros, pois é utilizado primordialmente na recuperação de áreas degradadas, como adubo verde e na alimentação dos animais – na forma de pasto e de cobertura – no período da seca, sendo uma alternativa de custo acessível, fácil manejo e bom retorno econômico.
Adubo verde
Dentre as importantes utilizações do feijão guandu está a de ser um excelente adubo verde devido a sua capacidade de produzir massa vegetal, ser um ótimo reciclador de nutrientes, bom produtor de grãos, grande fixador de nitrogênio e dotado de baixa relação de carbono/nitrogênio, ajustando-se bem à rotação de culturas.
Dessa forma, a leguminosa, ao ser incorporada ao solo, provê matéria orgânica rica em nitrogênio, ativa a biologia do solo, recicla nutrientes, acondiciona o solo para melhor desenvolvimento da planta, aumentando a capacidade produtiva do solo.
O guandu também é uma excelente fonte de proteína aos animais, fornecendo forragem de alto teor proteico em época de secas, momento em que se torna palatável aos animais (logo após o seu florescimento). Ao final da estação seca, os resíduos de guandu não consumidos pelos animais são roçados e depositados sobre a superfície das pastagens, funcionando como adubo verde e disponibilizando, segundo a Embrapa, mais de 200 kg/ha de nitrogênio às pastagens.
Já na época das águas, período em que o guandu está em fase vegetativa e apresenta baixa palatabilidade aos animais, estes consumirão preferencialmente as gramíneas, preservando a leguminosa e favorecendo a fixação de nitrogênio no solo.
Posteriormente, ele florescerá novamente e atingirá a fase reprodutiva, melhorando a aceitabilidade pelos animais, que passam a consumi-lo, principalmente vagens e folhas mais velhas. Como a leguminosa possui alta taxa de retenção de folhas em épocas secas e fornece alimento de alto teor proteico aos animais – entre 18% e 20% de proteína bruta – dispensa-se o uso de suplemento mineral proteinado.
O guandu persiste na área por aproximadamente 3 anos. Depois desse tempo, será necessário realizar um novo plantio, já que ao final desse período o número de plantas estará muito abaixo de 40 mil plantas/ha, considerado como estande mínimo. Dessa forma, para cada plantio de guandu, serão realizadas duas roçadas – que equivalem a 2 adubações verdes – e três anos de uso em pastejo.
Alimentação animal
Na alimentação animal, o guandu pode ser utilizado no pastejo direto, na produção de feno, silagem ou mesmo no consumo de grãos.
- Pastejo direto: o uso do guandu no pastejo direto depende do sistema de manejo da propriedade rural. Quando é cultivado em piquetes exclusivos ou consorciado com outras leguminosas trepadeiras, o pastejo não pode ocorrer por períodos diários muito extensos, pois pode causar danos à saúde animal devido ao excesso de proteínas. Já no cultivo em faixas alternadas com outras forrageiras, o pastejo pode ser feito de forma mais livre, já que os animais não se alimentarão apenas da leguminosa;
- Produção de feno: a época ideal de corte do guandu para a produção de feno é no início da floração. O feno de guandu apresenta alto teor de proteínas, qualidade nutricional e palatabilidade, assim como o da alfafa, mas com a vantagem de exigir custos de produção bem menores, já que consome menos insumos;
- Produção de silagem: o uso do guandu na produção de silagem não se dá isoladamente, devido à falta de carboidratos prontamente fermentáveis e ao alto poder tampão característico das leguminosas. Por isso, a silagem é feita da mistura de guandu com milho ou sorgo no momento de ensilar, utilizando a proporção de 20%, com o objetivo de incrementar o valor proteico da silagem e não prejudicar a fermentação;
- Consumo de grãos: os grãos de guandu apresentam elevado valor nutritivo e altor teor proteico, sendo que a maioria das raças bovinas pode consumir até 1,25 kg de grãos por dia.
Estudos relatam que o uso de guandu, consorciado ou como banco de proteínas, aumenta consideravelmente o desempenho animal. A Embrapa Pecuária Sudeste observou os seguintes resultados: aumento do ganho de peso individual, da lotação animal, do ganho de peso por unidade de área e redução do tempo para o abate de novilhas Nelore oriundas de pastagens de braquiária recuperadas pelo consórcio com guandu e submetidas ao pastejo contínuo.
Recuperação de pastagens
Certamente um dos principais problemas enfrentados pelos pecuaristas brasileiros é com relação à degradação das pastagens, uma vez que compromete a sustentabilidade dos sistemas de pastejo e pode ocasionar prejuízos econômicos, ambientais e sociais. O manejo inadequado da planta forrageira, a exaustão da fertilidade e a falta de conservação do solo são fatores que comprometem a produtividade em um período relativamente curto da sua implantação.
O plantio do feijão guandu em sobressemeadura, formando consórcio com outras gramíneas – especialmente pastagens de braquiária e colonião – é uma importante opção ao pecuarista para a recuperação de pastagens.
Recuperação de pastagens utilizando herbicida glifosato
Uma das soluções para pastagens degradadas que utilizam o consórcio com o feijão guandu foi proposta por Bonamigo em 1999, por meio da utilização do herbicida glifosato. O herbicida é usado em subdose visando diminuir o vigor da pastagem, e o plantio do guandu é feito logo em seguida ao manejo da gramínea degradada ou o quanto antes para aproveitar-se do estresse causado pelo herbicida.
A adubação, nesse caso, após realizada a análise do solo e seguindo a recomendação adequada, ocorrerá na linha do guandu para que haja a absorção antes da gramínea. Posteriormente, ele também será absorvido pelas raízes da gramínea, possibilitando que o consórcio tenha início de maneira correta e, consequentemente, tenha mais longevidade.
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Recuperação de pastagem para pastejo diferido
Outro método alternativo proposto pela Embrapa dispensa o uso do herbicida e utiliza roçada anual para o manejo do guandu, bem como adubação verde com o resto do material roçado.
Primeiro, é preciso realizar uma análise do solo para verificar a necessidade de correção. Caso necessário, deve ser realizada com calagem até atingir 70% da saturação, tomando por base o período de maio até agosto. Já no período chuvoso, quando constatada a necessidade, faça a roçada da área para que a pastagem fique com 10 cm de altura aproximadamente.
Em seguida, o guandu deve ser semeado em plantio direto, utilizando a adubação recomendada na análise de solo, sem necessidade de adubação nitrogenada. É recomendado o tratamento das sementes com inoculante Bradyrhizobium sp (Cajanus) antes do plantio, especialmente se for a primeiro cultivo da cultura na área.
O plantio do guandu deve ser realizado no período das águas – do início da estação até a primeira quinzena de janeiro – a uma profundidade de 2 a 5 cm, com espaçamento de 70 a 80 cm entre linhas e população de plantas de 62,5 a 75 mil plantas/ha.
Com 30 dias da implantação do guandu, a pastagem começa a apresentar sinais de recuperação devido à disponibilidade de nitrogênio proporcionada. Após cerca de 65 a 80 dias, a área já poderá ser utilizada para primeiro pastejo.
Consorciação de cultivos
Além do plantio em consórcio com forrageiras, outra prática bastante comum é o plantio do feijão guandu e milho ou sorgo na mesma linha, com o objetivo do corte conjunto para silagem ou incorporação ao solo dos restos de gramíneas e leguminosas.
Também são bastante conhecidos, além de viáveis no Brasil, os sistemas de plantio consorciado em fileiras alternadas com arroz, e em faixas para colheita mecanizada do arroz sequeiro.
Confira alguns resultados promissores de plantio de guandu em consórcio com gramíneas no vídeo abaixo:
Condições de cultivo do guandu
O guandu é cultivado desde a região tropical até a subtropical e apresenta as seguintes condições ideais para o seu cultivo:
- Temperatura: a faixa de temperatura para o bom desenvolvimento do guandu é entre 20 e 40ºC durante seu ciclo, suportando geadas leves. As perdas ocorrem a partir de -3,3ºC, e a -4,4ºC a planta pode ser levada a morte;
- Precipitação: de 500 mm até 1.500 mm anuais;
- Condições de solo: apreciam solos bem drenados e profundos, mas germinam também em solos argilosos pesados. O guandu desenvolve-se em solos com pH de 5 a 8, mas apresenta melhor desempenho em solos aproximadamente neutros.
Preparo do solo
Para o plantio, é necessário que o solo seja preparado com aração e gradagem (maneira convencional) ou apenas escarificado quando o plantio for direto.
O guandu é exigente em nutrientes para o seu desenvolvimento, com necessidade de suprimento de fósforo, cálcio, magnésio, potássio, enxofre e micronutrientes, como zinco e cobre. No que tange à adubação nitrogenada, não há necessidade de sua realização, já que o guandu apresenta nódulos em suas raízes que contêm bactérias do gênero Rhizobium, que fixam simbioticamente o nitrogênio atmosférico.
Quanto à correção da acidez e adubação, estas devem ser realizadas de acordo a análise do solo e com as recomendações para cada região.
Época de plantio e espaçamento
A leguminosa deve ser semeada entre novembro e dezembro, durante o período chuvoso, com espaçamento e quantidade de sementes a serem definidas a depender do uso a que se destinará o plantio:
- Formação de legumineiras: nesse caso, o espaçamento empregado é de 2 a 3 metros entre linhas, com 6 sementes por metro linear, utilizando-se 4,5 kg sementes/ha;
- Plantios densos: nos plantios mais densos, não recomendados para o pastejo direto em função da dificuldade de circulação de animais, emprega-se 1,5 metro entre linhas e 6 sementes por metro linear, utilizando-se 8 a 10 kg de sementes/ha.
Tratos culturais
Entre os tratos culturais, é recomendado fazer uma capina entre 4 e 8 semanas após o plantio, e em 60 dias, já estará cobrindo toda a área e, dessa maneira, não haverá mais necessidade de combater plantas daninhas.
De acordo com a Embrapa, o ataque de pragas não são comuns, com exceção de uma cigarrinha (Aethalion reticulatus) nociva a várias espécies vegetais, quando a planta já se encontra desenvolvida; e insetos semelhantes ao gorgulho do feijão, que perfuram as sementes maduras, identificados como Acanthoscelides octectus.
No entanto, o produtor deve ficar atento ao ataque da formiga cortadeira, praga causadora de maiores danos ao guandu, já que destrói a planta em sua fase inicial. Para combatê-la é necessário um combate prévio antes do plantio da leguminosa.
Já no que tange às doenças, tem-se observado o ataque do fungo Fusarium spp., comumente encontrado nos solos e que causa a morte das plantas adultas.
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